Fragmentados é do autor Neal Shusterman e foi lançado em 2015 pela Editora Novo Conceito.
Sobre o Livro
Fragmentados vai contar a história de uma sociedade, onde após uma segunda guerra civil que foi provocada pelo debate sobre o aborto, entre os Pró-Vida, os Pró-Escolha e o governo. Após uma descoberta médica e científica, a partir da qual se tornava possível o transplante de todas as partes do corpo de um ser humano, as partes chegaram a um acordo e a Lei da Vida foi estabelecida.
Todos teriam que ter os filhos e somente entre as idades de 13 e 18 anos eles poderiam ser “abortados”, ou seja, enviados para fazendas de colheita onde teriam seus corpos fragmentados para que as partes sirvam de transplante para outras pessoas. Dessa forma, afirma o governo, os jovens não morrem, apenas se dividem, vivendo através do corpo de outras pessoas, onde tiveram suas partes inseridas.
É nesse universo que vamos acompanhar Connor, Risa e Lev, três jovens com histórias distintas mas também com algo em comum: foram marcados para serem fragmentados.
Capa e Diagramação
Não sou a maior fã dessa capa, mas já que a editora a manteve, espero que publique os demais livros da série com as capas também originais, pois das próximas eu gosto bastante. A diagramação é padrão Novo Conceito, com bom tamanho de fonte e espaçamento adequado para que a leitura flua super bem.
Os capítulos são divididos por pontos de vista e também temos alguns capítulos com explicações, como um descrevendo o processo da colheita. Além de algumas referências a fatos que realmente aconteceram, como o caso da mulher que pôs a alma a venda no ebay em 2012, e que abre um dos capítulos do livro.
Minha Opinião
Acho que li poucos livros na vida que me fizessem pensar tanto no seu conteúdo ou significado, como esse. Trazendo a temática do aborto como motivo para o universo distópico explorado, já temos uma novidade, pois normalmente ou algum vírus dizimou a população ou o motivo é político e não é explicado claramente. Aqui, ao contrário, somos apresentados exatamente ao porque chegamos na situação atual do livro. E é exatamente por seu um assunto no qual debatemos tanto atualmente que a coisa se complicou na minha cabeça.
Fiquei pensando em como algo que hoje falamos e debatemos tão pacificamente poderia causar um universo extremamente diferente no futuro, como resultado dos rumos que decidirmos tomar. É claro que o transplante total de todas as partes do corpo ainda seja algo longe de acontecer – ou não – pra nós, mas não é algo impossível. Tudo isso combinado, criou uma história onde “assassinar” jovens, aos nossos olhos hoje, seria algo comum, justificável e uma escolha que os próprios pais tomariam. Será que seríamos capazes de chegar a esse ponto? Um momento futuro onde entregaríamos nossos filhos para serem “fragmentados” só porque eles não se comportaram bem ou não tem um futuro claro pela frente. Parece loucura. Mas se olharmos bem o quanto as pessoas são más nos dias atuais, já não parece tão louco assim. E isso não muda o quanto isso pode ser chocante e revoltante.
Bons livros são livros que além de entreter também fazem a gente pensar. E Fragmentados é um desses livros. Além de despertar reflexão, causa sentimentos. Fiquei imaginando o que o autor nos reserva para os próximos livros, pois parece que muita coisa aconteceu nesse primeiro, mas estamos longe de ver um desfecho. Os protagonistas aqui desenvolvidos importam como a voz dos jovens com ordem de fragmentação, mas mais importante que o que vai acontecer com eles é o que vai acontecer com a sociedade e até quando ela seguirá mandando seus jovens para salas de onde eles não sairão mais inteiros.
Acho que trazer a ideia da consciência mantida, influenciando ações dos que receberam os corpos foi muito interessante, pois pode confundir o leitor em acreditar que realmente o indivíduo doador se mantém vivo, e que por isso só, tudo seria justificado. Tem um momento lindo no fim do livro sobre essa manifestação, mas nada vai afastar a realidade dessa distopia e não há nada de aceitável nela.
Meu personagem favorito é sem dúvida, Connor e o menos querido foi o Lev. E isso reflete também minha postura, onde tudo que é manipulativo me causa inquietação, e para a vida de Lev não há nada mais importante do que cumprir sua missão, que é a de ser um dízimo. Agora imagine só, ter um filho e criá-lo para ser “despedaçado” e ensinar essa criança isso ao ponto de fazer com que ela ache que este é realmente seu destino.
Enfim, posso ficar discutindo esse livro por horas a fio, pois realmente há várias coisas relevantes a serem levadas em consideração. Mas só quero concluir dizendo que vale muito a pena a leitura e estou muito ansiosa pra ver com Shusterman vai dar sequência a esse livro e manter o alto padrão de narrativa. Então, se você chegou até aqui e ainda não está interessado em devorar Fragmentados, há algo de errado com você :D


FRAGMENTADOS
Autor: Neal Shusterman
Editora: Novo Conceito
Ano de publicação: 2015
Em uma sociedade em que os jovens rejeitados são destinados a terem seus corpos reduzidos a pedaços, três fugitivos lutam contra o sistema que os fragmentaria. Unidos pelo acaso e pelo desespero, esses improváveis companheiros fazem uma alucinante viagem pelo país, conscientes de que suas vidas estão em jogo. Se conseguirem sobreviver até completarem 18 anos, estarão salvos. No entanto, quando cada parte de seus corpos desde as mãos até o coração é caçada por um mundo ensandecido, 18 anos parece muito, muito longe.
O vencedor do Boston GLobe-Horn Book Award Neal Shusterman desafia as ideias dos leitores sobre a vida: não apenas sobre onde ela começa e termina, mas sobre o que realmente significa estar vivo.