Bom Dia, Sr. Mandela é um lançamento de 2015 da Editora Novo Conceito, sendo narrado pela secretária pessoal de Mandela, Zelda La Grange.

Sobre o Livro

Esse livro é uma biografia, que vai contar através de Zelda o seu tempo ao lado do Líder Humanitário, Mandela. Logo no início vamos ter ela falando que essa é a história dela e não a dele, mas ao longo da narrativa é fácil ver como a trajetória dos dois se funde em uma.

Zelda é uma africâner branca que nasceu em 1970 e cresceu do lado privilegiado durante o Apartheid. As poucas páginas iniciais onde acompanhamos a infância de Zelda são muito importantes para vermos como era para uma criança branca crescer em meio a essa política separatista. Zelda conta que mesmo que sua babá fosse negra e que nos braços dela encontrasse o maior conforto de sua infância, achava que os outros negros eram todos maus e criminosos. Ela finalmente se declara racista aos 13 anos, e explica o porque dessa sua postura e de como é fácil o preconceito e o racismo serem “impostos” de forma sutil na vida das pessoas ao ponto em que elas aceitem isso como verdade.

“Hoje compreendo também que a comunidade onde se é criado escolhe viver de um modo particular. As pessoas ao seu redor, os adultos, definem o que é socialmente aceitável e o que não é. Você vive essa vida sem compreender que há vida mais além. Problemas, políticas, eventos mundiais e tendências que influenciam o seu mundo. Quando se vive confortavelmente não se faz perguntas, e não havia razão pela qual eu questionasse o que acontecia além das paredes de nossa casa. Ninguém nasce racista, você se torna racista pela influencia ao seu redor, e por volta dos 13 anos de idade eu me tornei racista. Por esse cálculo eu jamais poderia ter sido uma das mais duradouras assessoras de Nelson Mandela.”

Já adulta, Zelda começa a trabalhar em uma repartição pública e vê, em 1994 as primeiras eleições democráticas multi-raciais da África do Sul elegerem o recém libertado Nelson Mandela.

Nelson Mandela foi um grande ativista na defesa dos negros contra o Apartheid, regime separatista que durou de 1948 a 1994 e que separava completamente a população branca da negra. Em 1963, Mandela foi condenado a prisão perpétua e ficou preso em exílio por 27 anos, até que em 1990 após uma longa negociação, foi solto e ao lado da CNA, começou tratativas para que o regime do Apartheid chegasse ao fim.

Em 1994, eleito Presidente da África do Sul, o caminho dele e de Zelda vai se cruzar pela primeira vez. La Grange havia se candidatado para uma vaga de datilógrafa de um dos secretários do governo, porém acabou sendo chamada para trabalhar no gabinete pessoal de Mandela. Na época, o povo branco ainda via Mandela como um terrorista e temia muito o seu governo, porém o encontro dele com a Africâner branca foi extremamente tocante. Mandela estendeu a mão a La Grange, que por dias tentou evitar conhecer Nelson, e perguntou pra ela em Africâner – língua imposta pelos brancos e que não era falada pela população negra – como ela estava. Frente aos olhos bondosos de Mandela, e ao cuidado dele de se dirigir a ela em sua língua materna, a língua do povo que o manteve preso por 27 anos, Zelda desabou em lágrimas e quase não conseguiu falar com o Presidente.

A partir desse momento, Nelson viu algo especial em Zelda e começou a levá-la a todos os eventos ou viagens que tinha que ir. No início, La Grange sabia que era para apresentar uma equipe mista que englobasse todas as raças presentes no país, porém uma grande amizade entre eles surgiu e Zelda tornou-se não só assessora pessoal de Mandela, mas também sua amiga.

A longo do livro vamos acompanhar Nelson Mandela e Zelda viajando pelo mundo tentando buscar recursos para os programas sociais da Africa do Sul, conhecendo presidentes, líderes religiosos, celebridades e, mais a frente a luta do ex presidente sul africano contra a doença e a velhice.

Zelda trabalhou ao lado de Mandela por 19 anos, desde sua ascensão a presidência em 1994, até sua morte em dezembro de 2013.


Capa e diagramação

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Esse não é um livro rápido de ler ou com alta fluidez de leitura pois possuiu muitos detalhes históricos, como data e nomes, mas mesmo assim a diagramação e a fonte fornecem uma leitura confortável.

