Filme Noturno é da escritora Marisha Pessl. Ele foi lançado em 2014 pela editora Intrínseca.

Sobre o livro
Em Manhattan, num armazém abandonado, o corpo de uma jovem é encontrado. Todas as evidências apontam para suicídio, mas o que deixa as pessoas realmente surpresas, é a identidade dela. A mulher é Ashley Cordova, a garota prodígio, filha do famoso diretor de filmes de terror, Stanislas Cordova. A vida da família sempre foi muito especulada, por isso, há 30 anos o homem se esconde de qualquer entrevista e pessoa. Eles levam uma vida misteriosa e cheia de segredos.
“Ele é uma fenda, um buraco negro, um perigo indefinido, um surto incansável do desconhecido em nosso mundo demasiadamente exposto.”
Quem parece não acreditar nisso é o jornalista Scott McGrath. Um homem que já teve tudo, mas que acabou com seu casamento e carreira destruídos por Cordova. Na primeira vez que ele tentou investigar e descobrir mais sobre o misterioso diretor, sua vida acabou virando de cabeça para baixo. No entanto, parece que ele não está preocupado em se envolver com esse jogo perigoso novamente.
Com uma atmosfera tenebrosa, parecendo saída de um filme noir, veremos McGrath buscar respostas para o que aconteceu com a jovem. Ele descobrirá o estranho mundo dos fãs do diretor, com suas fitas proibidas, sites escondidos e todo um esquema perigoso que gira em torno dele. O que será que ele encontrará no passado deste homem? E o mais importante: por que ele faz tanta questão de se esconder?
Minha opinião
Aqui temos um livro que me deixou num misto de emoções. Após terminar essa leitura, levei um tempo para entender os meus sentimentos por ele. A trama é interessante, nos carrega para uma atmosfera tensa, onde ninguém parece confiável e cada virada de página guarda uma reviravolta. Porém, em certo momento, tantas investigações e reviravoltas ficam cansativas e essas quase 700 páginas do livro, podem ser facilmente diminuídas pela metade e sem perder o sentido. E o final? Este me pareceu o grande problema da maioria dos leitores. Ele deixa em aberto algumas questões e não temos um desfecho de fato. Entretanto, gostei dessa “possibilidade” deixada pela escritora, por isso, o final não foi algo que me incomodou.
O que mais gostei no livro são os elementos utilizados para incrementar a história. Sejam recortes de jornais, bilhetes, sites ou até relatórios que trazem uma veracidade para a trama. Parece que tudo isso realmente aconteceu. Também temos fotos de pessoas que seriam nossos personagens. Isso facilitou muito a minha “imaginação” e contribuiu para deixar a narrativa ainda mais interessante. Além disso, cada personagem foi criado e pensado com qualidades e defeitos que nos fazem visualizá-los na nossa frente. A autora foi certeira nessas características e na ambientação da história.

“Ele via o sofrimento mental das pessoas e esperava que seus filmes pudessem ser um refúgio. Seus personagens são destruídos, arrasados. Caminham por infernos e emergem purificados.”
Ashley Cordova é uma incógnita para o leitor desde o começo. O que aconteceu com ela? Por qual motivo uma jovem talentosa, rica, com a vida inteira pela frente, tiraria a vida? Quando começamos a investigar o passado dela e as pessoas que a conheceram, sua figura toma outras proporções e se transforma em algo novo e alienígena. É criada quase uma aura sobrenatural nela. Seu passado, sua história e seus segredos são instigantes e suas revelações me pegaram de surpresa, me deixando em dúvida em diversos momentos.
Nossa protagonista, Scott McGrath, foi um problema para mim. Um dos meus primeiros pensamentos quando o conheci foi: para um jornalista tão inteligente e conceituado, ele é bem burro, hein? Toda essa fixação pelo diretor é explicada e dissecada conforme adentramos a narrativa. Ao mesmo tempo que ficava com pena dele e do que sua vida se tornou após seu destino cruzar com o de Cordova, também me irritava com suas atitudes e esse eterno “papel de vítima”. Acredito que muitos dos problemas que ele se metia poderiam ser evitados se ele tomasse decisões mais inteligentes e acertadas. No entanto, vale ressaltar, que ele não está sozinho nessa jornada. Não quero estregar a surpresa, mas seus companheiros são mais interessantes que ele próprio. Um protagonista duvidoso é sempre mais difícil de engolir.

“Assim que você sacrifica o cordeiro é capaz de tudo e de qualquer coisa, e o mundo é seu, proclamava o site.”
E vamos ao mais importante, o misterioso Stanislas Cordova. Um gênio do terror, um mestre dos filmes que deixam as pessoas emocionalmente abaladas. Ele é uma figura que está toda a hora por trás de cada jogada e virada. Ele me levou a questionar todos aqueles famosos que idolatramos, mas que ignoramos a vida particular. Foi muito interessante ver os seus fãs mais fervorosos, algumas descrições dos seus filmes mais peculiares e as especulações que giram em torno da sua figura. Posso afirmar, com toda a certeza, que ele é um dos personagens mais ricos e bem construídos que já conheci na minha jornada de leitora. Ele é visto como um deus, uma figura sombria, um gênio da escuridão. Mas quem ele é de verdade? A nossa curiosidade apenas aumenta conforme conhecemos mais sobre os parcos relatos das pessoas que conviveram com ele.
Toda a história parece um roteiro de filme antigo. Resgatando aquele clima de mistério dos suspense dos anos 80 e 90. Uma tensão latente e crescente. O clima de investigação me lembrou muito Coração Satânico, de William Hjortsberg. Não que a história seja parecida, mas o clima, a ambientação e a busca frenética dos personagens por respostas nos transportam para esse mesmo lugar. E, claro, os personagens chamam a atenção por fugirem do genérico e serem ricos em detalhes.
“E mesmo agora aquela história aterrorizante em minha memória era pouco mais do que uma coletânea de imagens arrepiantes […]”
Quase no final do livro, temos uma constatação feita pelo nosso protagonista que nos deixa atônitos. Quando tudo parecia tão estranho, ele larga essa frase e tudo parece ter sentido. Na hora pensei: uau, que reviravolta! Mas, como nem tudo são flores, a história dá outra guinada e temos um final completamente diferente (e não muito criativo, eu diria), pois se a autora seguisse pela primeira revelação, seria muito mais interessante e original. Não que o final oficial seja ruim, mas poderia ser muito melhor. No geral, o livro é muito interessante, no começo eu estava super empolgada e pensando em algo um pouco diferente. Não fiquei completamente satisfeita com tudo, mas é uma indicação super válida para os fãs do gênero, que adoram um plot e um ar mais sobrenatural. Aqui teremos os dois lados de uma mesma história: em qual você acreditar?


FILME NOTURNO
Autor: Marisha Pessl
Tradução: Alexandre Martins
Editora: Intrínseca
Ano de publicação: 2014
Em uma noite fria de outono, Ashley Cordova é encontrada morta em um armazém abandonado em Manhattan. Embora a polícia suspeite de suicídio, o jornalista Scott McGrath acredita que exista algo mais por trás dessa história. Seu interesse pelo caso não é gratuito: Ashley é filha do famoso e recluso diretor de filmes de terror Stanislas Cordova, um homem que não é visto em público há mais de trinta anos e que, no passado, teve um papel trágico na vida de McGrath. Impulsionado por vingança, curiosidade e necessidade de descobrir a verdade, o jornalista é atraído para o horripilante e hipnótico mundo de Stanislas. Da última vez que chegou perto do cineasta, McGrath perdeu o casamento e a carreira. Dessa vez, pode acabar perdendo muito mais.