Mulheres Perigosas é um livro de contos organizado por George R. R. Martin e Gardner Dozois, publicado no Brasil em 2017 pela editora Leya.

Sobre o Livro

Desde os primórdios a mulher é protagonista de sua própria história, porém isso nem sempre é retratado como deveria. Em Mulheres Perigosas autores de diversos núcleos dão voz a muitos tipos de mulheres, sejam elas crianças, jovens, adultas ou velhas. Passeando por tipos diferente de narrativa, gênero e perspectiva conheceremos mulheres inteligentes, sagazes, espertas, poderosas e, na essência da palavra, também perigosas.

“Ela queria ser uma heroína, mas era apenas uma garotinha, e ninguém ligava.”

Alguns autores trazem velhos personagens como George Martin com mais um conto originado de As Crônicas de Gelo e Fogo, ou Diana Gabaldon, com um jovem Jamie Fraser de Outlander. Outros constroem novas e inéditas histórias que despertam o leitor a queres saber mais sobre os autores, muitos ainda não publicados no Brasil.

É a vez das damas mostrarem sua força em tramas contemporâneas, fantásticas, distópicas, de suspense ou drama, da mais simples mortal envolta na vida doméstica a poderosa herdeira de uma linhagem lendária.


Sobre os contos

Aqui vou ressaltar brevemente sobre aqueles que mais gostei e a sua relevância dentro da coletânea, na minha opinião. O livro abre com Joe Abercrombie, autor das séries A Primeira Lei e Mar Despedaçado (Meio Rei e Meio Mundo), apresentando Shy, uma fora da lei que está fugindo de seu bando pois sua cabeça está a prêmio e seus companheiros estão mais interessados na recompensa do que na lealdade. É uma história ambientada em um local meio faroeste, mas que tem mais cara de prólogo do que de conto. Fiquei louca de vontade de conhecer mais sobre a protagonista e saber onde a história iria dali pra frente.

Em Ou meu coração está partido de Megan Abbott temos uma mulher que sofre com o desaparecimento da filha e todos os olhares que se viram contra ela. Afinal, teria ela a ver com o acontecido ou não? É um conto contemporâneo e de suspense que dá os ares de Garota Exemplar. Em As mãos que não estão lá temos uma ficção científica e uma trama voltada à política e corrupção. O quão longe se pode ir para manter um segredo e um posicionamento intacto? E o que isso significa em uma sociedade mais avançada que já desbravou muito além do que nós.

“Não entrei em pânico. O pânico mata você.”

No conto Raisa Stepanova, de Carrie Vaughn conhecemos o papel da mulher dentro da guerra. Raisa é uma jovem pilota russa que quer conquistar grandes feitos, mas está alocada em um lugar que não lhe permite isso. Enquanto vê sua rival batendo recordes descobre que seu irmão está desaparecido e, segundo as regras do esquadrão, sem saber se ele está morto, desertou ou virou a casaca, todo mundo da família deve ser afastado. Correndo o risco de ter seu sonho dissolvido antes do tempo a jovem terá que fazer o seu melhor. Em Lutando com Jesus, um dos meus favoritos, temos um jovem que vem sofrendo bullying e apanhando até que um senhor já de idade aparece e resolve a questão com os agressores. Após desdobramentos ele começa a ensinar esse adolescente a se defender, pois é um ex lutador de box e também precisa treinar, pois de tempos em tempos precisa lutar com Jesus, seu eterno rival, pela possa de seu amor, uma mulher como fama de feiticeira que segundo o pacto firmado entre eles, fica com o vencedor das disputas.

Segundo Arabesque, muito lentamente de Nancy Kress é de longe o melhor conto do livro na minha opinião. Aqui temos uma realidade onde 99% das mulheres se tornaram estéreis e as que ainda podem reproduzir acabam por ser “mercadorias raras”. Com isso a sociedade veio abaixo e agora as pessoas se juntaram em grupos para sobreviver. No que acompanhamos as jovens meninas passam por um ritual sempre que tem o seu primeiro período e são obrigadas a se deitar com todos os homens do grupo e, após isso, se não estiverem grávidas são descartadas por serem estéreis. Se você não é útil procriando, uma exímia lutadora ou uma enfermeira, não tem utilidade aqui. O que mais me chamou atenção além da crueldade e da objetificação já apontada é que os homens perderam o prazer no sexo sem compromisso. Se a mulher não pode dar seguimento a sua linhagem, o sexo por prazer também nào faz mais tanto sentido e, num mundo onde a prostituição seria muito mais fácil por não precisar de contraceptivo, isso praticamente não existe mais.

“Ela nunca disse em voz alta, mas o que a deixava furiosa era a hipocrisia.”

