Diário de Uma Escrava é uma ficção baseada em 7 casos reais, escrito pela autora gaúcha Rô Mierling e publicado em 2016 pela editora DarkSide Books.

Sobre o livro

Laura teve sua vida, seus sonhos e sua história interrompidos aos 15 anos, quando foi sequestrada por um pedófilo que a usou como objeto sexual e como saco de pancadas para descarregar toda a sua raiva. É mantida em um cativeiro no subsolo, localizado embaixo do sítio de Estevão, seu sequestrador, chamado por ela de o “Ogro”.
“Eu chorava sem parar. Desmaiava de exaustão e acordava com os olhos tão inchados que mal podia enxergar. Foi assim até o primeiro estupro, quando senti o que era a verdadeira dor. Ele, em cima de mim, rasgando a minha inocência[…]”
Já fazem mais de 5 anos que Laura vive sob as piores condições, as mais humilhantes e desumanas possíveis, sofrendo todo tipo de violência e abuso. Dorme num colchão velho e sujo, fazendo suas necessidades dentro de um balde que só é trocado quando está cheio, sem qualquer tipo de entretenimento, enquanto que logo acima de sua cabeça, o Ogro está vivendo sua vida perfeita, e ao lado de uma mulher que o ama.

Minha Opinião

TW – Atenção!, a leitura desse livro, e também talvez essa resenha, pode gerar resposta emocional negativa. Respeite sua saúde emocional caso você seja muito sensível a conteúdo que contenha de forma explícita violência de cunho sexual.

