Era quarta-feira, início de noite e ela pegou um ônibus lotado para voltar pra casa. Por sorte, ela se posicionou de pé ao lado de um banco de onde o passageiro logo se levantou pra descer. Assim ela pode sentar e aproveitar o trajeto para casa para ler.
Ela puxou seu livro e abriu na página marcada. Era um livro de contos, ilustrado e ela logo mergulhou no enredo. Algum tempo depois, notou que o rapaz ao lado dela, que também estava lendo um livro, havia parado de ler e estava, de forma displicente olhando o livro dela.
Ela manteve a postura e tentou não dar na vista que tinha visto, porém agora sua concentração havia desaparecido. Para não dar bandeira, deixou o livro aberto e simulou seguir lendo. Quando se aproximou da parada fechou o livro, e quando foi guardar na bolsa, cruzou os olhos com o do rapaz que ficou sem graça e disse:
– O seu pareceu bem mais interessante que o meu, desculpe.
Nesse momento a garota sorriu e olhou para o livro que ele balançava na mão. Era um título complicado, algo sobre como gerir negócios, claramente leitura técnica. Ela se levantou, e desceu do ônibus em sua parada. O garoto também desceu e caminhou apressado na sua frente em direção a faculdade, que ficava apenas a duas quadras de distância.
Quando o viu se afastar, ela não conseguiu evitar o pensamento de que era sortuda hoje, por ter a opção de ler o que quisesse e, por mais breve que tenha sido, talvez tivesse trazido um pouco de mágica pra noite daquele jovem, que com um olhar triste, olhou pra trás uma última vez antes de dobrar a esquina.
