Publicado originalmente em 1973, As Meninas é um romance histórico da escritora Lygia Fagundes Telles, possuindo uma edição lançada pela editora Companhia das Letras. 

Sobre o Livro

Narrado por meio de fluxo de consciência, As Meninas acompanha a trajetória e os pensamentos de três estudantes: Ana Clara, uma jovem pobre que sonha no casamento como porta para ascensão social, mas que tem seu caminho traçado pelo vício em drogas; Lia, ativa militante contra a ditadura, que está em busca de libertar o namorado preso pelo regime; e Lorena, uma jovem rica que tenta superar os traumas do passado externalizando por meio do relacionamento que mantém com um homem casado

Juntas, as três não são nada parecidas, mas por meio de seus pensamentos é possível perceber o quanto traumas, medos, angústias e sentimentos fortes em torno do amor, da amizade e da saudade mantém essas três unidas por laços inexplicáveis

Devíamos morrer, Miguel. Em sinal de protesto devíamos todos simplesmente morrer.

Seja em ascensão ou em queda, as três dividem um mesmo período politicamente instável e têm suas vidas afetadas direta ou indiretamente por esse aspecto social e econômico. O que se passa na mente dessas três meninas com origens tão distintas e finais tão imprevisíveis? O que significa ser uma jovem mulher no Brasil do meio do século XX? E será que os laços de amizade resistem mesmo quando cada uma, à sua maneira, está à deriva em seus próprios pensamentos, pesadelos e desejos? 


Minha Opinião

Um dos clássicos de Lygia Fagundes Telles, considerada uma das grandes damas da literatura brasileira, “As Meninas” é uma leitura que exige atenção por proporcionar uma forma narrativa tão diferente do que geralmente estamos acostumados. O fluxo de consciência das três personagens não apenas é um detalhe da escrita muito interessante, que chama a atenção desde o princípio, como também é um destaque muito especial da trama: apesar de o mesmo método narrativo ser apresentado no livro inteiro, cada pensamento das três meninas é único, enfatizando a diferença entre elas. Essa distinção é palpável e é por meio dela que conhecemos cada brilhante personagem a fundo. 

Ana Clara é um caso à parte, pois não apenas sua personagem carrega consigo traços muito fortes sobre desigualdade social e violência, como o fator do vício firma na personagem uma trama que por si é muito impactante, além de tornar também a sua narração uma experiência distinta: Ana Clara sempre pode estar dizendo a verdade, assim como pode também estar mentindo e ainda há a possibilidade de seu fluxo de pensamentos ser afetado pelo efeito das drogas que ela utiliza. Nada nas suas narrações é confiável e vemos essa incerteza no próprio pensamento de Ana Clara, que muda rapidamente e abruptamente de reflexões. 


Lia também tem questões narrativas muito interessantes que destacam o viés político com mais ênfase na trama, pois é com ela que vemos os ideais e a luta por democracia em seu apogeu, sendo também na sua descrição as presentes marcações sobre o quão difícil era viver democraticamente em um Brasil vigiado e amordaçado pelo autoritarismo. Em busca de salvar o namorado, Lia se vê em situações perigosas e que exigem dela decisões difíceis de serem tomadas.

Mas não quero resposta, quero ficar só. Gosto muito das pessoas mas essa necessidade voraz que às vezes me vem de me libertar de todos. Enriqueço na solidão: fico inteligente, graciosa e não esta feia ressentida que me olha do fundo do espelho.

Por fim, Lorena não fica de forma alguma longe do brilhantismo que é a construção individual das personagens de Lygia. Apesar de estar em uma condição social diferente das outras e, com isso, apresentar um outro lado quase alheio às desigualdades enfrentadas diariamente pelas demais, Lorena tem consigo um instinto autoprotetor muito grande, herdado talvez da vivência entre aparências que a mãe sempre a ensinou. Solitária, guardando traumas do passado e muito dedicada a não perder as amigas que conquistou, Lorena é uma personagem que inicialmente quase parece superficial, mas com o tempo, torna-se um dos focos mais incríveis de ler na história

Juntas, as três proporcionam um dos momentos mais catárticos da literatura, mas separadas e entrelaçadas pelos seus pensamentos soltos, essas três personagens também instigam o leitor do começo até o final. As Meninas é um livro que não esconde o porquê de ser um clássico: suas personagens são únicas, distintas e vivas, são assim, tão reais quanto páginas podem fazer elas serem. 

É desse modo que “As Meninas” é um livro recomendado para quem quer apreciar a literatura nacional e, principalmente, para quem quer ser impactado pelos afetos e desafetos que a vida no Brasil pode trazer para jovens mulheres. 

AS MENINAS

Autor: Lygia Fagundes Telles

Editora: Companhia das Letras

Ano de publicação: 1973

Num pensionato de freiras paulistano, em 1973, três jovens universitárias começam sua vida adulta de maneiras bem diversas. A burguesa Lorena, filha de família quatrocentona, nutre veleidades artísticas e literárias. Namora um homem casado, mas permanece virgem. A drogada Ana Clara, linda como uma modelo, divide-se entre o noivo rico e o amante traficante. Lia, por fim, milita num grupo da esquerda armada e sofre pelo namorado preso. As meninas colhe essas três criaturas em pleno movimento, num momento de impasse em suas vidas. Transitando com notável desenvoltura da primeira pessoa narrativa para a terceira, assumindo ora o ponto de vista de uma ora de outra das protagonistas, Lygia Fagundes Telles constrói um romance pulsante e polifônico, que capta como poucos o espírito daquela época conturbada e de vertiginosas transformações, sobretudo comportamentais. Obra de grande coragem na época de seu lançamento (1973), por descrever uma sessão de tortura numa época em que o assunto era rigorosamente proibido, As meninas acabou por se tornar, ao longo do tempo, um dos livros mais aplaudidos pela crítica e também um dos mais populares entre os leitores da autora. “Que beleza, que força, que matéria viva e lancinante em As meninas.” – Carlos Drummond de Andrade “Lygia Fagundes Telles tem realmente algo da delicadeza atmosférica de uma Katherine Mansfield. A diferença é apenas a seguinte: ela também sabe escrever romance e As meninas é mesmo um romance de alta categoria.” – Otto Maria Carpeaux Leitura obrigatória do vestibular da UFRGS.

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