Entre as mãos é o romance de estreia da autora nacional Juliana Leite. Foi publicado em 2018 pela editora Record.

SOBRE O LIVRO

Uma mulher que ganha a vida com a costura sofre um grave acidente, deixando-a entre a vida e a morte. Um companheiro que já estava indo embora se vê entre a preocupação com a vida dela e a incerteza de qual é o seu lugar nesse contexto. Três tias invasivas que precisarão entrar novamente em cena para cuidar da sobrinha fragilizada e, depois de adulta, dependente novamente.

“Seu eu pudesse te pedir algo nesse instante, uma única coisa, te pediria que, por favor, não tentasse apagar o fogo da galocha com essa mão. Daria tempo de te pedir isso?”

A partir do acidente ela precisará reaprender a viver, física e espiritualmente, pois nada mais será o mesmo, nem seu corpo e nem sua relação com o mundo. Magdalena sobrevive, mas a que custo?


MINHA OPINIÃO

Juliana Leite, que recebeu o Prêmio Sesc de Literatura de 2018 na categoria Romance com esse livro, tem um estilo muito próprio de narrar, fazendo uso de um desenvolvimento de enredo complexo, com muitas idas e vindas no tempo, deixando o leitor sempre a beira de um abismo interpretativo. O leitor deve, desse modo, trabalhar para se situar e compreender o que é passado, presente e futuro nessa construção.

Isso faz com a leitura não seja propriamente fácil, mas também leva o leitor a toda uma experiência diferenciada. A escrita da autora é bonita e angustiante na mesma proporção, fazendo com que seja um trabalho em que sentimos que estamos sendo bem recompensados.

“antes do medo, do arrepio, do desejo, antes da curva, da reta, da ânsia, será que reage, será que revida, será que se lança, se arrisca, se firma, será que volta?”

Em certo momento, porém, penso que a autora passa um pouco do ponto, correndo o risco de perder o leitor pela dificuldade de entender exatamente o que está acontecendo. Pois há um equilíbrio delicado entre o leitor não entender nada, e perder interesse em consequência disso, e o leitor ver-se envolvido em mistérios interpretativos que o intrigam.

Posteriormente, entretanto, quando vai ficando mais claro o que cada linha narrativa busca dar conta, ela consegue retomar o nosso interesse completo e nos mostra o quão complexa e interessante é a maneira como essa história se desenrola.

A forma de contar essa história é, sem dúvida, um dos seus pontos mais fortes, mas suas qualidades não se resumem a isso. Também o modo como Magdalena é forçada a se reconstruir é bastante interessante e quanto mais seguimos esse caminho em sua companhia, mais sua força nos impressiona.

“Coragem, garota

Coragem nas mãos”.

O acidente a afasta temporariamente da costura, mas não da necessidade que a personagem sente de realizar trabalhos manuais, e a forma como ela lida com isso é fantástica. Magdalena vai, em sua recuperação, reconstruindo sua relação com o mundo à sua volta e nessa reconstrução suas mãos continuam sendo uma parte importante disso, ainda que não exatamente do mesmo modo que antes.

Podemos não entender muito bem, de cara, a capa do livro, mas conforme vamos lendo e desvendando as camadas dessa história ela vai fazendo mais e mais sentido. Um trabalho realmente de excelência, assim como é a diagramação, que vai inserindo detalhes como o uso de itálico e outros destaques para nos conduzir pelas diferentes perspectivas e tempos em que a história se passa.

É um livro que mostra muito bem como podemos contar uma história de diversas formas e nos faz pensar sobre a nossa relação com o mundo à nossa volta. Para quem gosta de livros com uma pegada mais literária, que dão grande importância ao estilo de escrita e à forma, é um prato cheio!

ENTRE AS MÃOS

Autor: Juliana Leite

Editora: Record

Ano de publicação: 2018

Vencedor do Prêmio Sesc de Literatura 2018 na categoria Romance. Conduzido com precisão e movido por uma poderosa força que impulsiona todo o relato, Entre as mãos gira em torno de Magdalena, uma tecelã que, depois de um grave acidente, precisa retomar seus dias, reaprender a falar e levar consigo dolorosas cicatrizes ― não apenas no corpo. Com personagens e tempos narrativos que se atravessam como fios trançados, este romance tem a marca de peça única, debruçando-se sobre questões como sobrevivência e ancestralidade, mas também amor e mistério a partir do corpo, do trabalho e dos gestos da protagonista, em duas fases de sua vida.

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