A foto de capa é realmente de Zelda segurando a mão de Mandela e no fim do livro podemos conferir várias outras fotos da trajetória dos dois, inclusive fatos que são descritos no livros, ajudando assim a ilustrar um pouco a história.


Minha opinião

Essa foi minha primeira biografia e eu posso dizer com toda certeza: não poderia ter escolhido livro melhor para começar. Mandela é uma daquelas pessoas que inspiram a gente, mesmo não estando mais entre nós e já fica aqui minha primeira recomendação pra você que não é habituado a ler biografias, escolha alguém que você admire.

Foi muito importante ter os capítulos iniciais trazendo a fase de crescimento da Zelda para que pudéssemos entender como era, pelo ponto de vista dos brancos, o apartheid. Além disso ao longo do livro vemos as pessoas ao redor de Zelda mudando de opinião, baseados na relação dela com Mandela, e isso foi muito bacana para se dar por conta de que o preconceito é sim algo que se cria, mas que também pode ser derrubado. A relação entre La Grange e Mandela é muito bonita e através do relato dela conseguimos sentir um pouco do carinho entre os dois e também a dor dela no fim, quando a família dele impedia ela de ter contato com Mandela, pois sempre houve muitos questionamentos e olhares feios em direção a Zelda, por ela ser o braço direito de Madiba, sendo branca.


“Eu me recordo de ter dirigido de volta pra casa vendo os negros sorrindo nas ruas, pareciam felizes, confraternizando e dançando. Meus pensamentos eram simples, sim, agora vocês podem fazer o que quiserem, mas por favor, não nos matem essa noite por sermos brancos. Antes das eleições algumas pessoas brancas juntaram comida enlatada e não perecível, por medo da guerra civil, violência e anarquia. Esperávamos que as pessoas negras que controlavam o país nos destituíssem dos serviços básicos, que atacassem as lojas e criassem um caos absoluto, sabotando a água e a energia dos bairros brancos. As pessoas estocavam e juntavam garrafas d’agua, velas, comida enlatada e tudo que pudesse durar e ser necessário em caso de emergência. Esperávamos por vingança. 

Mas naquela noite nada aconteceu e todos nós acordamos na manhã seguinte, voltamos para o trabalho e para nossas vidas normais, intocados pelos eventos do dia anterior e por quem quer que estivesse governando o país. A vida continuava de maneira estranhamente igual. Ainda tínhamos nossas casas, ainda estávamos vivos e a água ainda corria pelas torneiras, nada havia que indicassem que logo os próximos fundamentos da minha vida, minha ignorância, minhas crenças, meus valores estariam prestes a ser sacudidos e testados.”


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A leitura fui excelente e vivi muitas emoções diferentes, como já mencionei. Também dei boas risadas com alguns fatos engraçados que também norteavam a histórias em alguns momentos, como por exemplo quando, o então Senador, Barack Obama, pede para conhecer Mandela e a pessoa que quer convencer Madiba a conhece-lo diz que Obama pode ser o primeiro Presidente negro dos Estados Unidos e na incredulidade daquilo naquele momento. Também é engraçado ver o quanto Mandela era afastado da mídia Hollywoodiana e não conhecia os atores ou cantores que queriam o conhecer, e Bono Vox, que esteve com Mandela muitas vezes, o qual demorou pra compreender a dimensão do alcance dele e de outras personalidades na sociedade.

Enfim, o livro é muito inspirados e se você é um adepto da leitura de biografias, com toda certeza esse é um livro que eu recomendo de olhos fechados. Caso você, assim como eu, não costuma ler o gênero, posso novamente dizer que esse pode ser um bom lugar por onde começar.

BOM DIA, SR. MANDELA

Autor: Zelda la Grange

Editora: Novo Conceito

Ano de publicação: 2015

Bom Dia, Sr. Mandela conta a extraordinária história de uma jovem que teve suas crenças, preconceitos e tudo em que sempre acreditou transformados pelo maior homem de seu tempo. A incrível trajetória de uma datilógrafa que, escolhida para se tornar a mais leal e devotada assessora de Nelson Mandela, passou a maior parte de sua vida trabalhando ao lado do homem que ela passaria a chamar de Khulu , ou avô.

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