Na Minha Onda é da autora Laura Conrado, publicado em 2017 pela editora Globo Alt.

Sobre o Livro

Vitória Prata é uma talentosa cantora Baiana, que durante algum tempo fez parte da dupla As Elétricas, junto com sua melhor amiga. As duas dividiam os palcos, o sucesso, a glória, cada uma demonstrando grande talento: Carol Laine entendia de entretenimento, sabia como conquistar o público e consequentemente manter a dupla no topo. Vitória demonstrava uma voz afinada e elogiada por grandes nomes musicais da Bahia, o que encantava os fãs e garantia um lugar na elite musical do país.

Em determinado momento a dupla decidiu se separar e Carol Laine conseguiu uma carreira sempre em ascensão, com direito a participação em novelas, seu próprio trio elétrico e o rosto estampado em diversas campanhas publicitárias. Enquanto isso, após a mudança para São Paulo com o objetivo de repaginar a carreira e compor um álbum diferenciado, Vitória estagnou e não teve o tal desejado sucesso.

“Quando se tem esperança, é fácil desejar felicidade a outras pessoas. Mas quando seus sonhos se esvaem e sua vida se torna um acúmulo de fracassos, como é que se faz para se manter próxima da sua melhor amiga quando é na vida dela que seus sonhos estão sendo realizados? Como acompanhar alguém que vive um sucesso absurdo enquanto sua vida naufraga feito o Titanic?”

A musa baiana viu as oportunidades ficarem escassas, a dificuldade aumentando, as dívidas chegando a valores impagáveis. Seu relacionamento com a família também ficou difícil, principalmente com a irmã Vanessa, e assim decidiu sair de São Paulo e retornar a sua cidade natal. Passou a morar com os pais em Salvador e ali, entre uma crise emocional e outra, recebe da antiga amiga – por quem nutre uma inveja muito grande – um convite para voltar ao show business fazendo uma participação especial em um reality show sobre a vida de Carol Laine. Essa poderia ser a respostas para todas as suas preces e uma maneira de retomar a carreira, mas será que Vitória Prata vai passar por cima do orgulho e aceitar o contato e a parceria com uma pessoa que, mesmo sendo amiga, desperta na protagonista sentimentos tão ambivalentes?


Minha Opinião

Quando li a sinopse de Na Minha Onda e vi que o livro contaria a história de duas artistas baianas que tinham uma espécie de disputa pelo sucesso, confesso que já criei uma imagem da Ivete Sangalo e a Claudia Leite se digladiando entre o Pelourinho e a Bahia de todos os santos.  Quando iniciei a leitura e me deparei com uma narrativa carregada do sotaque baiano, todo cadenciado com seus ‘painhos e mainhas’, essa ideia de malemolência aumentou minhas expectativas com relação à obra e despertou em mim uma vontade de ler o livro debaixo de um guarda sol, na beira da praia, tomando uma água de coco bem geladinha.

Mas conforme fui conhecendo a protagonista, uma mulher que se mostrou cada vez mais amarga, insegura, imatura e mimizenta quando se vitimizava e culpava sua insegurança e fracasso pelo sucesso conquistado pela mulher que considerava uma grande amiga, minha empolgação com a história foi diminuindo. Ao invés de me comover com a situação complicada de Vitória – as dívidas aumentando, uma solidão que a deixava amargurada, a falta de apoio e suporte e uma necessidade imensa de ser querida, amada e reconhecida – eu me vi cada vez mais distante da história e com certa resistência em aceitar Vitória do jeito que ela se mostrava.

Acredito que a escolha por compor uma personagem assim, mostrando seus pontos negativos desde o começo e os estendendo por praticamente todo o livro, pode ter sido totalmente intencional. É a partir da necessidade de Vitória lidar com questões relacionadas à carreira e encarar seus medos mais particulares que a narrativa de fato passa a se desenrolar. Aqui ela entra em contato não somente com o seu desejo de ter uma carreira de sucesso, mas também percebe que talvez seja hora de fazer algo relacionado à paixão que sente por Lucas, primo de Carol. Um amor até então platônico e que já serviu de inspiração para suas melhores composições começa a ganhar espaço na vida da jovem, mas isso não necessariamente significa que tudo tende a ser um mar de rosas. Isso porque com a possibilidade de participar do Reality Show com sua amiga/rival outras oportunidades surgem, e as pontas soltas na história da protagonista começam a mostrar uma abertura para finalmente se amarrar, mas infelizmente isso demora muito para acontecer.

“Pela Mãe Menininha do Gantois, ele vai anotar meu telefone. Será que a imagem do perfil do WhatsApp presta? Preciso mostrar uma foto em que eu esteja linda, mas sem ser forçada; sexy, mas sem estar oferecida; doce, mas sem parecer infantil; sofisticada, mas sem parecer dondoca; perfeita; mas não intocável; disponível, mas não demais”.