Quando eu decidi ler Diário de uma escrava eu apenas sabia que era uma história sobre sequestro. Procurei não saber muito sobre porque já tinham me informado que era uma história que gerava muitas controvérsias e eu queria tirar minhas próprias conclusões de algo que parecia ser tão polêmico. Assim que comecei a leitura logo me perguntei se era uma história baseada em fatos reais, mas também não fui atrás de informação porque não queria ver quaisquer resquícios de informação sobre a história. Não demorou para que eu chegasse a resposta da minha pergunta, a autora colocou no fim do livro algumas informações extras dizendo que sim, a história é baseada em fatos reais, mas não em apenas um caso real. Foram 7 casos reais que Rô Mierling usou para basear o seu texto literário e, nas palavras da autora, “isso não retira a realidade dos fatos, detalhes, sentimentos e eventos que foram inspirados nos referidos casos”. Rô também cita quais foram os 7 casos e dá um breve resumo de cada um, e lê-los depois de ter terminado a história dá pra perceber qual foi o trágico detalhe que ela pegou de cada um.
A autora também faz algumas notas explicando o que de comum tinham os setes casos, que determinaram para que ela escrevesse essa história; e também fez uma explicação do porquê ela decidiu finalizar a história daquele jeito. Já que comecei falando do fim, já lhe adianto que ele é bastante inesperado. Confesso que de todos os finais que imaginei, o final que a história teve foi um que nem passou pela minha cabeça… A partir do momento que você inicia a leitura, já anseia desesperadamente por um desfecho. Sentimos uma necessidade incessante de saber o que acontece com aquela pobre garotinha que, assim como tantas outras, teve sua vida roubada para servir de objeto sexual. E se lhe serve de consolo, provavelmente você vai terminar arrasada(o), assim como eu!
“Que mundo doentio é esse onde ele realmente imagina que “fizemos amor” e que, agora, vou fazer carinho nele?”
Eu já li livros sobre sequestro, inclusive a última leitura foi O Colecionador , mas ainda não tinha experimentado tal gênero onde a pedofilia fosse adicionada. Também nunca imaginei que ler sobre isso me deixaria tão arrasada, deve ser por isso que, inconscientemente, sempre posterguei a leitura de Lolita (Vladimir Nabokov). Diário de uma escrava vai relatar sem quaisquer escrúpulos todas as atrocidades que uma alma doentia é capaz de fazer, e tudo que uma vítima é capaz de suportar.
Estupros diários, urina no rosto, socos, chutes, puxões de cabelo, privação de higiene, de sol, de nutrição; isso tudo era apenas algumas das atrocidades que Laura passava. Por ser relatado em forma de diário nós não somos poupados dos detalhes mais horripilantes que se pode ler e imaginar. É uma compilação de horror que faz com que esse livro vá para a pilha das leituras indigestas.
“A vontade que tenho é de me afundar nesse balde tão cheio de merda quanto a minha vida.”
Talvez a pior coisa desse livro é que ele mostra, de fato, um ”final” completamente possível, completamente real e sem rodeios. Está longe de ser um romance, está longe de fazer com que a gente se sinta bem depois de ler tantas coisas horríveis, está longe de ser uma história pra nós. Diário de uma escrava é um relato ficcional real do que incontáveis mulheres já passaram e estão passando nesse exato momento. Enquanto estou escrevendo isso e enquanto você está lendo, existem mulheres, nesse exato momento, passando pelo mesmo que Laura. Se o que nós sentimos é ruim, imagina quem está passando por isso, imagine as famílias, os amigos… O livro não relata apenas a agonia de Laura, é intercalado em meio ao diário o sofrimento da família e namorado, e também os outros sequestros e assassinatos cometidos por Estevão, ou “Ogro”, como é chamado pela garota. Estevão sequestra outras garotas porque Laura já não tem mais o corpo infantil e puro por qual ele se excita, mas por ela ter sido a unica que sobreviveu por tanto tempo, ele passa a achar que ela é a sua preciosidade, e que deve ser ”cuidada” para sempre. Uma das partes mais tristes é quando Estevão começa a abusar de outras garotas, isso faz com que ele deixe um pouco a Laura em paz e dá pra ver como a garota se sente horrível de se sentir aliviada por outra garota estar sendo estuprada e morta em seu lugar. A impotência que ela sente é a mesma que sentimos, por não sabermos como fazer algo a respeito disso; e o alívio que ela sente é quase o mesmo que sentimos, por não estarmos passando por isso… Quando o Ogro muda um pouco o alvo ele começa a ser mais “carinhoso” com Laura, agradando-a mais, fazendo coisas por ela, em contrapartida fica fazendo jogos emocionais o tempo inteiro, fazendo com que ela acredite que não se encaixa mais em uma realidade que não seja aquela, e que devido aos anos já passados, ninguém mais se lembra dela.
“Nunca mais serei a mesma pessoa, não serei mãe, esposa, não terei família, nunca serei feliz. Então, por que sair daqui?”
Acredito que a linguagem repetitiva e cruel da autora tenha sido proposital, justamente para que seja doloroso, angustiante, repugnante e chocante ao ser lido. Em contrapartida as coisas terríveis, a edição desse livro está um primor, belíssima! Capa de borboleta, bordas de páginas coloridas, folhas amareladas e grossas, fonte confortável, tudo favorável para que você termine de ler logo essa terrível história. Não é novidade que por dentro de coisas tão lindas exista tanta feiura. 
“Quantas vezes sentamos em algum lugar sem saber o que acontece na mesa ao lado? […] Cada um isolado a sua própria vida, seu destino, seus sonhos e pensamentos, não se interrompe para observar ao redor e, quem sabe, ajudar o próximo que pode estar precisando apenas de um olhar.”
Recomendo a leitura para quem está disposto a levar um tapa na cara, que é isso que toda a história, principalmente o final, nos dá. Recomendo para quem não se julga tão sensível, e para quem não está preocupado apenas com um final, especialmente feliz. E, vale a pena ressaltar que esse é um livro que divide bastante opiniões. Descubra qual vai ser a sua.

DIÁRIO DE UMA ESCRAVA

Autor: Rô Mierling

Editora: DarkSide Books

Ano de publicação: 2016

Laura é uma menina sequestrada e jogada no fundo de um buraco por alguém que todos imaginavam ser um bom homem. Ela vê sua vida mudar da noite para o dia, e passa a descrever com detalhes sinistros e íntimos cada dia, cada ato, cada dor que o sequestro e o aprisionamento lhe fazem passar.

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