Menino de ouro é um livro da autora Abigail Tarttelin. Sua publicação é de 2013 pela Globo Livros.

Sobre o Livro

Max é o típico garoto modelo: inteligente, bonito, atlético, ótimo filho, irmão maravilhoso, se dá super bem com as garotas, tem um futuro brilhantemente traçado para ele. É o primogênito de uma família praticamente perfeita, com uma mãe advogada que faz de tudo para manter a imagem de excelência tanto no âmbito familiar quanto no profissional. Um pai é exemplo na comunidade e o preferido para o cargo público para o qual decidiu concorrer. A família de Max só não atinge o nível máximo de superioridade por causa de seu irmão, Daniel. Ele é arteiro, impulsivo, não dado a afeição. Ele é o oposto de Max.

Acontece que Max esconde um segredo, que só é sabido pela sua família e pelo seu primo-melhor amigo. E esse segredo é que a perfeição de Max atingiu um patamar tão alto, que ele foi sorteado exatamente com 46 cromossomos XX e 46 cromossomos XY, tornando-se assim um hermafrodita raro, que tem ambos os órgãos sexuais. Ele é menino e menina. Mas antes de qualquer coisa ele é Max, o menino de ouro.

“Eu sou um irmão. Não sou uma irmã. Não sou um tudo. Não sou um nada. Não tenho grandes escolhas a fazer. Sou um adolescente, e meu maior esforço é ser normal.”

Aos 15 anos, e mesmo vivendo com esse segredo, o adolescente segue seus dias de maneira feliz e segura, de certa forma aceitando suas particularidades e aprendendo a lidar com as questões que surgem a partir de sua condição. Até que Hunter, seu melhor amigo, aparece na história e muda tudo de maneira drástica. E agora, como tentar permanecer inteiro quando o mundo perfeito com o qual estamos acostumados começa a ruir, parte por parte, levando para o chão todas as certezas? O que fazer quando carregar um segredo se torna sinônimo de dor e desamparo? Com quem falar quando ninguém sabe exatamente quem você é e o que você sente? E como ser um menino de ouro quando você já não tem mais certeza de quem é?


Minha Opinião

O que você, que está lendo esta resenha e que provavelmente é uma pessoa com o hábito de ler, espera encontrar lá pela vigésima página de um livro? Eu normalmente acredito que a história está começando, está apresentando de maneira mais superficial os personagens, mostrando a ponta do direcionamento que pretende seguir, ou seja, de modo geral espero que a leitura esteja relativamente tranquila. Ainda mais se tratando de um livro como este, um Young adult com uma capa tão despretensiosa e que, pelo que percebo e posso estar totalmente errada, nem parece ser (à primeira vista) um livro daqueles super modinha e que se transformou naquele hype totalmente instagramável. Certo?

Gente, gostaria de dizer que esse livro não é nada disso que falei esperar no parágrafo acima, e que lá pela página vinte a gente percebe que a leitura promete despertar uma montanha russa de sentimentos. Eu chorei primeiramente nessa parte. Eu chorei de raiva, de ódio mesmo, mas também senti uma vontade tão grande de pegar o Max no colo e dar um abraço apertado até conseguir sentir o coração dele batendo perto do meu, que fiquei pensando depois se alguma vez um livro já tinha me feito sentir dessa forma tão rapidamente. Isso porque o garoto sofre. Logo no começo ele sofre o maior trauma que uma pessoa poderia sofrer, e vindo justamente de quem menos se espera (como é muito comum em casos assim). E a partir dessa situação a autora começa a mostrar para o leitor como é tentar ser perfeito quando se sente que é tudo, menos isso.

A narrativa é costurada através de diversos pontos de vista: O próprio Max, seu irmão Daniel, sua mãe Karen, seu pai Steve, Archie a médica e Sylvie, a namorada. Cada um desses personagens fala não somente sobre sua percepção do garoto, mas também sobre suas próprias questões, de modo que vamos percebendo o motivo de cada um fazer parte da existência de Max e de que maneira mudam sua vida e seu futuro. Temos então uma história que nos é contada com visões diferente tanto de Max quanto do mundo. Vemos desde o discurso de um menininho que ama e inveja o irmão e que daria tudo para ser mais como ele (mesmo sem saber a carga emocional que o mesmo carrega) até uma médica que usa termos mais técnicos para falar sobre o que significa ser intersexual, condição de Max.

“Eu disse ao meu irmão o que queria ser, e ele disse que era legal, mas que infelizmente ele não me deixaria lhe adicionar extensões, porque ele quer ser quem ele é e ver como isso vai funcionar. Eu disse que isso era burrice. Quem não gostaria de ser perfeito?”

