Emoção e personagens cheios de nuances e significados é o que encontrei no roteiro da Park Hae Young e direção de Kim Won Suk. O escritório de engenharia Saman E&C é o local que uma boa parte do elenco principal se encontra. Dong Hoon (protagonizado por um dos personagens do sucesso Parasita), é um homem de 40 anos, que ocupa o cargo de engenheiro chefe, porém muito insatisfeito, pois seu colega mais novo da faculdade é o diretor atual dessa mesma empresa. A relação dele com Joon Young nunca foi das mais amigáveis desde que estudaram juntos, e animosidade entre eles persiste atualmente.

E a assistente financeira Lee Ji An, uma jovem de apenas 20 anos, que a olho nu parece ser uma simples funcionária reclusa, porém ninguém sabe que as experiências difíceis na vida a tornaram alguém introspectiva e que não liga para o mundo a sua volta. Ela tem uma avó surda e que não consegue se locomover sozinha. Além disso, também está devendo o abrigo onde a vó reside e por isso precisa retirá-la para morarem juntas. E como se fosse pouco, ainda está com muitas dívidas e trabalha em vários empregos de meio período.

Com seu jeito quieto e introvertido, Lee Ji An não fala muito mais do que o necessário no trabalho, apenas faz o que precisa fazer; mas é assim que ela acaba vendo uma tramoia entre seus superiores envolvendo Dong Hoon e um outro funcionário, e aparentemente usa isso a seu favor. Descobre que o diretor Joon Young quer demitir um outro diretor por justa causa e isso acaba se voltando contra Dong Hoon.


E isso é basicamente os três primeiros episódios desse drama, que apesar do ritmo lento na forma de contar seu enredo, gradativamente nos ajuda a entender o papel de cada personagem na trama. Quando cheguei no episódio 3 já estava mais do que envolvida, tudo que eu pensava era em como tudo iria se desenrolar: se o Dong Hoon ia acabar levando a culpa de algo que não fez, se a Lee Ji An iria salvar a si mesma das dificuldades da própria vida miserável e o que faria com tanta informação que estava caindo no colo dela.

No entanto, Ji An não é santa, e por meios tortos e questionáveis tenta ajudar seu superior sem que ele saiba, pois se importa muito com Dong Hoon e cria um afeto muito forte por ele, mas ao estar envolvida com pessoas que tem dinheiro também consegue fazer com que seus fardos fiquem um pouco mais leves. Porém não da existência de Lee Gwang Il, um agiota que vive no pé da jovem e que no começo confundi muito com um namorado abusador, contudo, o envolvimento deles não é apenas baseado em dinheiro. A atuação do Jang Ki Yong é maravilhosa, apesar de dar muita raiva em vários momentos, mas toda a nuance do personagem logo dá pra notar como ele é um ator incrível.

Dong Hoon tem dois irmãos. Sang Hoon é o mais velho que já está na meia idade e após ser despedido do emprego acabou se divorciando e voltou a morar com a mãe. Mas isso não impede que sofra por não ter sucesso, ou que ache que a vida é só isso, pois Sang Hoon é um homem com um bom coração e se importa muito com a família e gostaria muito que a vida fosse mais generosa com ele. E também há o mais novo, Ki Hoon, que aos 20 anos de idade conseguiu dirigir um filme independente que foi um grande sucesso, mas agora, 20 anos depois, ele não tem nada. Nem mesmo uma proposta de emprego. E isso o deixa muito frustrado, mas junto com seu irmão mais velho acabam iniciando uma pequena empresa e assim conseguem uma renda para seguir com a vida.

Ki Hoon foi um dos personagens mais difíceis que já encontrei em dramas. Um tanto rabugento, com um gênio difícil de interagir e que devido as más experiências, a vida o deixou frio. Mas esse novo emprego com o irmão o fará reencontrar uma pessoa que magoou no passado, uma atriz que foi maltratada por ele, e essa mesma jovem que também está passando por momentos difíceis o ensinará sobre perseverança e a encontrar os sentimentos que existem em algum lugar dentro de si.

