A Metade Sombria é do autor Stephen King e foi relançado em 2019 pela Suma.

Sobre o livro

O escritor Thad Beaumont leva uma vida tranquila com a esposa e os filhos gêmeos na cidade de Castle Rock. Seus livros não fazem tanto sucesso e ele ainda busca uma forma de ser um escritor reconhecido. No entanto, George Stark é o seu oposto. Seus livros sangrentos e com personagens violentos são muito apreciados pelos leitores. Um é o oposto do outro, a metade boa e a má. Por isso, uma certa revelação abala diversas pessoas: os dois são a mesma pessoa.

Em meio a um turbilhão de entrevistas, matérias e comentários acerca dessa revelação, veremos Thad lidando com a dificuldade de explicar quem ele é. Movido por uma necessidade de livrar-se de Stark, ele acaba o enterrando – literalmente. Com uma cerimônia em uma cemitério, uma lápide falsa e muitas fotos, ele simboliza a morte de seu pseudônimo. E seu túmulo tem até uma inscrição: um cara não muito legal.

“A ideia de usar um pseudônimo tinha uma atração curiosa. Parecia uma espécie de liberdade – uma espécie de rota de fuga secreta, se é que você me entende.”

Ao voltar a escrever com o seu próprio nome, ele enfrentará dificuldades de concentração e criatividade. Em meio a esses bloqueios, estranhos assassinatos começarão a acontecer. Todos envolvendo pessoas que são suas conhecidas e o pior, todos os indícios levam a crer que Thad é o culpado por eles. Enquanto a polícia investiga todas as pistas, o próprio Thad irá atrás de respostas e a única certeza que ele tem é: Stark deu um jeito de voltar e está atrás dele.


Minha opinião

Há muito tempo eu desejava este livro. Não apenas por ser uma fã do King, mas por essa trama lembrar a sua própria história. Por um tempo, o próprio Stephen escreveu com um pseudônimo: Richard Bachmann. Segundo explicado pelo autor, ele criou Bachmann com o intuito de fazer uma experiência, ele queria descobrir se as pessoas compravam seus livros por eles serem realmente bons ou se seu nome influenciava na compra. Ele não desejava ser descoberto por ninguém, mas foi desmascarado por um livreiro que achou a escrita dos dois muito parecida e ao ir atrás de respostas descobriu que os dois eram a mesma pessoa. King também “matou” seu pseudônimo, mas no seu caso ele disse que ele morreu de “câncer de pseudônimo”.

Semelhanças à parte, eu vejo que essa história reflete muitos elementos que fizeram parte da vida de King. Aqui Thad é retratado como um bom pai, esposo presente, professor e escritor que está passando por alguns problemas com sua escrita. Quando ele encarna Stark seus livros são violentos, sombrios e mostram o pior lado de uma pessoa, lembrando muito os livros do próprio King. Quando ele escreve com seu nome, seus livros são totalmente diferentes. É quase como duas pessoas diferentes. Me pergunto até quando isso foi tirado do próprio King. Será que ele considera ter duas metades? Uma boa e outra má? Ele tem o seu próprio Stark? Refleti bastante com a história que encontrei aqui.

Toda a trama já começa com revelações sobre a infância de Thad, as quais não darei spoiler, pois acredito que o próprio leitor precisa descobrir quando começar o livro. Elas farão muito sentido durante a narrativa e não serei eu a estragar essa surpresa. A história evoluiu de uma maneira meio lenta para mim. Fiquei esperando o momento do ápice que só se revelou mais para o final e que acabou sendo resolvido em poucas páginas. A ideia é muito boa, mas as explicações de como essa ideia ocorreu não foram tão satisfatórias. Ressalto que nada disso estraga a riqueza de detalhes da história, as relações criadas entre os personagens e a originalidade da trama.

“Quando ele começava a escrever, muitas vezes era assim: um exercício seco e estéril. Não, era pior que isso. Começar sempre parecia meio obsceno, como beijar de língua um cadáver.”

Stark é tudo aquilo que abominamos em uma pessoa. Ele é realmente mau. Sentimos isso da forma como ele mudou a vida de Thad quando ele escrevia seus livros. Mas será que Stark não representa um pouquinho do próprio Thad? Afinal, ele criou toda uma história para ele. E querendo ou não, ele acaba sendo uma parte de Thad também. Isso que gera mais problemas. Um sabe o próximo passo do outro, os seus pensamentos, quais os seus medos e anseios.

Além de achar essa história sensacional por todo o seu desenvolvimento, amo saber que ela retrata algo que foi passado pelo King também. Além disso, aqui temos mais um escritor. Quem está acostumado a ler os livros do King, já viu diversos deles nas suas obras. Eles estão sempre presentes. Acredito que em cada um desses escritores, King coloca um pouco de si. Sempre temos algo que remete a um escritor atormentado pelos seus próprios demônios. Todos possuem seus próprios problemas que nos levam a questionar até quando isso é real ou totalmente ficção.

“Mas escritores CONVIDAM fantasmas, talvez; junto com atores e artistas, eles são os únicos médiuns totalmente aceitos na nossa sociedade. Eles criam mundos que nunca existiram, populados por pessoas que nunca existiram e depois nos convidam para nos juntarmos a eles nas fantasias. E nós vamos, não vamos? Sim. Nós PAGAMOS para isso.”

Nessa história também senti uma espécie de crítica ao meio literário, trazendo diversas certezas e medos dos próprios escritores. Apresentando o quanto essa arte é extremamente complexa e, por diversas vezes, pouco valorizada. É uma história boa de maneira geral, que te envolve e faz refletir. Já esperamos o que irá acontecer, mas ficamos no aguardo do grande momento. Temos o pior vilão que já existiu tomando forma e indo atrás de vinganças. E temos, também, um trabalho de edição impecável, com uma belíssima capa e um excelente conteúdo extra. Mais uma excelente trabalho para compor a Biblioteca King. Edição indispensável para os fãs do mestre.

A METADE SOMBRIA

Autor: Stephen King

Tradução: Regiane Winarski

Editora: Suma

Ano de publicação: 2019

Criar George Stark foi fácil. Se livrar dele, nem tanto. Há anos, Thad Beaumont vem escrevendo, sob o pseudônimo George Stark, thrillers violentos que pagam as contas da família, mas não são considerados “livros sérios” pelo escritor. Quando um jornalista ameaça expor o segredo, Thad decide abrir o jogo primeiro, e dá um fim público ao pseudônimo. Beaumont volta a escrever sob o próprio nome, e seu alter ego ameaçador está definitivamente enterrado. Tudo vai bem. Até que uma série de assassinatos tem início, e todas as pistas apontam para Thad. Ele gostaria de poder dizer que é inocente, que não participou dos atos monstruosos acontecendo ao seu redor. Mas a verdade é que George Stark não ficou feliz de ser dispensado tão facilmente, e está de volta para perseguir os responsáveis por sua morte.

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