Publicado pela primeira vez em 1886, A Morte de Ivan Ilitch é uma novela de Liev Tolstói que no Brasil ganhou diferentes edições, uma delas pela editora L&PM Pocket em 2010.

Sobre o Livro

Em uma narrativa curta, A Morte de Ivan Ilitch tem em seu título a premissa base de sua trama: Ivan Ilitch, um funcionário renomado e estabilizado no serviço público de sua cidade, morreu. Em tese, Ivan cumpriu com tudo que era esperado socialmente dele: estudou e trabalhou muito até conquistar uma posição confortável no tribunal, tem relações sociais satisfatórias com pessoas de influência no país, casou-se e teve filhos igualmente saudáveis e vive com a família em um apartamento muito bem decorado. Contudo, o que todos os cumprimentos de normas e expectativas sociais significa quando a vida de alguém chega ao fim?

“A história da vida de Ivan Ilitch foi das mais simples, das mais comuns e portanto das mais terríveis”

Sem amigos, frio com a família que por consequência é igualmente distante com ele e falecendo de forma lenta enquanto é atormentado por uma doença que desenvolveu após um acidente doméstico aparentemente comum, Ivan Ilitch passará seus últimos momentos refletindo sobre o que significa todos os seus feitos diante da perspectiva do fim da existência: tudo o que ele conquistou foi realmente porque queria? Quando foi a última vez que ele se sentiu de fato feliz?

Vivendo com tanta dor, não valeria a pena morrer logo de uma vez? Ou ele tem mais medo do fim do que dos sintomas dolorosos que levam seu corpo até a morte? E, principalmente, agora que ele já não tem mais chances de voltar, o que ele queria ter feito de diferente para evitar o arrependimento constante que o consome?


Minha Opinião

A Morte de Ivan Ilitch foi um livro um pouco diferente do que eu esperava quando comecei a leitura. A premissa é bem básica, o próprio título a anuncia e por ser um clássico da literatura mundial é praticamente impossível não saber como a história funciona. Ainda assim o livro foi uma surpresa bastante instigante: mais do que acompanhar a morte de Ivan Ilitch passo a parte desde sua partida até os detalhes de como sua dolorosa passagem se deu, a novela de Tolstói apresenta ao leitor um conjunto de reflexões sobre as nossas próprias vidas e a nossa perspectiva de que a morte um dia também chegará para a gente.

Com um teor bastante introspectivo, acompanhamos nos pensamentos do futuro morto cada reflexão desde a sua infância até a juventude, como cada decisão que ele tomou foi pensando no que serviria melhor ao enquadro social esperado dele e como, no fim da vida, isso o consome em ciclos cruéis de arrependimento por algo que ele nunca viveu e nem poderá viver, pois está morrendo. Sem tempo para tentar se conectar melhor com os filhos, sem oportunidade de voltar no passado da fase mais feliz de sua vida e vivendo o tormento doloroso de uma morte lenta e limitante, não há como não se contorcer enquanto lemos os pensamentos e as dores de Ivan Ilitch na lenta passagem de sua finitude.

“Por que tem de ser assim? Não pode ser que a vida seja tão detestável e sem sentido. E se é realmente tão detestável e sem sentido, por que então devo morrer e morrer nessa agonia?”

Diversas ideias são originadas durante a leitura: a perspectiva da dignidade da morte, como morrer de forma confortável e o que pessoas que não podem ter isso enfrentam de doloroso mesmo em seus momentos finais, a solidão do enfermo diante das suas próprias reflexões e medos e como a morte ser um tabu social tão grande faz com que a pessoa doente se sinta solitária dentro da própria cabeça, uma vez que a família nem considera levar uma conversa a sério sobre essa possibilidade.

Além disso, temáticas como a difícil convivência com alguém doente pode gerar incomodo e culpa em ambos os lados dessa corda, vemos também no livro a perspectiva da morte como algo que pode chegar para nós de forma inesperada, provando que não dá para escapar dela enquanto formos vivos e a consciência de que viver em prol do que os outros esperam pode ser uma fonte de arrependimentos que nem sempre se solucionam quando é tarde demais e o seu tempo se esgotou.

Por ser uma novela, A Morte de Ivan Ilitch poderia ser uma leitura rápida, mas o intenso fluxo de reflexões que cada capítulo gera faz com que tomemos mais tempo na hora de ler. É uma leitura com a qual se deve tomar cuidado caso o leitor esteja em algum momento emocional frágil ou mesmo passando pelo luto, ficando o alerta para testar primeiro seus limites antes de embarcar na leitura.

De todo modo, é uma recomendação de leitura daquelas que “todo mundo deveria ler um dia”, pois mesmo em pouca extensão, o livro consegue incomodar na medida certa e força o leitor a refletir acerca de si mesmo. Visando o incomodo e a indução a reflexão sobre a vida e a morte, a novela é a recomendação perfeita para quem tem interesse em começar a leitura de clássicos russos, além de ser uma excelente narrativa introspectiva.

A MORTE DE IVAN ILITCH

Autor: Liev Tolstói

Tradução: Vera Karam

Editora: L&PM Pocket

Ano de publicação: 2010

“Muitos críticos consideram ‘A morte de Ivan Ilitch’ como a novela mais perfeita da literatura mundial; a agonia de um burocrata insignificante serve de pretexto ao autor para nos contar uma história que diz respeito ao destino de cada um de nós e que é impossível ler sem um fręmito de angústia e de purificaçăo” Paulo Rónai

Relacionados

Destaques

Insta
gram

[jr_instagram id='3']

Parceiros