Holocausto Brasileiro foi escrito pela jornalista Daniela Arbex e publicado pela editora Geração Editorial em 2013.

SOBRE O LIVRO

Com prefácio de Eliane Brum, o livro reportagem de Daniela Arbex vem nos contar uma parte obscura da humanidade. O Hospital Colônia, localizado em Barbacena, Minas Gerais, foi o retrato brasileiro de campos de concentração nazistas, onde aqueles que adentravam seus portões eram despidos não apenas de suas roupas, mas, mais do que isto, de sua dignidade.

No início do século XX os “portões da loucura” foram abertos para a entrada e encarceramento daqueles que de alguma forma eram um problema para alguém, fossem eles doentes ou simplesmente rejeitados e esquecidos, sem esquecer é claro, de alguns dos que foram enviados por parentes que acreditavam que o lugar era de fato um hospital, um local de cura.

“Toda história tem outra por trás dela. A do holocausto brasileiro não foge a esta regra.”

Através dos relatos de ex-pacientes que sobreviveram ao Colônia, ex-funcionários e pessoas que de alguma forma se envolveram nesta tragédia, a autora nos entrega um dossiê de textos e imagens de uma das maiores atrocidades cometidas pela humanidade em solo nacional.


MINHA OPINIÃO

Este livro foi colocado junto aos livros de terror em minha estante, porque, infelizmente, é um retrato assustador, não só da nossa história, mas também das permissões da nossa sociedade. 

É impossível descrever a experiência de realizar esta leitura e, ainda mais difícil, descrever o quanto ela é cruel ao revelar uma verdade. A verdade escondida atrás das cortinas políticas e religiosas que, por muito tempo, foram coniventes com o horror e a desumanização que ocorria atrás dos muros do hospital.

Uma história triste sobre pessoas que tiveram suas vidas roubadas apenas por serem desafetos de pessoas importantes na sociedade, ou que afetavam a ordem pública: homossexuais, militantes políticos, mães solteiras, alcoólatras, mendigos, negros, pobres e pessoas que perderam seus documentos.

A estimativa é de que 70% dos pacientes não possuíam nenhum tipo de transtorno psicológico; o manicômio era fonte de dinheiro para os governantes da época, que conseguiam através da exploração a construção de casas, estradas e o trabalho rural por pessoas que fariam qualquer coisa para ter um pouco de sua humanidade devolvida, qualquer coisa para serem retirados da imundice em que viviam, mesmo que por poucas horas.

“Meu filho, a inteligência é uma arma muito poderosa. Com ela, você pode salvar o mundo ou destruir pessoas.”

Para os mineiros, a expressão “trem de doido” é comumente utilizada para enaltecer ou exaltar algo, no entanto sua origem é bem diferente, especificamente era usada quando se avistava o trem que trazia os pacientes ao manicômio. Dentro da “sucursal” do inferno, como foi chamado pelos repórteres que lá estiveram, o horror e o caos eram aliados… crianças eram deixadas junto de adultos, a urina e o esgoto eram fonte de água para os internos, as camas foram substituídas por feno para que mais e mais seres humanos fossem largados ali, sem falar na “comida” – entre muitas aspas. Além destas atrocidades, os pacientes recebiam sessões de eletrochoque e duchas frias, que eram utilizadas como castigos a quem desobedece a ordem.

“‘Ué! Vocês criam porcos aqui?’- perguntou – ‘Não. Isso aqui é a comida dos pacientes’ – respondeu o cozinheiro.”

É difícil atribuir um adjetivo ao famoso hospício disfarçado de hospital, e mais ainda às pessoas responsáveis por esta barbárie. Uma parte suja e vergonhosa da história do país, que foi por muito tempo escondida. Mesmo com a visita de alguns jornalistas e a exposição da real situação do ambiente nada propício para qualquer tipo de tratamento, muitos fatos foram acobertados pela política e pela medicina até a exposição no jornal O Cruzeiro e o início da luta pela reforma da psiquiatria.

O que se encontra neste livro é assustador e angustiante mas precisa ser exposto, caso contrário, todas as vidas perdidas cairão no esquecimento. Acredito que a experiência desta leitura causará impactos diferentes de leitor para leitor, mas que de toda forma é algo difícil e incômodo.

Sendo um livro reportagem, não há como descrevê-lo sem contar a história e eu não me sinto capaz de dizer mais do que disse, apenas ressalto que na minha humilde opinião, todos deveriam lê-lo.


Documentário: Em nome da razão – Helvécio Ratton 


HOLOCAUSTO BRASILEIRO

Autor: Daniela Arbex

Editora: Geração Editorial

Ano de publicação: 2013

Durante décadas, milhares de pacientes foram internados à força, sem diagnóstico de doença mental, num enorme hospício na cidade de Barbacena, em Minas Gerais. Ali foram torturados, violentados e mortos sem que ninguém se importasse com seu destino. Eram apenas epilépticos, alcoólatras, homossexuais, prostitutas, meninas grávidas pelos patrões, mulheres confinadas pelos maridos, moças que haviam perdido a virgindade antes do casamento. Ninguém ouvia seus gritos. Jornalistas famosos, nos anos 60 e 70, fizeram reportagens denunciando os maus tratos. Nenhum deles — como faz agora Daniela Arbex — conseguiu contar a história completa. O que se praticou no Hospício de Barbacena foi um genocídio, com 60 mil mortes. Um holocausto praticado pelo Estado, com a conivência de médicos, funcionários e da população.

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