Arcane se tornou tudo que a Netflix poderia sonhar: a série de jogo que furou a bolha. E como não? Com um mundo fascinante, trama repleta de reviravoltas e um dos estilos de animação mais lindos que já vimos nas telinhas, a série tinha tudo pra dar certo, e deu. Ou até certo ponto. A coprodução com a Riot Games conta com Christian Linke como criador e showrunner, Pascal Charrue e Arnaud Delord como diretores, e Linke, Alex Yee, Connor Sheehy e Ash Brannon no roteiro.

Na história conhecemos um grande elenco de personagens encabeçados a princípio pelas irmãs Vi (Tatiane Keplmair) e Powder (Fernanda Bullara), órfãs adotadas por Vander (Armando Tiraboschi), um dono de bar que se torna referência na empobrecida e caótica comunidade de Zaun, Subferia de Piltover, a brilhante e utópica Cidade Alta. As regiões vivem em conflito, tanto ideológico quanto armado, e o tráfico de substâncias cada vez mais nocivas em Zaun ameaça pôr tudo a perder. Mas tudo realmente começa quando os amigos Viktor (André Rinaldi) e Jayce (Fernando Mendonça) iniciam uma série de pesquisas sobre uma tecnologia muito próxima da magia, chamada HexTech.
Falar qualquer coisa sobre a sinopse da segunda temporada seria um grande spoiler, então basta dizer que começamos em um cenário completamente diferente. A mudança de tom e atmosfera é incrivelmente bem-feita, porém, em termos de trama, me leva à minha primeira crítica: a série continua o primeiro episódio da segunda temporada imediatamente após o final dos acontecimentos da primeira, sem qualquer espaço para recontextualização ou relembrar o que já aconteceu. É muito difícil se localizar de novo em todos os arcos narrativos e conflitos, que só se expandem desde o início, então recomendo muito reassistir a primeira leva de episódios antes.
A verdade é a maior ilusão de todas.
Os pontos positivos não são poucos, mas o principal com certeza continua sendo os personagens, que saltam da tela de tão reais. É maravilhoso como o roteiro consegue trazer humanização a todos do elenco, e torna assistir eles sofrendo (porque, nossa, sofrimento é a palavra-chave aqui) realmente doloroso. O segundo aspecto que mais brilha é justamente o contraste desses personagens que sentimos que conhecemos tão bem com as maquinações políticas e segundas intenções que correm livremente o tempo todo. Os temas sociais sobre poder, dominação, vingança e família se tornam quase naturais com personagens tão complexos.

A parte técnica também merece todos os elogios. A montagem traz uma dinâmica muito interessante, e a segunda temporada trouxe uma experimentação com sequências apenas com trilha sonora que foram excelentes para compôr a história, além de serem espetaculares. Mas não é apenas nesses momentos em que percebemos que o estilo de animação faz parte do todo, contando uma história por si só.
No entanto, não posso deixar de comentar algumas decepções minhas. A primeira temporada entregou uma perfeição que seria difícil de igualar, mas que a segunda teria conseguido – se não tivesse tomado algumas decisões aparentemente desorganizadas. Eu pessoalmente não gosto quando os enredos de fantasia tomam proporções tão grandes – cósmicas, universais, interdimensionais – principalmente quando os arcos dos personagens e o estágio inicial dos acontecimentos já são fortes o suficientes por si só. E Arcane não apenas se enveredou para essa vertente, como parece que deu passos maiores que a perna: abre arcos demais, introduz magias e elementos novos demais, sem ter tempo de, se não explorá-los e explicá-los, ao menos amarrá-los. O resultado final é que a primeira temporada é mais fechada do que a conclusão da série em si, o que não pode deixar de afetar minha percepção geral.
Isso porque a conclusão do arco principal é impecável, de arrancar lágrimas de qualquer um. Mas acaba se perdendo um pouco em um final apressado e que não traz as consequências de tudo o que aconteceu. Recomendo demais a série, e com certeza merece todo os elogios que recebeu – mas infelizmente eu evitaria se você não gostar de finais abertos.


ARCANE 2ª TEMPORADA
Diretor: Christian Linke
Elenco: Tatiane Keplmair, Fernanda Bullara, André Rinaldi, Fernando Mendonça, Carina Eiras, Cadu Paschoal
Ano de lançamento: Ano
Baseada no jogo League of Legends, Arcane é uma animação original da Netflix que explora as histórias de origem dos personagens de Piltover e Zaun. A trama central envolve a tecnologia mágica conhecida como Hextec, capaz de conceder a qualquer pessoa o controle sobre energia mística. Essa descoberta, no entanto, desencadeia um desequilíbrio entre os reinos, alimentando tensões sociais e políticas.