Madame Bovary, chamado de “o romance dos romances”, é uma obra do escritor francês, Gustave Flaubert, republicado já por inúmeras editoras, sendo essa da editora L&PM Pocket.

SOBRE O LIVRO

Charles Bovary, um homem sem sonhos, sem objetivos, estúpido, insensível, incompetente, mas extremamente apaixonado por Emma, que após alguma determinação de sua parte, talvez a única vez que determinou-se verdadeiramente em algo em sua vida, colocou seu sobrenome na moça, tornando-a Madame Bovary.

“O dever é sentir o que é grande, querer o que é belo, e não aceitar todas as convenções da sociedade, com as ignomínias que ela nos impõe.”

Ela, por sua vez, mocinha com espírito livre, sonhadora, romântica, amante de bons romances, que lhe faziam acreditar que a felicidade pelo amor era exatamente da forma como estava descrita em seus livros, e ter acreditado nesse ideal foi a sua ruína, pois nunca imaginou que o “e foram felizes para sempre” dos livros, seria, para ela, o inicio do seu pior pesadelo.


MINHA OPINIÃO

O livro já começa com uma dedicatória de Flaubert a seu advogado, Marie-Antoine Sénard, pois graças a ele, que fez uma ótima defesa, esse livro pode ser publicado. Para quem não sabe, por conta da temática da história, Flaubert enfrentou algumas dificuldades até ter sua obra oficialmente publicada, tendo sido levado aos tribunais, em 1857, por ter sido acusado de ofender à moral e à religião. Foi absolvido pelos juízes, mas não pelos críticos puritanos, que acharam imperdoável o tratamento tão cru a respeito do adultério. Mas, como diz o ditado: “há males que vem para o bem”, e todo esse alarde e censura em cima do livro despertou a curiosidade das pessoas em lê-lo, tendo sido, então, um sucesso de vendas.

Não é à toa o alarde em cima dessa obra, tendo em vista a abordagem polêmica, que era completamente censurada na época, principalmente quando cometida por uma mulher. Se não bastasse isso, a complexidade da personalidade da personagem era tanta que acabou sendo um objeto de estudo, principalmente quando o autor disse em julgamento, para sua defesa, que “Emma Bovary ces’t moi” (tradução: Emma Bovary sou eu). Caso você veja o termo “bovarismo” por aí, saiba que é graças à personagem de Emma.

“Não sabeis que há almas que vivem incessantemente atormentadas, almas que precisam se entregar alternadamente ao sonho e à ação, às mais puras paixões e às mais desenfreadas alegrias, a ponto de finalmente se entregarem a todo tipo de caprichos e loucuras?”

Averso aos contos de fadas, onde normalmente a donzela encontra seu príncipe encantado e ambos vivem felizes para sempre, aqui nós temos um dos viés da realidade: um casamento infeliz, tendo a traição como consequência. Não só isso, temos também a figura de muitos personagens com personalidades miseráveis, e isso nos faz perceber, que embora a personagem que dá nome ao livro seja a principal, a história não se trata absolutamente só sobre ela, nos fazendo acompanhar a vida de outros personagens e notar que, muitas vezes, o ser humano consegue ser uma peste.

Uma história que começa onde as outras costumam terminar acabou me fazendo pensar em quantos finais felizes não foram destruídos pelo casamento. Será que a Pequena Sereia não decidiu voltar para o mar? Será que a Branca de Neve não suportou as manias do seu amado e voltou a morar com os 7 anões? Até porque, um casamento em que as duas partes tiveram livre arbítrio para dizer sim ser o início de uma vida conjugal imensamente infeliz, não é uma premissa muito vista por aí.

Emma tem uma personalidade completamente insuportável; é uma mulher do interior, sem muitas riquezas, querendo, desesperadamente, levar uma vida burguesa e fazendo com que seu marido e todos a sua volta correspondam as suas expectativas à força. No entanto, seu marido, Charles, embora muito simplista, caseiro e adorador da sua rotina, tem a cabeça no lugar no quesito finanças, não correspondendo as luxurias da esposa, e isso para ela era um tédio a ser combatido. Com o passar do tempo, quanto mais ia odiando aquele marido que tanto a amava, ela foi se vendo sufocada dentro de uma vida que sentia não lhe pertencer.

Embora também odiasse aquele sobrenome vergonhoso atrelado a sua imagem, visto que Charles era um médico fracassado, no fundo ela parecia não ver o divórcio como opção, tendo uma esperança de que o marido fosse lhe dar ouvidos. Jamais tendo suas expectativas correspondidas uma única vez sequer, Emma vai em busca das sensações que sentia ao ler seus livros, tornando-se uma pródiga adúltera.

“E Emma buscava saber o que significavam exatamente, na vida, as palavras felicidade, paixão e embriaguez, que tão belas lhe pareceram nos livros.”

Por mais que o livro trate bastante sobre um tema meramente sexual, não imagine que aqui terá aquela pitada a la Cinquenta Tons de Cinza, bem longe disso. Madame Bovary não é um livro erótico! Até porque, esses casos extraconjugais não são apenas sexo, Emma enxerga aqueles homens como maridos em potencial, e para que isso desse certo, ela precisava provar para si mesma que eles seriam diferentes de Charles em todos os aspectos, incluindo as boas conversas que eles poderiam lhe oferecer, afinal, era uma mulher muito culta e questionadora e que gostava de conversar sobre os mais diversos temas, sempre confrontando a religião e os “bons costumes”. Além disso, as passagens de atos sexuais são tratadas com muita sutileza, acredito que justamente para a premissa central da história não se perder.

Em suma, este clássico chamado Madame Bovary é um livro que merece ser lido até por aqueles que são fãs dos mais melosos e felizes romances que existem por aí, até mesmo para ter um comparativo das obras de fantasia, com uma obra como Madame Bovary, que fora um marco do realismo na literatura.

MADAME BOVARY

Autor: Gustave Flaubert

Editora: L&PM Pocket

Ano de publicação: 2010

Emma é uma mulher sonhadora, uma pequeno-bur­guesa criada no campo que aprendeu a ver a vida através da literatura senti­men­tal. Bonita e requintada para os padrões provincianos, casa-se com Charles Bovary, um médico interiorano tão apaixonado pela esposa quanto entediante. Nem mesmo o nascimento de uma filha dá alegria ao indissolúvel casamento no qual a protagonista sente-se presa. Como Dom Quixote, que leu romances de cavalaria demais e pôs-se a guerrear com moinhos, ela tenta dar vida e paixão à sua existência, escolha que levará a uma sucessão de erros e a uma descida ao inferno.

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