De direção por Baz Luhrmann, Elvis (2022) propõe uma biografia musical de intensidade que flerta com o experimental. Com roteiro assinado, além de pelo próprio diretor, por Craig Pearce, Sam Bromell e Jeremy Doner, o longa de 2 horas e 40 minutos dá conta de praticamente toda a carreira de Elvis Presley. Para isso, traz a edição de Jonathan Redmond e Matt Villa, o figurino de Catherine Martin, e a cinematografia de Mandy Walker.

Elvis traz para o espectador os 20 anos de relação entre o rei do rock (Austin Butler) e seu empresário, Tom Parker (Tom Hanks). Toda a ascensão de Elvis, bem como seus altos e baixos mais para o final da carreira, é retratada, em constante interação com a discografia do artista.

O filme é muito claro em sua mensagem: apresentar Elvis como o mocinho e artista brilhante, vitimizado frente à vilania de seu empresário manipulador e explorador. Não há como assistir ao filme sem se sensibilizar e simpatizar com o protagonista pelo menos um pouco. Em comparação a tantos outros filmes sobre astros da música, em que vemos os artistas se tornarem os próprios vilões, se auto sabotando e sofrendo com saúde mental, aqui vemos uma trama enfurecedora pelos abusos aos quais o cantor foi exposto por terceiros.

Isso dito, a narrativa perde muito em nuance por essa dicotomia exagerada. O único fator não inteiramente bom apresentado em Elvis é sua obstinação e ambição, mas que são inseridas de forma exclusivamente positiva, como sinônimos de coragem e ousadia artística. O contrário se dá com Parker, que é ávido por poder e inescrupuloso, e temos que encará-lo somente como uma pessoa horrível. Por isso, o produto final, por mais que desperte fortes emoções, é um tanto quanto inverossímil.

Outro elemento muito intencional é o caráter hipnótico do filme. Produção, edição e cinematografia se dedicaram a construir transições e time lapses (como o longa abarca 20 anos, as sequências lineares são episódicas, e muito é contado em flashes) que trouxessem toda a grandiosidade de Elvis, com uma pegada visual que grita Las Vegas. Mas principalmente, as câmeras e a montagem das longas cenas de performances do artista, com as músicas tomando conta, tentam – e conseguem, apesar de a repetição ser um pouco exaustiva – transmitir a força que eram seus shows.

E para isso puderam contar com a incrível atuação de Austin Butler, um dos verdadeiros pontos altos do longa. Ele traz emoção, sensibilidade, audácia e visceralidade, além da óbvia semelhança com Elvis, acentuada de maneira sensacional pelo figurino e pela maquiagem. Isso sem dizer que ele de fato cantou grande parte das músicas, com muita potência, e é muito difícil diferenciá-lo do próprio cantor.

Já sobre o trabalho de Tom Hanks, posso dizer que achei sólido. Ele entregou com qualidade toda a dissimulação que seu personagem exigia, despertando a devida raiva do público. Entretanto, não sinto que poderia comentar sobre os demais atores, pois o filme é essencialmente esses dois personagens, e poucos outros tiveram sequer falas o suficiente.

Um ponto final que gostaria de levantar, que o filme aborda brevemente, é a questão do racismo. Na época retratada ainda haviam leis de segregação, e há cenas em que Elvis, que conhecidamente tirou grande inspiração de cantores negros, abertamente despreza estas leis. Considerando que hoje há alguma discussão sobre Elvis ter cometido apropriação da música negra, acho que vale a pena pontuar que isso é lidado no filme como tudo o mais nele; ou seja, Presley tinha boas intenções e fazia isso como admiração, enquanto Parker, logo nos primeiros minutos, demonstra o interesse comercial em ter um artista branco cantando este estilo musical.

Quando as coisas são perigosas demais para dizer, cante.

Deixo a indicação de Elvis acima de tudo para fãs do cantor, realmente o público alvo do filme, e como curiosidade e entretenimento para os demais. Acredito que o caráter mais simplista e emocional valham a pena, para quem não se importa com sequências musicais longas e, óbvio, um filme bem extenso. Eu não reassistiria, mas como alguém com pouco contato prévio com a história e mesmo a obra de Elvis, achei bem interessante, além de encher os olhos.

ELVIS

Diretor: Baz Luhrmann

Elenco: Austin Butler, Tom Hanks, Richard Roxburgh, Helen Thomson, Olivia DeJonge, Kelvin Harrison

Ano de lançamento: 2022

A cinebiografia de Elvis Presley acompanhará décadas da vida do artista e sua ascensão à fama, a partir do relacionamento do cantor com seu controlador empresário “Coronel” Tom Parker. A história mergulha na dinâmica entre o cantor e seu empresário por mais de 20 anos em parceria, usando a paisagem dos EUA em constante evolução e a perda da inocência de Elvis ao longo dos anos como cantor. No meio de sua jornada e carreira, Elvis encontrará Priscilla Presley, fonte de sua inspiração e uma das pessoas mais importantes de sua vida.

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