A Formatura é o terceiro e último livro da trilogia O Teste, da escritora Joelle Charboneau. Foi publicado pela editora Única em 2016.

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*Esta resenha contém spoilers dos dois livros anteriores.

SOBRE O LIVRO

Cia está mais aflita do que nunca. No livro anterior, ela descobre que a missão do grupo rebelde está comprometida, e que todos estão caminhando para uma emboscada. O Dr. Barners está sempre um passo à frente de seus inimigos, e vai usar as armas deles a seu favor. Se isso acontecer, não só o Teste se mostrará como um método eficiente, mas também como necessário para evitar novos insurgentes. É a chance que o Dr. Barners tem para ganhar ainda mais poder e tomar o controle definitivo da Comunidade das Nações Unificadas.

Ao mesmo tempo, a Presidente Collindar revela à Cia que já há algum tempo vem reunindo provas para destituir o Dr. Barners do poder e acabar com o Teste. Cia e a Presidente compartilham da mesma opinião de que pode haver um método de seleção mais eficaz do que aquele que seleciona os melhores através da morte. Mas para isso, precisam seguir as regras burocráticas e convencer o Congresso de que estão certas.

Na mitologia, o raio representa perda da ignorância ou punição para aqueles que ultrapassam seus limites. Usei dois raios, uma vez que pretendemos fazer as duas coisas.”

Cia sabe que não há tempo suficiente para esperar resposta do Congresso. O grupo rebelde pretende atacar a cidade em breve, e se isso acontecer, muitas vidas inocentes vão se perder e aí sim que o Teste se fortalecerá. Precisando agir rápido e silenciosamente, ela vai ter de recrutar aliados para por um plano alternativo em ação. Porém, à sua volta há vários espiões e só uma forma de saber quem é seu amigo: aplicar o seu próprio teste, talvez o último, que através da morte vai mostrar quem é quem.


MINHA OPINIÃO

Essa foi uma daquelas leituras que quando terminei fiquei satisfeito com a história, mas ainda cheio de muitas e muitas perguntas que a trama não responde (ou que ficam em aberto de propósito, quem sabe?). Finalmente Cia vai enfrentar os seus inimigos e descobrir que tudo o que ela sabe sobre o Teste pode não ser verdade. Como assim? Essa foi a mesma reação que eu tive ao concluir a série e devo dizer que foi uma sacada muito interessante da autora.

Cia já enfrentou diversos obstáculos para chegar onde está, e agora mais do que nunca, está com a vida em risco. Ao contrário de outras distopias, onde quem se rebela contra o sistema se torna visível, neste temos uma insurgente silenciosa, trabalhando por baixo dos panos, então todo cuidado é pouco e confiar é algo que ela não pode se dar ao luxo. Ao mesmo tempo em que ela precisa reunir informações do programa, ela tem em mente que há pessoas próximas que querem derruba-la ou até mesmo mata-la.

“Pela primeira vez em muito tempo, minha vida está em minhas próprias mãos.  Embora eu não saiba se essa vida durará muito mais do que os próximos dois dias, pelo menos sei que esse período pertence a mim.”

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É aí que a protagonista terá os seus dois maiores momentos de destaque. O primeiro e talvez mais complicado é como ela fará para saber quem é seu amigo e quem é espião. Ainda que ela não queira agir desesperadamente, conclui que única forma de fazer isso é criar algo que mate quem se mostrar contra ela. Mas ao fazer isso, o quão distante do Dr. Barners e do Teste ela fica? Diante dessa dúvida é que entramos no segundo grande momento da personagem. Ela começa a refletir sobre a forma como o Teste age, sobre como seleciona os mais inteligentes e passa a concordar com o programa, já que querendo ou não tem mostrado resultados eficientes, e ela mesma é a prova disso.

Achei bastante pertinente esse conflito da personagem. Como lutar contra algo que você vai usar a seu próprio favor? Por mais inteligente que ela seja, ela é um ser humano como qualquer outro, passível de falhas, de escolhas erradas, de conclusões incorretas. É o momento onde personagem e leitor se tornam um só e compartilham da mesma dúvida: o que fazer nessa situação?

“Perco o fôlego. Meu peito se aperta, enquanto as palavras ditas casualmente se instalam nos meus ombros como uma canga. Ela está aqui porque pedi. Ela não vai matar por paixão pelo nosso propósito, mas por minha causa, meu pedido, minha crença, minhas escolhas.”

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Cia se mostrará uma boa líder e comandará a própria rebelião de forma muito eficaz. Ainda que seja difícil confiar nas pessoas que se juntam à ela, o teste que cria dá uma certa segurança e motivação de continuar em frente. Seu objetivo não é apenas confrontar o sistema, mas tornar o mundo melhor, onde as pessoas tenham uma forma mais justa e menos cruel de serem recrutadas. Não é um pensamento exclusivo desta distopia, mas funciona super bem para justificar toda a luta da personagem e de seus aliados.

As cenas finais são tensas e cheias de reviravoltas também. O final é convincente, mas como eu falei no início, deixa muitas perguntas em aberto e nos mostra que o Teste era muito mais complexo do que parecia ser. Vi alguns leitores dizendo que não gostaram dessa abertura do final, já que vemos o surgimento de uma nova era, mas eu penso que seria muito chato o livro terminar com tudo resolvido 100 por cento. Ao meu ver, o final torna a história mais fiel à realidade.

“O título de líder só lhe confere autoridade se os oficiais e os cidadãos para quem você trabalha o seguirem.”

A Formatura encerra a trilogia de uma forma bem satisfatória. É bacana terminar a trilogia e ficar pensando em como será o amanhã da personagem. Acredito que o único ponto negativo da história é a limitação que a visão da Cia dá sobre tudo o que está acontecendo. Se tivéssemos desde o começo o ponto de vista de mais personagens, sobre os rebeldes, sobre a presidente, etc, acredito que a narrativa teria sido bem mais fluida e envolvente.

Nem preciso dizer que vale a pena conhecer A Formatura se você já leu e gostou dos dois livros anteriores ou se simplesmente gosta de distopias. Sem dúvida também vai gostar da forma como a personagem lida com os problemas, como ela pensa e como promove a diferença em um mundo onde todos acreditam que esteja bom.

A FORMATURA

Autor: Joelle Charboneau

Editora: Única

Ano de publicação: 2014

O futuro foi tão incerto e desesperador. Cia Vale jamais imaginaria que as coisas pudessem chegar a esse ponto. Ela tem uma importante missão: liderar as ações para a verdadeira reconstrução do mundo pós-guerra, um caminho sem volta. Agora, ela é peça-chave para concretizar o plano de pôr fim ao Teste, para o bem das pessoas. Diante de um horizonte cheio de cicatrizes brutais, uma guerra prestes a começar e um governo cruel e corrompido, Cia não tem escolha a não ser preparar para chegar às última consequências – se for preciso.

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