Sobre a história

Karen Reyes é uma menina de 10 anos completamente alucinada por histórias de terror. Sua imaginação voa tão longe dentro das referências da época que ela se desenha e se lê como uma “lobismoça”, assumindo traços animalescos em sua feição.

Porém, é com o assassinato de Anka Silverberg, uma sobrevivente do Holocausto e sua bela e enigmática vizinha, que a jovem Karen começa a investigar os outros moradores do prédio e também dua própria família.

Morando com a mãe e o irmão, há assuntos em que não se tocam e conversas que não acontecem, e na busca de Karen por respostas talvez algumas dessas coisas precisem ser discutidas.


Minha Opinião

Com o livro desenhado todo com canetas e canetinhas emulando o diário de Karen, inclusive pela presença das linhas de folha pautada em cada página, a autora Emill Ferris, que publicou seu primeiro trabalho aos 55 anos e foi vencedora de inúmeros prêmios, elevou o nível das publicações do gênero com uma trama instigante.

Apesar de ter um tom lúdico por ser conduzida por uma protagonista de apenas 10 anos e que se vê como um lobo, a trama vai além da superfície quando começa a desvelar os segredos escondidos não só entre os vizinhos da personagem como dentro de sua própria família.

Pelo simples fato de estarmos falando de uma Chicago nos anos 1960 em uma área multiracial e da personagem morta ser uma sobrevivente do holocausto na Alemanha da década de 30 e 40, sabemos que temas relacionados serão trabalhados e ajudarão a dar o tom da trama, atrelados a assuntos que vão se desenvolver através das investigações de Karen.

A menina, por ser uma fã de terror, desenha em seu diário várias capas de produções da época, e sempre se colocando nessa figura de “lobisomem” o que pode, inclusive, confundir alguns leitores a crer que aquela é sua verdadeira forma durante a leitura e que, na verdade, estamos lidando com uma obra fantástica, o que não é o real.

Os conflitos familiares abordados também são muito interessantes dentro da dinâmica que se desenvolve. A ligação de Karen com o irmão, sua relação com a mãe e a ausência do pai. Há uma conexão forte com a arte também, pois o irmão vive lhe levando a museus e exposições, o que faz com que várias obras famosas sejam mencionadas e redesenhadas também pela protagonista em seu diário.

Isso colabora para que tenhamos uma diversidade de formas em que a narrativa é apresentada nas páginas e, mesmo assim, se mantém uma coerência e unidade durante toda a história.

Acho que uma curiosidade interessante é que, além da autora já ter 55 anos quando publicou Minha Vida Favorita é Monstro, é o fato de que ela sofreu de uma grave doença que limitou e quase a fez perder a totalidade dos movimentos de alguns membros, incluindo a mão direita. E que, foi no processo de recuperação disso que a criação do quadrinho começou e fomos contemplados com essa obra única.

A história, que é adulta e tem um tom sombrio, vai, portanto, acompanhar as investigações de Karen e descobriremos junto com ela as informações sobre os demais personagens e, por isso, pode também apresentar uma densidade de leitura maior que o usual para obras do tipo.

Para mim, que não sou uma leitora tão assídua de quadrinhos (estamos melhorando isso, já que em 2019 consegui consumir quase 40 títulos do estilo) essa foi uma das leituras do estilo que mais me demandou tempo e concentração nos quadros. Isso não só pela quantidade de páginas, que passa de 400, mas também pela quantidade de texto.

Independente disso é uma trama que vale o investimento não só pela história, mas pela verdadeira obra de arte que é a construção narrativa de Emill Ferris com suas ilustrações e forma única de contar a história!

MINHA COISA FAVORITA É MONSTRO

Autor: Emill Ferris

Tradução: Érico Assis

Editora: Quadrinhos na Cia

Ano de publicação: 2019

Com o tumultuado cenário político da Chicago dos anos 1960 como pano de fundo, Minha coisa favorita é monstro é narrado por Karen Reyes, uma garota de dez anos completamente alucinada por histórias de terror. No seu diário, todo feito em esferográfica, ela se desenha como uma jovem lobismoça e leva o leitor a uma incrível jornada pela iconografia dos filmes B de horror e das revistinhas de monstro. Quando Karen tenta desvendar o assassinato de sua bela e enigmática vizinha do andar de cima ― Anka Silverberg, uma sobrevivente do Holocausto ― assistimos ao desenrolar de histórias fascinantes de um elenco bizarro e sombrio de personagens: seu irmão Dezê, convocado a servir nas forças armadas e assombrado por um segredo do passado; o marido de Anka, Sam Silverberg, também conhecido como o jazzman “Hotstep”; o mafioso Sr. Gronan; a drag queen Franklin; e Sr. Chugg, o ventríloquo.

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