Meio Mundo é o segundo volume da trilogia Mar Despedaçado, do autor Joe Abercrombie. O lançamento é de 2017 pela editora Arqueiro.

*Esta resenha contém spoilers do livro anterior

Sobre o Livro

Algum tempo se passou e Yarvi já é um ministro habilidoso. Sua missão tem sido achar formas para se desvencilhar do Rei Supremo, já que ele impõe regras que Uthil não está disposto a cumprir e que prejudicam Gettand. Para tal missão, ele vai precisar de ajudantes um tanto quando peculiares e cruzará meio mundo para solucionar esse problema.

“Para um guerreiro, tudo deve ser uma arma.”

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Thorn Bathu quer ser uma guerreira, mas em uma sociedade machista, mesmo sendo uma das melhores da classe, não é suficiente para convencer o treinador de que merece se formar e dar o próximo passo. Em um teste feito para Thorn falhar, um dos adversários acaba morto, e ela sentenciada à a morte. Para livrar a jovem do destino que foi armado pra ela, Brand, um de seus colegas de treinamento, conta ao ministro sobre a injustiça sofrida pela garota e Yarvi logo já traça um plano para virar o jogo a seu favor.

Ele recruta Thorn para fazer parte de sua missão e viajar com ele para terras distantes. Para moldar a garota ele chama uma misteriosa mulher, Skifr. Ela é mortal em seus movimentos e treinara Thorn para lhe superar. O que Yarvi deseja com isso é um mistério, mas certamente há um mistério envolvido, pois já descobrimos no primeiro livro o quanto ele é habilidoso em esconder seus planos.


Minha Opinião

Meio Rei foi uma grande surpresa no ano passado. Eu não conhecia o autor e fui dar início a série apenas porque a premissa e capa pareciam legais. Eis que fiquei muito surpresa com os rumos da história e a personalidade de Yarvi. O meio rei não é o protagonista aqui, cedendo lugar para Thorn, mas segue ao lado dela com seus maquinações.

Se aprendemos algo com o primeiro livro é que impressões enganam e que o jovem ministro está sempre com os olhos bem abertos. Logo de cara percebemos que há um clima tenso no ar. Uthil não vai dobrar seus joelhos para o Rei Supremo e deixar seu povo ser saqueado, porém nenhum outro reino do Mar Despedaçado está disposto a apoia-lo. E é por isso que Yarvi vai ter que buscar ajuda um pouco mais longe.

O propósitos dele e da Rainha Dourada Laithlin só serão completamente expostos no final do livro e é incrível perceber como mais uma vez caminhamos por um longo caminho sem perceber tudo o que vinha sendo tramado desde o começo.

“O medo é uma coisa boa. O medo mantém você cautelosa. O medo mantém você viva.”

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Thorn é nossa protagonista e vamos tê-la como foco grande parte do tempo. Há também capítulos pelo ponto de vista de Brand, mas ele tem menos espaço. Esse segundo sofre uma transformação frente aos nossos olhos ao longo do livro. Ele salva Thorn mas não quer constrange-la contando. Ele quer ser mais forte que ela, quer mostrar que é útil, capaz e corajoso. É determinado e solícito, mas também é um garoto inseguro em vários momentos. Essa “amiga” que existe em Thorn, nada mais é do que uma ligação por eles terem treinado juntos. Não há realmente um vínculo, e como ela não é muito aberta, há bastante tensão nos contatos.

Mas ele é um bom personagem e vai ganhando nosso respeito ao longo da história. Principalmente na segunda metade, quando algumas coisas acontecem e passamos a apreciar seu carisma e até a ter compaixão pela sua situação.

Já Thorn é até difícil de descrever. Ela é uma flor cheia de espinhos. Ela quer ser uma guerreira mas não quer perder. Tudo tem que ser pra já, até que ela cai vezes suficiente para perceber que o que ela conhecia antes como treinamento ficou pra trás, e Skifr é muito pior do que o treinador jamais foi, mesmo como ela.

