Especial é um livro do autor Ryan O’Connell. A publicação é de 2019 pela Galera.

Sobre o Livro

Através de uma linguagem bem desbocada, O’Connell conta a sua história: um jovem com paralisia cerebral, que é gay e vem de uma família super protetora; tentando  se descobrir enquanto pessoa numa sociedade que prefere muito mais o virtual que o real.

” É como as coisas funcionam agora. É o que acontece quando se faz parte de uma geração cujos pais não querem que você jamais conheça o sofrimento; você acaba com um bando de pessoas de vinte e tantos anos que nunca se incomodaram em descobrir como se vive.”

Com histórias que começam na infância e atravessam até a vida adulta, este jovem Millennial fala de uma vida coberta de excessos materiais, excesso de informação, de conforto, de possibilidades que muitas vezes podem assustar os mais velhos e como uma existência fundamentada em facilidades pode, na verdade, ser a receita para o desastre. Mesmo que ele aconteça basicamente no Twitter.


Minha Opinião

Eu costumo adorar literatura LGBT+, porque é comum conhecer histórias, vivências e realidades que fogem bastante da minha enquanto mulher cis. Eu vou naturalmente de biografias aos romances eróticos, muitas vezes preferindo-os, inclusive, à romances héteros. Por este motivo quis conhecer a escrita do O’Connell, aliado ao fato de que sua série homônima teve um hype imenso quando estreou no Netflix.

O prefácio do livro me conquistou, embora a linguagem usada tenha me incomodado. Confesso que ali naquele começo, sendo millennial como o autor, me reconheci em muitas colocações. É quase impossível, aliás, alguém que tenha nascido a partir da década de 80 ter muito estranhamento com o relato que perpassa pelas facilidades oferecidas a nós, se compararmos nossa geração com a anterior, e culmina em todas as dificuldades que a vida moderna nos apresenta com seus excessos.

“Somos a geração que cresceu em uma bolha super protetora, a geração que cresceu postando cada segundo da vida. A geração que é pressionada para fazer mais e ser melhor do que a dos nossos pais.”

Excessos esses que podem ser encontrados na superproteção da família (ou da necessidade que os pais mais jovens têm de dar aos filhos tudo o que eles não tiveram, mesmo que isso venha às custas da sua própria vida), na facilidade em trocar de emprego (ou mantê-los), na liquidez das relações e no quanto as redes sociais transformaram toda uma geração em seres antissociais, carentes de likes e necessitados de números. É claro que ao contar com deboche, ironia e linguagem muitas vezes desprovida de cuidados, sobre todas as vicissitudes da vida de um jovem desta maneira ele aproveita pra fazer uma crítica justamente à essas questões.

Ele mostra que tantas facilidades, em muitos momentos, acabam tendo um efeito oposto ao esperado. Os millennials podem até ser mais desprendidos de padrões antiquados. Podem até sentir mais leveza ao abrir mão de uma posição em uma empresa caso ela não vá de encontro aos seus propósitos. É sem dúvidas uma geração que tem literalmente na palma da mão acesso a qualquer tipo de informação… E que talvez por isso seja uma das gerações que mais sofre, que mais adoece, que mais se sente perdida.

“Você deveria se lembrar de todas as pessoas que tentou amar e que tentaram amá-lo; de todos os apartamentos super valorizados, todas as amizades tóxicas e todo o dinheiro gasto em coisas de que nem mais se recorda. Então quero que se lembre do momento que desenvolveu a sagaz percepção do que funciona ou não para você. Quero que se lembre de se sentir confortável consigo mesmo, e não como se precisasse se desculpar por tudo. Quero que se lembre da primeira vez que decidiu não colocar o próprio coração nas mãos descuidadas de outra pessoa. São esses os momentos mais importantes: os instantes em que você não mais se sente a pessoa que quer ser, mas a pessoa que já é. Isso é muito foda. É especial.”

É um livro com uma proposta interessante, e que tende a agradar principalmente jovens que estejam em um momento da vida semelhante ao do Ryan. Para mim, mesmo concordando com o autor em vários pontos e me reconhecendo no discurso em momentos diversos, não funcionou. Eu imagino que isso se dê ao fato de que já estou em outro momento da vida, e embora faça parte dos Millennials sou lá do comecinho. Um pé na geração anterior e outro aqui me fez achar o texto dele despreocupado demais. Como se ele não tivesse, ainda, entendido o valor da própria existência e culpasse a tudo e todos por isso, menos ele mesmo.

É claro que isso não torna a obra ruim, ela apenas pode (como qualquer outro livro, diga-se de passagem), agradar mais a uns do que a outros. É inclusive uma ótima opção de biografia/autobiografia para os leitores que apresentam resistência em ler o gênero, porque aqui o tom é tão leve e despreocupado que torna a narrativa mais fluida. Eu fico aqui na torcida para que vocês riam, se divirtam, aprendam algo e se sintam representados por esse jovem que sai totalmente da caixinha.

 

ESPECIAL

Autor: Ryan O’Connell

Tradução: Adriana Fidalgo

Editora: Galera

Ano de publicação:2019/p>

O livro que deu origem à série Special, da Netflix.

Como se os desafios de ser um jovem gay com paralisia cerebral não fossem o bastante, Ryan O’Connell viveu todos os clichês de um Millennial. Ele passou a segunda década de sua vida estagiando para divas delirantes, engolindo todos os remédios que conseguia encontrar pelo caminho e tentando achar o amor verdadeiro — coff coff — no Grindr. Mas depois de tanta tentativa e erro, Ryan pode dizer, com propriedade, que mancou elegantemente todo o caminho para a vida adulta. Especial, seu (hilário) relato autobiográfico, é uma reflexão sobre o mundo cruel que espera jovens de vinte e poucos anos superprotegidos pelos pais e uma lição de como encontrar a si mesmo em meio às disputas por likes e seguidores.

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