São os momentos em que Sang Hoon e Ki Hoon trabalham juntos que proporcionam muitas risadas e momentos emocionantes para o telespectador, pois não é o tipo de trabalho que alguém quem se formou em Cinema ou quem já trabalhou numa grande empresa gostaria de fazer. Trazendo muitas reflexões há a Yo Soon que é mãe desses três marmanjos. Uma senhora que quer ver os filhos indo bem, desejo de toda mãe, não é mesmo? As cenas dela me deixava com o coração apertado, mas que em outros momentos me fazia rir com o jeito doidinho e de não dá o braço a torcer, que só as mães tem.

Esses três irmãos, amigos de infância que formam o time de futebol do bairro tem encontros diários no Bar da Jung Hee, uma amiga de infância que também tem sua própria história para contar e foi outra personagem que também rendeu muitas emoções. Dramas asiáticos não são singelos quando se trata de desenvolver personagens, são intensos e não poupam ao castigar a emoção do telespectador.

O diretor Kim Won Suk fez um trabalho belíssimo. É uma obra-prima com cenas noturnas incríveis, mesclando cenários corriqueiros e tornando-os espetaculares. Um elenco que tem o tom certo em todas as cenas. Nada ficou exagerado ou má interpretação. E dou destaque para Grown Up da Sondia na trilha sonora, pois passou muito tempo na minha playlist.

Considerei My Mister um drama que fala da vida real e como lidamos com as emoções que a vida nos dá. Uma história onde pessoas que não são fortes precisam ser e não desistem facilmente. Sobre o encontro de pessoas que não se ajudam porque tem o poder de ajudar, mas porque resolveram deixar suas próprias mazelas de lado e estender a mãos para quem também precisa, e assim encontrar forças onde não sabiam que tinham.

Ji An e o Dong Hoon criaram uma relação especial. E o título desse drama coreano é justamente sobre isso: quando alguém se torna especial para nós. Sobre pessoas que não se encaixam, mas que de um modo estranho se dão bem por causa de bons sentimentos e emoções que sentem um pelo outro. Amei My Mister do começo ao fim, e muitas vezes me vi engasgada com sentimentos que eu não sabia definir e com emoções que eram tão ambíguas que me deixavam de mãos atadas. Mas principalmente, me ensinou muito, muito mesmo. Um roteiro lindo que ficou guardado tão bem por 3 anos, e foi reescrito e amadurecido para que no tempo certo estivesse pronto para ser lançado. Foi o tempo certo!

“Realmente vivi a minha vida pela primeira vez porque te conheci, ahjussi.”

A trama é tão bem desenvolvida que aos poucos a dor de todos os personagens passa a ser tão importante como a dos principais e levanta questionamentos interessantes como: estender a mão para alguém não faz minha dor ser menor. Esse é o tipo de história que mesmo com um ponto final sendo dado eu só consigo pensar em como quero que os personagens estejam felizes e em segurança. E já quero começar tudo de novo. Para sentir tudo de novo.

Indico para quem gosta de dramas emocionantes, com uma mocinha forte e sofredora, um protagonista masculino caloroso e bastante treta familiar.

MY MISTER

Roteirista: Park Hae Young

Diretor: Kim Won Suk

Elenco: Lee Sun Kyun, IU, Park Ho San, Song Sae Byuk, Kim Young Mim e mais

Ano de lançamento: 2018

Sinopse: Park Dong Hoon é um engenheiro de meia-idade, casado com a advogada Kang Yoon Hee. No entanto, sua vida não é feliz. Ele tem dois irmãos desempregados, Sang Hoon e Gi Hoon, que dependem dele. Além disso, sua esposa está secretamente tendo um caso com o CEO Do Joon Yeong, chefe júnior, e foi colega de faculdade de Dong Hoon. Um dia, Dong Hoon recebe um suborno e percebe que sua colega de trabalho, Lee Ji An, o viu. Ji An é uma jovem trabalhadora de meio período na mesma e que está afogada em dívidas e cuida sozinha da avó doente. Dong Hoon então se envolve na luta de seus irmãos para se reerguer e a rivalidade interna da empresa entre o CEO da empresa e as pessoas que se opõem a ele.

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