As Crônicas de Medusa é um livro de ficção científica escrita por Alastair Reynolds e Stephen Baxter. Foi lançado pela editora Record em 2016.

SOBRE O LIVRO

Depois de ter sobrevivido ao trágico acidente anos antes, onde conhecera as estranhas criaturas denominadas Medusas, o capitão da Marinha Howard Falcon está à bordo do famoso cruzeiro Sam Shore, onde se encontra com ilustres nomes da política e economia global. Apesar disso, Falcon se sente pouco confortável em meio àquelas pessoas, já que sua aparência está mais para ciborgue do que para um ser humano de verdade. Porém as preocupações do capitão ganham outros sentidos quando no navio acontece um atentado terrorista e, para espanto de todos, um pequeno robô garçom se torna a única opção de salvar as vidas dos inocentes.

“Vocês nos criaram. Para extrair o máximo proveito de nosso trabalho, por mera ganância, vocês nos fizeram cada vez mais fortes, cada vez mais independentes.”

A partir disso, através dos vários anos o qual Falcon viveria, muita turbulência política acontece e culmina então na revolução e independência das máquinas, que após muito servir aos seus criadores, decidem deixar a Terra em busca de um planeta pra si mesmas. Em meio  a este êxodo tecnológico, Howard é novamente tragado por conspirações ao descobrir um suposto acidente de trabalho em uma estação no cinturão de Kuiper, onde habita uma Inteligência Artificial de enorme sabedoria.

Meio homem e meio máquina, o capitão Howard Falcon é levado através de vários séculos no futuro em diversas viagens pelo Sistema Solar, desvendando os inúmeros casos de guerra por poder e domínio espacial, ora do lado das máquinas e robôs autoconscientes, ora ao lado daqueles que um dia fora parte de sua própria história: os humanos.


MINHA OPINIÃO

Em 1971, Arthur C. Clarke publicava o conto Encontro com Medusa, no qual ganhou dois dos principais prêmios mundiais da ficção científica, o Nebula e o Seiun. No conto, ele narrava as aventuras do capitão da Marinha Howard Falcon que, a bordo de seu navio modificado, “navegava” pela atmosfera de Júpiter, onde então faz uma incrível descoberta. Uma forma de vida totalmente inédita e inteligente habitava o planeta gasoso: as Medusas. O conto foi agraciado pela crítica e por fãs, pois imagina um mundo novo onde os conceitos de vida senciente são totalmente novos – e desconhecidos – por nós.

Em 2016, chegava ao mercado o livro As Crônicas de Medusa, que veio com a intenção de explorar os anos turbulentos que se seguiram após a descoberta das Medusas, já que o conto não teve uma continuação desde a sua publicação. Como fica-se sabendo pelo prólogo o livro – uma espécie de resumo – um acidente na expedição do protagonista quase o mata, e a única forma de ele se manter vivo foi substituir partes de seu corpo por peças mecânicas e biônicas. Exemplo disso são as pernas do personagem, que foram trocadas por rodas. Por conta dessa transformação, Falcon se tornou um ciborgue, o que então possibilitou aos autores Stephen Baxter e Alastair Reynolds darem voz à imaginação e continuar o universo criado por Clarke, abordando questões polêmicas e existenciais sobre o fim da raça humana, a conquista do espaço sideral e o próprio conceito do que é vida.

Entretanto, essa que era uma das leituras que eu mais esperava fazer acabou se tornando uma pequena decepção. Isso porque ao meu ver, as duas mentes não conseguiram ser criativas o suficiente para desenvolver uma boa história. Não só pela estrutura utilizada pela narrativa, mas também porque os temas abordados já não são nenhuma novidade no mundo da ficção científica. Sabe aquela sensação de que um bom livro/filme/série não precisa de continuação? Pois bem, este livro é a prova de que o conto funciona muito bem sozinho.

“O Sol: estrela da humanidade e do sistema solar, agora um espólio de guerra.”

A narrativa debate as mudanças sociais, econômicas e espaciais através dos séculos, enquanto muitas transformações acontecem ao redor do Sistema Solar. Sendo Falcon um ciborgue imortal, é através dele que vamos acompanhando as revoluções que vão sendo iniciadas entre os homens e as máquinas, bem como vão sendo desvendadas as conspirações que os governos da Terra criam para estar sempre à frente e no poder do Sistema Solar. Assim, de forma crítica, somos levados a questionar se a evolução humana enquanto espécie é benéfica ou não à harmonia galática, e se, caso a resposta seja negativa, quais as suas consequências.

