Escrito pelo eternizado Chico Buarque de Hollanda, Essa Gente é mais um dos seus livros publicado em 2019 pela Companhia das Letras.

Sobre o Livro

Duarte, um escritor sem inspirações e dependente de somente de seus romances, precisa retomar a suas atividades novelescas mas, sem inspiração, consequências vêm a tona quando se vê sem dinheiro e ameaçado a ser despejado por não pagar o aluguel. Separado e possuindo um filho, Duarte vive uma vida de ousadias: se envolve com prostitutas, drogas e com momentos delicados de violência.

[…] Não me desaproveita assistir à passagem de um ou outro transeunte, um entregador, um carteiro, babás de branco com carrinhos de bebê, jovens com roupas de academia, um vendedor de vassouras de piaçava ou garis recolhendo lixo.”

Ao mesmo tempo que possui uma vida conturbada, Duarte se encontra em um país problemático: seu filho sofre bullying por ter pais simpatizantes da esquerda; políticos que atuam com uma ousadia sem limites; racismo correndo solto pelas ruas nas mãos da milícia; e muitos outros aspectos que constituem os principais defeitos da sociedade brasileira.


Minha Opinião

Com seu novo romance em formato de cartas, narrações em primeira e terceira pessoa, transcrições de falas por telefone e demais recursos únicos que o escritor traz para a construção desta obra, Chico Buarque cria um personagem um tanto conturbado, caracterizando uma sociedade brasileira problemática dos dias atuais.

De forma rápida e continua, a história se desenvolve um tanto conturbada. A cada página a história varia entre os anos de 2018 e 2019 além de acrescentar um passado de Duarte em momentos curtos. Há um certo teor de suspense quanto ao que poderá se resultar da vida de Duarte com os inúmeros defeitos seus e seus problemas financeiros. O final do livro se conclui com uma amargura típica de obras realistas, o que garante o ponto final das principais críticas que Chico Buarque nos trás.

Sua forma de narrar me surpreendeu um tanto: ele usava um conjunto de palavras únicas da literatura brasileira, beirando as narrativas de Clarice Lispector, por exemplo. Usando o realismo que a gente encontra muito nas obras de Machado de Assis e até nos mais contemporâneos como em Capitães de Areia de Jorge Amado, Chico Buarque me surpreendeu com sua capacidade de dar uma realidade ardilosa da sociedade brasileira.

[…] Logo acordo enrolado no lençol com a televisão ligada: a partir de hoje, por decreto presidencial, posso ter quatro armas de fogo em casa.”

As críticas apontadas no livro são muito diretas: o Brasil ainda é racista; as pessoas estão totalmente divididas quanto a sua ideologia política; a intolerância corre solta; os políticos perpetuam a velha política… Mas, infelizmente, a história, de forma única construída, não deu uma credibilidade forte quanto as problemáticas da sociedade brasileira. Na verdade, por ser uma narrativa corrida de frases curtas e diretas, há uma certa confusão quanto a narrativa.

Não foi um romance que de fato me chamou atenção. Houve muitas falhas, na verdade. A história construída não trouxe credibilidade. Faltou ao autor mais detalhes de posicionar o leitor ao lado obscuro brasileiro como ele quer nos trazer, deixando um resultado de uma obra corrida. Faltou, também, conhecer mais sobre Duarte e sua vida conturbada. Os únicos resquícios para entendermos Duarte é muito vago e solto. As poucas partes descritas no livro sobre o Rio de Janeiro também deixaram a desejar, apesar de serem bem escritas.

Não podemos negar o teor crítico social que Chico Buarque carrega em sua história como artista: foi um dos que mais combateu a ditadura através de suas músicas, em destaque ao ”Cálice”. Essa Gente, não foge disso: quer trazer também o teor crítico da mesma forma que em suas músicas.

[…] No outro domingo? Eu acho que pode ser. Espera aí, dia 31 eu tenho jantar no Palácio Guanabara. Canalha por quê? Agora para você é todo mundo fascista. Você conhece ele? Pois é super boa gente.”

Seu sucesso com Budapeste e Leite Derramado e ganhador do prêmio Camões, é só mais uma marca da capacidade que Chico Buarque têm de enriquecer a literatura nacional. Apesar de não ter sido uma excelente leitura como pensara que poderia ser, capitei cada mensagem que o autor quis dizer com ”Essa Gente”. Percebi que Chico Buarque se voltou para um público mais adulto, um público que acompanhou a história brasileira: ditadura, república, corrupção e conservadorismo. É de fato uma boa obra para os que acompanham o trabalho de Chico Buarque de perto. Uma coisa ele deixou bem claro: o povo brasileiro ainda é um povo de inúmeros defeitos.

Passando na cidade do Rio de Janeiro, Essa Gente deixa uma mensagem importante para os brasileiros: ”Essa Gente” que ele apresenta no livro, é um reflexo de espelho de ”nossa gente”.

ESSA GENTE

Autor: Chico Buarque

Editora: Companhia das Letras

Ano de publicação: 2019

Há alguns pontos de contato entre Chico Buarque e o protagonista de Essa gente, seu primeiro livro após a consagração do prêmio Camões. O escritor Manuel Duarte tem esse sobrenome de perfil vocálico idêntico, e gosta de bater perna nos arredores do Leblon. Contudo, o leitor logo descobre que isso conduz a um dos muitos becos sem saída da trama. Autor de um romance histórico que se tornou best-seller nos anos 1990, Duarte passa por um deserto criativo e emocional, tendo por pano de fundo um Rio de Janeiro que sangra e estrebucha sob o flagelo de feridas sociais finalmente supuradas, ostensivas. Com estrutura de diário, a reflexão sobre a linguagem ― marca da ficção buarquiana ― parte agora do apontamento rápido, artimanha para auxiliar a memória quando for possível dar sentido ao tumulto do presente. Ao seu melhor estilo, Chico Buarque borra as fronteiras entre vida, imaginação, sonho e delírio, e constrói uma narrativa engenhosa, em cujas entrelinhas se descortinam as contradições de um país fraturado.

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