Pra quem é fã de Outlander, Virgens da Diana Gabaldon é um prato cheio. Aqui teremos um jovem James Fraser, logo depois do açoitamento indo ao encontro de Ian e vivendo uma aventura ao transportar uma moça virgem em direção ao seu noivo. Porém, de inocência ali, somente os dois garotos. É uma visão bonita da amizade entre os jovens e das descobertas da puberdade masculina em uma época onde as coisas eram bem menos explícitas do que hoje. Tem como não amar Jamie Fraser? Acho que não.

Outro que curti bastante foi Cuidadores da Pat Cadigan, esse é um suspense que envolve duas irmãs. Elas tem a mãe em uma casa de repouso e a irmã mais nova que acabou de se mudar para a casa da mais velha adora documentários sobre serial killers. Porém, quando se confronta com a realidade dos “Anjos da Morte” fica preocupada com a mãe e a possibilidade de haver alguém mal intencionado em sua locação. Ela se voluntaria lá e logo algumas coisas estranhas passam a acontecer. Na cabeça da irmã mais velha uma confusão se firma: será que a irmã está ficando louca, há realmente alguém atuando na casa de repouso ou é sua irmã quem está por trás de tudo? É uma história que intriga e incita o leitor a devorar as páginas

Fechando o livro temos o conto de George Martin com A Princesa e a Rainha e a história dos 3 anos em que a Dança dos Dragões aconteceu. É o desenrolar detalhado da reivindicação da princesa Rhaenyra, intitulada por seu pai Viserys I a sucessora do trono, contra Aegon II, filho do segundo casamento de Viserys I com a rainha Alicent. Foi um período sombrio na história dos Targaryen e grande responsável pela morte e extinção de muitos dragões. Confesso que apesar de adorar esse mundo, como já havia lido O Mundo de Gelo e Fogo que contém muitos detalhes sobre o acontecido, acabou ficando um pouco repetitivo, mas mesmo assim é sempre bacana temos mais histórias agregadas a essa trama.


Minha Opinião

Eu tenho um certo problema com a leitura de contos e é sempre algo que me toma tempo. Eu prefiro histórias longas do que pequenos atos e Mulheres Perigosas possui 21 contos, o que tornou o livro um desafio. Uma dica que dou logo de cara é sempre ler a breve bio de cada autor que tem antes do início do conto. Ali há uma explicação sobre a colocação da história e se ela faz parte de algo que já existia previamente.

Eu não dei muita bola pra isso até que me vi envolta em uma trama que parecia pertencer a outro lugar e de fato pertencia. Há muitos autores aqui que assim como Martin e Gabaldon trazem contos derivados de suas histórias prévias, mas como não são publicados aqui no Brasil, a não ser que você já tenha lido em inglês talvez fique um pouco perdido. Não é que não é bem explicado o contexto, mas durante a leitura é possível sentir que aquilo não é único, que é uma estrutura muito complexa somente para aquela fatia de história e isso pode dar uma leve incomodada.

No breve resumo a cima citei aqueles que mais gostei e me chamaram mais a atenção durante o livro. Há contos de todos os tipos e níveis aqui. Há alguns que eu não gostei nenhum pouco, outros que adorei e alguns como o de Joi Abercrombie e do Brandon Sanderson que gostaria muito de ver uma novela escrita pois há um enorme potencial de desenvolvimento na pequena fração apresentada.

Independente do seu gênero de afinidade, esse é um livro em que você encontrará algo que vai lhe agradar, pois o título contempla de tudo um pouco. E, o conceito de “perigosa” navega aqui por águas mais turvas. Não é somente aquela que sabe lutar com armas ou possui um super poder que merece esse título, mas sim toda mulher astuta, forte e que sabe tomar as coisas nas mãos, seja a situação que for. É um conceito para a mulher atual, que batalha por tanto e principalmente por igualdade. No fundo, somos todas mulheres perigosas.

MULHERES PERIGOSAS

Autor: George R. R. Martin e Gardner Dozois

Editora: Leya

Ano de publicação: 2017

Editada por George R. R. Martin, esta antologia traz 21 histórias inéditas sobre magia, ciúme, ambição, traição e rebeldia para Joana D’Arc nenhuma botar defeito. Esqueça o estereótipo de mulheres vítimas e heróis másculos enfrentando sozinhos qualquer perigo. Aqui você irá encontrar mulheres guerreiras, intrépidas pilotas, destemidas astronautas, perversas assassinas, heroínas formidáveis, sedutoras incorrigíveis e muito mais.
Assinado por monstros da ficção científica e fantástica como Brandon Sanderson, (“Mistborn”), Megan Lindholm (“A Saga do Assassino”, sob o pseudônimo Robin Hobb), Melinda M. Snodgrass, Caroline Spector (“Wild Cards”) e novos nomes da literatura jovem como Megan Abbott (A febre) e Diana Gabaldon (“Outlander”), o volume conta ainda com uma novela do próprio Martin sobre A dança dos dragões, a guerra civil que assolou Westeros dois séculos antes dos acontecimentos de A guerra dos tronos.

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