Toda a jornada de desenvolvimento emocional, profissional, comportamental e pessoal da protagonista, que num primeiro momento parece ser a proposta do livro, acaba sendo minimizada por uma subtrama cheia de suspense, que ganha força na história quando tudo aquilo que inquieta e causa angústia nas duas personagens que compõe As Elétricas passa a estampar as manchetes de um site sensacionalista. Concomitante a isso alguém que se auto intitula EGO passa a chantagear, perseguir e despertar ainda mais medo e insegurança tanto em Carol quanto em Vitória. Achei interessante a inclusão desse mistério na trama, pois deu abertura para que questões mais delicadas fossem exploradas. Por exemplo, ao lidar com as ameaças Carol desenvolve transtornos emocionais que precisam ser desmistificados na vida real, e o livro permite que o leitor tenha uma pequena ideia de que questões emocionais não trabalhadas podem se tornar na vida de alguém.

Entretanto a perspectiva de Vitória foi em um sentido diferente, mostrando ao leitor o preço cobrado pelo sucesso e pela fama e  a narrativa em primeira pessoa nos coloca muito perto dos conflitos vividos pela protagonista. Entre aparições em shows e convites para dividir o palco com grandes celebridades, ela demonstra uma necessidade de estar sempre obedecendo a um padrão de beleza imposto pela sociedade, independente dos danos que isso possa causar. Mas aqui o uso de certas intervenções desnecessárias foi pormenorizado, e os problemas relacionados à autoestima, a importância dada às curtidas, likes e compartilhamentos nas redes sociais, entre outras coisas que demonstravam uma necessidade imensa de aceitação e aprovação de Vitória, foram discutidas em um tom meio semelhante à chacota. Pode ser que a ideia da autora tenha sido tirar o ‘peso’ dessas questões tratando-as com humor? Talvez. Mas em minha opinião essas questões poderiam ter sido levadas um pouco mais a sério.

“É dolorido querer ser reconhecida por um talento, pelas horas de ensaio, pelo trabalho duro, e ainda ouvir apenas comentários sobre sua aparência como se fôssemos objetos numa exposição para sermos avaliadas. Pior ainda é saber que várias pessoas, inclusive mulheres,endossam o coro do “Ela é famosa, tem que estar sempre linda mesmo”, Artista vive de imagem, tem que estar impecável”. Eu nunca quis viver de imagem. Quero viver de música. De letra. De melodia. De som. De arte. De acorde. De sentimento”.

Mesmo que alguns pontos na narrativa tenham me incomodado, não posso negar que o livro me arrancou alguns sorrisos. Todas as referências musicais, gastronômicas e religiosas foram muito bem colocadas e isso acabou deixando a narrativa mais verossímil, pelo menos percebi desta forma, pois senti que fez muito sentido com o contexto da história.  De todo modo, Na Minha Onda me deixou confusa. Gostei da parte do humor, gostei da pegada meio thriller, gostei do toque musical, e até da pitada sobrenatural, mas principalmente gostei da crítica que a autora fez ao que é superficial e vazio de sentido, e que vem ganhando mais importância a cada dia. Entretanto, tudo isso junto sendo apresentado por uma protagonista que despertou minha antipatia e só foi me cativar mais perto do final, fez com que o livro não atingisse às expectativas que citei no começo desse texto. De qualquer maneira, pelos sorrisos que a história é capaz de nos tirar, acredito que o livro mereça ser lido. Afinal, o mestre Caimmy tão citado nesta obra já dava a dica: vale a pena descobrir o que é que a baiana tem.

NA MINHA ONDA

Autor: Laura Conrado

Editora: Globo Alt

Ano de publicação: 2017

Vitória é uma cantora talentosa que esteve no topo do sucesso há cinco anos. Mas agora ela está arrasada: ficou desempregada, voltou a morar com os pais e ainda tem que aceitar o triunfo de Carol Laine, sua amiga de infância e antiga companheira musical, que seguiu em carreira solo e está se tornando uma das mais comentadas artistas da Bahia. Porém, mesmo Vitória tentando se esconder a todo custo, Carol Laine a procura com um convite: ela quer que as duas voltem a trabalhar juntas e que ela participe de um reality show sobre sua vida. Isso significa, também, estar mais próxima de Lucas, o primo e assessor de Carol, por quem Vitória mantém uma paixão secreta há anos. Mesmo parecendo uma proposta irrecusável, é difícil engolir a mágoa, ficar à sombra de Carol Laine e ainda encarar os reveses da fama: a exigência de estar sempre linda e em forma, as fofocas da imprensa de celebridades, a perseguição de um fã maníaco e misterioso e a dúvida sobre as amizades serem apenas por interesse. Em meio a tantos sentimentos conflitantes, Vitória terá que responder: vale a pena voltar a esse mundo onde o ego das pessoas parece controlar tudo?.

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