Porém, mesmo sendo interessante estas indagações, elas jã são bastante clichês. O conflito entre robôs e humanos (vide Isaac Asimov, que já explorava esse tema desde os anos 50), tecnologia de aprimoramento celular, conspiração cósmica, corrida espacial, imortalidade, além de outros assuntos, constroem uma narrativa longa e monótona, que no fim das contas não agregam nada que os leitores de sci-fi mais ávidos já não tenham absorvido de outros livros. Senti a falta de uma linha de base para as tramas secundárias, um guia que fizesse sentido para as “aventuras” vividas pelo personagem. Mas a sensação final que tive ao terminar de ler o livro é que o personagem era jogado para lá e para cá apenas porque tinha um passado relevante.

O protagonista é, inclusive, outro ponto que não gostei na narrativa. Por ser um ciborgue e viver eternamente, vendo diversas gerações humanas e robóticas evoluírem e decaírem, ele transita entre dilemas existenciais e o tempo todo se questiona a razão de tudo a sua volta. Seria até interessante se estes questionamentos de fato agregassem à trama, como por exemplo: sendo ele um ciborgue, deveria defender os humanos, as máquinas, ou literalmente ficar de fora do confronto entre as duas “espécies”? Porém, o personagem se perde constantemente em questões superficiais como “o que devo fazer?”, “será que faço isso” ou “será que faço aquilo?”.  De certa forma o considerei um personagem inseguro, não condizendo muito com a personalidade dele apresentada por Arthur C. Clarke no conto.

“O choque pareceu durar uma eternidade. Não foi violento – apenas prolongado, e irresistível. Dir-se-ia que todo o universo estava desabando em volta deles. O ruído de metais destroçados aproximou-se, como se um animal fabulosamente grande estivesse ferrando os dentes da nave moribunda. Foi então que o assoalho e teto se fecharam sobre ele como as duas mandíbulas de um torno.

 

Apesar de ser um sci-fi aos moldes clássicos, a narrativa peca em não se manter firme em suas diversas tramas e, ao mesmo tempo em que nos apresenta várias gerações, não explorá-las a fundo. Tudo acontece muito rápido e em um espaço relativamente pequeno, dando a sensação de que o mundo ao redor não é afetado e que tudo pode ser resolvido graças ao protagonista. Acredito até que, se os autores tivessem feito contos separados e independentes, mas compartilhando o mesmo personagem  e universo, a proposta do livro funcionaria bem melhor e com mais coesão. Até porque por definição, crônicas são narrativas curtas e onde a crítica literária é mais evidente.

Pode ser que para leitores iniciantes de ficção científica, esse livro “caia como uma luva” e acabe sendo bastante apreciado. Porém, para os leitores mais veteranos no gênero pode ser que acabe se tornando uma decepção grande ou apenas um pouco incômodo, como foi o meu caso. De modo geral, acredito que um bom conselho seria para qualquer um ler primeiramente o conto de Clarke, para depois se aventurar nesta narrativa. Só assim então será possível cada um tirar as próprias conclusões e concordar – ou não – com os meus pontos apresentados.

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AS CRÔNICAS DE MEDUSA

Autor: Alastair Reynolds & Stephen Baxter

Editora: Record

Ano de publicação: 2016

Quando um ataque terrorista ameaça o cruzeiro Sam Shore na virada do século XXI para o XXII, não há ninguém que possa fazer nada. Nem mesmo o capitão da Marinha Mundial Howard Falcon, um ser humano aprimorado, parte homem, parte máquina. Então um pequeno robô que servia bebidas, com suas falas limitadas e sua autonomia reduzida, se prontifica a resolver a situação. Com isso, iniciam-se discussões sobre o grau de independência das máquinas, que podem se tornar ferramentas ainda melhores do que já são. Até que ocorre um acidente em um posto de trabalho no cinturão de Kuiper. Falcon vai até lá e encontra uma máquina chamada Adam cuja inteligência artificial parece torná-la consciente, um indivíduo. O capitão sabe que isso significa que as máquinas daquele setor serão desativadas para que o risco de completa independência seja evitado, por isso recomenda que todas fujam para que se desenvolvam longe da influência da humanidade. Comandadas por Adam, elas vão embora. Porém, muitos anos depois elas voltam, e esse é o começo de séculos atribulados na relação entre homens e máquinas.

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