Ela cresceu em um mundo machista onde mulheres não tinham o direito de lutar, e mesmo assim escolheu esse caminho. Agora ela realmente quer ser mortífera e as vezes deixa completamente seus sentimentos de lado para abraçar isso, e pode acabar machucando algumas pessoas no caminho, inclusive ela mesma. Thorn não é descrita como bonita ou sensual, como outras personagens femininas e lutadoras as vezes são. Pelo contrário, o autor acreditou em um caminho diferente. Ele tirou grande parte da feminilidade dela, raspou o cabelo, pôs músculos no corpo e moldou Thorn para ser uma arma.

“Thorn era uma matadora. Isso ninguém poderia negar.”

Mesmo assim, em sua essência ela ainda é uma mulher e sofre com esses dilemas e pensamentos que passam por sua cabeça. Ela deixou uma mãe pra trás, alguém que nunca a quis como guerreira. Alguém pra quem ela vai ter que voltar caso aquilo que ela nem sabe o que é que está fazendo não dê certo, e isso também a assombra. Ela já falhou uma vez e foi condenada à morte, não pode falhar de novo.

Por causa de seus altos e baixos, o leitor sente um mix de sentimentos pela personagem. Eu a odiei, senti pena, compaixão e torci muito por Thorn. ela é conflituosa e não acredita que mereça ser tratada com carinho. Por vezes é até selvagem, e quando estamos em sua mente somos capazes de compreender exatamente o porquê.

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Nós andamos um pouco no primeiro livro, mas aqui vamos avançar além do Mar Despedaçado e conhecer outro povos e dinâmicas. O camilho é longo e cheio de dificuldades, o que nos dará tempo para conhecer bem nossos personagens. Yarvi está sempre em algum canto da cena dando o seu toque final e é incrível ver o quanto o personagem cresceu do garoto do primeiro livro, principalmente porque ele tem um respeito imenso de todos.

O terceiro livro, Meia Guerra, é o próximo lançamento e estou torcendo para que saia ainda esse ano. Como o próprio nome já diz, uma grande batalha está se aproximando e esse livro serve para estabelecer quem vai lutar ao lado de quem. É claro que, como estamos falando dessa série, tudo pode mudar a qualquer momento e Yarvi pode estar maquinando algo que não pensamos ainda, mas acredito que teremos algumas cenas grandiosas no terceiro volume e novos personagens a serem introduzidos. Imagino que vamos mudar novamente de ponto de vista e acompanhar outras pessoas mais de perto, sem abandonar os velhos amigos do primeiro e agora segundo livro.

Se você leu Meio Rei, Meio Mundo não fica atrás. O que eu vi algumas pessoas reclamando está apenas no fato de termos uma protagonista feminina aqui, ao invés de um homem. Para alguns leitores masculinos, fez com que eles perdesse a “identificação”, o que eu particularmente acho um bobagem. Afinal, se eu que sou mulher me dei bem com o Yarvi, porque vocês homens não podem se dar bem com a Thorn? ;)

MEIO MUNDO

Autor: Joe Abercrombie

Editora: Arqueiro

Ano de publicação: 2017

Thorn Bathu não é uma garota comum. Mesmo tendo sido criada numa sociedade machista, ela vive para lutar e treina arduamente há anos. Porém, após uma fatalidade, ela é declarada assassina pelo mesmo mestre de armas que deveria prepará-la para as batalhas.
Para fugir à sentença de morte, Thorn se vê obrigada a participar de um esquema do ardiloso pai Yarvi, ministro de Gettland. Ao lado dela se encontra Brand, um guerreiro que odeia matar, mas encara a jornada como uma chance de sustentar a irmã e conquistar o respeito de seu povo.
A missão dos dois é cruzar meio mundo a bordo de um navio e buscar aliados contra o Rei Supremo, que pretende subjugar todo o Mar Despedaçado. É uma viagem desafiadora, em que Brand precisa provar seu valor e Thorn fará o necessário para honrar a memória do pai e se tornar uma verdadeira guerreira.
Guiando os personagens por caminhos tortuosos em busca de amadurecimento e redenção, Joe Abercrombie mais uma vez nos maravilha com uma história grandiosa, que se sustenta sozinha por seu vigor, mas também dá continuidade à saga de Gettland e Yarvi. Finalista do prêmio Locus, Meio Mundo deixará o leitor na expectativa do desfecho desta série épica.

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