Infinita Highway é a biografia de uma das maiores bandas do rock brasileiro, Engenheiros do Hawaii, escrita pelo jornalista Alexandre Lucchese. Além de contar as origens e percalços do grupo, também pegamos uma carona para conhecer melhor a trajetória do rock nacional a partir dos anos 80. O livro foi lançado pela editora Belas Letras em 2016.
Duvido que você nunca ouviu por aí trechos de músicas dos Engenheiros. Você pode até não saber de qual banda se tratava, mas com certeza já ouviu aquela propaganda da Chevrolet que diz que “você precisa de alguém que te dê segurança”; ou talvez aquela do garoto que amava os Beatles e os Rolling Stones.
Engenheiros do Hawaii foi uma banda formada por acaso, nos anos 1984 em Porto Alegre, onde faria a abertura de um show para o curso de Arquitetura da UFRGS. O que aconteceu é que as coisas deram muito certo. Participando de concursos, fazendo shows sempre que conseguiam, a banda foi ganhando seu espaço e acabou marcando seu nome na história do rock no Brasil. Com muitas formações ao longo de sua existência, a mais marcante contém três indivíduos: Humberto Gessinger (vocal e baixo), Carlos Maltz (bateria) e Augustinho Licks (guitarra). Essa formação foi a responsável pela maior fase de sucesso da banda que consolidou seu nome e marcou gerações. Os Engenheiros do Hawaii continuaram seus trabalhos até 2008.
No livro, o jornalista Alexandre Lucchese reconstrói toda a rota inicial que levou os Engenheiros aos topos das rádios. Dissertando desde números importantes – como datas e número de vendas – até a personalidade dos integrantes, somos inseridos em um contexto completamente diferente, uma verdadeira viagem no tempo (pelo menos para mim, que nasci somente em 1995, quando a banda já estava à beira da dissolução de sua formação clássica, citada acima).
Quem me conhece, sabe que sou uma grande fã desse grupo. Na minha adolescência, minha mãe limpava a casa ouvindo suas músicas, e foi o primeiro contato que tive com os Engenheiros. Desde então, tudo o que sei é sobre as letras, os álbuns e os integrantes (principalmente Humberto Gessinger, por quem cultivo uma admiração em especial). O livro me proporcionou conhecer detalhes que de outra forma jamais saberia, afinal, ele é resultado de uma pesquisa extensa que começou a ser feita desde 2014.
“– A última profissão que eu imaginaria para o Humberto seria ele ganhar a vida no palco. Foi uma surpresa que a vida me deu. É uma coisa para a qual até hoje não tenho explicação – afirma Casilda Gessinger, mãe de Humberto.”
Com entrevistas com os ex-integrantes, familiares, produtores, roadies, fãs e outras figuras importantes para a trajetória da banda, o livro não deixa nada a desejar. Apesar da construção das polêmicas serem um pouco forçadas e até mesmo apelativas – ainda mais para mim, que atravesso a rua para não encontrar com elas –, um leitor despreocupado com esses detalhes apreciará completamente essa experiência. Acredito que além de ser uma biografia de uma só banda, o livro tem potencial para apresentar todo o cenário da música dos anos 80 a 90, agradando a qualquer admirador da música.
As letras compostas pelo vocalista Humberto Gessinger me chamam a atenção desde menina. Acho até que ele foi um dos responsáveis por eu ter escolhido cursar Ciências Sociais, já que suas composições são carregadas de trocadilhos e reflexões que muitas vezes puxam para esse lado mais filosófico e político (e que por muitos anos não entendi totalmente e até hoje não entendo). Isso tudo é para destacar que o autor do livro cumpre um papel muito bacana, pois faz uma mediação das letras e do ouvinte. Em diversas partes, ao discorrer sobre os álbuns, Lucchese fala um pouco sobre as referências utilizadas por Humberto para criar as letras, referências essas que vinham desde a cultura mainstream daquela época até referências literárias.
A edição do livro está super caprichada. Os capítulos são nomeados com os trechos das músicas mais famosas da banda e segue uma cronologia dos acontecimentos, às vezes citando comentários dados pelos entrevistados durante a pesquisa do autor. Na primeira metade do livro, também encontramos imagens dos integrantes, de shows, backstage e viagens. Logo, a leitura é bastante dinâmica, fluída e não apresenta nenhum obstáculo; quando você percebe, leu cinquenta páginas e nem viu.
“Na época do colégio, meus colegas não curtiam a banda como eu. Ficavam me perguntando como é que eu entendia as letras. Mas é que tem várias interpretações. O legal do trabalho do Humberto é justamente que cada um pode dar o seu sentido, e também pode muda-lo ao longo do tempo, conforme o que acontece na tua vida.”
A pesquisa do autor para escrever o livro chega somente até 1996, quando o último integrante da formação clássica, Carlos Maltz, deixa a banda. Sabendo muito bem como construir uma narrativa de fatos, Lucchese conseguiu criar uma biografia clara e bem-humorada. Para concluir, deixo aqui meu pedido ao autor que continue sua pesquisa e faça um segundo livro para falar sobre os anos seguintes dos Engenheiros do Hawaii. Seria mais uma incrível viagem por essa infinita highway.
Atualmente, Humberto Gessinger continua a tocar em carreira solo, fazendo shows em trio. Desde seu último projeto musical chamado Pouca Vogal, Humberto lançou um disco solo chamado “Insular” e alguns singles, como o que dá nome à turnê vigente “Louco Pra Ficar Legal”. Além de apresentar os novos trabalhos, ele não deixa de tocar os grandes sucessos dos Engenheiros do Hawaii que leva sempre a plateia à loucura, cantando em uníssono.
INFINITA HIGHWAY
Autor: Alexandre Lucchese
Editora: Belas Letras
Ano de publicação: 2016
Era pra ter durado uma noite só. Era pra ter sido somente uma banda de abertura. Era pra ter outro nome. Não era pra ser um trio. Eram várias variáveis. Graças a essa sucessão de fatos estranhos, quando não ter plano é o melhor plano, nasceu uma das maiores bandas do rock brasileiro: Engenheiros do Hawaii. Uma história cheia de lances improváveis que o jornalista Alexandre Lucchese conta nesta biografia, depois de ter entrevistado mais de uma centena de pessoas ligadas à banda, inclusive Humberto Gessinger, Carlos Maltz e Augusto Licks, o trio responsável pela fase de maior sucesso, que acabou se desfazendo anos mais tarde em meio a brigas e processos judiciais. Embarque na infinita highway para ver como nada do que foi planejado para a viagem deu certo, mas, nesse caso, ter dado tudo errado não poderia ter sido o mais certo.