Neste livro temos várias histórias sendo contadas ao mesmo tempo. Nos apaixonamos por umas e detestamos outras, mas não ficamos indiferentes ao discurso de ninguém. Passamos por temas relacionados a abuso, a questões comportamentais, problemas parentais, questionamentos inerentes à adolescência e o resultado nem sempre positivo das decisões que são tomadas pensando exclusivamente na opinião alheia. A história é tensa, é densa, é complexa e é tão extremamente necessária que muito me impressiona que este livro ainda não tenha sido adotado em escolas como leitura sugerida. Me espanta que ele não seja exaustivamente indicado nas redes sociais e que ele ainda não tenha sido reconhecido como um serviço de utilidade pública.

Isso em parte porque a intersexualidade é um tema que pouco se discute no meio literário, ainda mais em livros juvenis. E é uma condição real, que gera conflitos intensos e que precisa ser desmitificada, desvelada para que mais pessoas a conheçam e lidem com ela de maneira mais assertiva e gentil. Mas não só por isso, e sim porque a autora conseguiu falar de maneira tão crua, sensível, direta e sem medo sobre temas que são tabus até hoje.

A questão da importância da sexualidade, a necessidade de apoio emocional em momentos de crise sem que isso seja visto como fraqueza, o direito que cada um tem sobre o próprio corpo e sobre decisões relacionadas a ele, mas principalmente o quanto é cruel essa necessidade de encaixar pessoas em modelos socialmente melhor aceitos. Através da história de Max aprendemos sobre a dor interna de quem não se encaixa, sobre como esse sentimento de inadequação pode ser o estopim para medidas tão drásticas que o peito aperta e a angústia surge só de pensar.


“- O que é empatia?
– Empatia é quando você compreende as outras pessoas, mas… você sente a compreensão em vez de pensar sobre ela. É diferente da simpatia. É quando você pode se imaginar sendo a outra pessoa. Você entende o que quero dizer?”

Esse é um livro que precisa ser lido, mas não é nada fácil de encarar quando você percebe o que de fato ele quer dizer. Essa é uma história que precisa ser conhecida, mas é contada através de uma narrativa que mexe tanto com nosso emocional que se transforma num paradoxo que chega até a ser brutal: deve ser conhecida por todos, mas não é para qualquer um. Indico a leitura, mas por sua conta e risco. E lhe asseguro que a experiência é extremamente transformadora e necessária.

MENINO DE OURO

Autor: Abigail Tarttelin

Tradução: Cecilia Giannetti

Editora: Globo Livros

Ano de publicação: 2013

A família de Max não permitiria nenhum desvio na imagem perfeita que havia construído. Karen, a mãe, é uma advogada renomada, determinada a manter a fachada de boa mãe, esposa e profissional. Steve, o pai, é o exemplo do chefe de família presente em sua comunidade, favorito a um importante cargo público. O ponto fora da curva é Daniel, o caçula, que, para os padrões da família Walker, é “estranho”: não é carinhoso, inteligente ou perfeito como Max. Melhor aluno da escola, capitão do time de futebol, atlético, simpático, sucesso entre as garotas: Max, o primogênito, é o menino de ouro. Ninguém poderia dizer que sua vida não é perfeitamente normal. Ninguém poderia dizer que Max esconde um segredo. Ele é diferente, especial. Max é intersexual: nasceu com os dois conjuntos de cromossomos, XX e XY e, portanto, é menino e menina. Ou nenhum dos dois. É a partir do olhar de cada pessoa que orbita a vida de Max que a autora Abigail Tarttelin compõe a sua narrativa em Menino de Ouro. Cada uma das personagens esboça seu dia a dia, suas inseguranças e conquistas, e, principalmente, seu relacionamento com Max. Apesar da dimensão de seu segredo, Max parece à vontade com sua vida. Seus questionamentos sobre sexo, relacionamentos e até sobre rejeição são tantos quanto um adolescente de 15 anos poderia ter. O cenário muda drasticamente quando Hunter, seu melhor amigo desde a infância, volta do passado e abusa de sua confiança da pior maneira que poderia. No romance, Abigail Tarttelin trata de forma sensível, mas direta, as questões da identidade e do que consideramos “ser normal”. A autora traz à tona questionamentos sobre até que ponto o gênero sexual define uma pessoa e suas relações, por dentro e por fora.

Relacionados

Destaques

Insta
gram

[jr_instagram id='3']

Parceiros