O Coração da Esfinge é o segundo livro da série Deuses do Egito, da autora Colleen Houck. É publicado aqui no Brasil pela Editora Arqueiro e é um lançamento de 2016. O primeiro livro, O Despertar do Príncipe já tem resenha aqui no blog.
SOBRE O LIVRO
* Esta resenha contém spoiler do livro anterior
Lily e Amon se apaixonaram perdidamente. Mas esse amor seria impossível de existir já que ambos pertenciam a dimensões diferentes. Não aceitando a dor da separação, Amon se nega a ir para o paraíso e decide caminhar pelo mundo dos mortos, local de agonia e sofrimento, até que um dia pudesse se reencontrar com sua amada.
Lily, por sua vez, está arrasada com a separação. Sua dor é grande e nada mais lhe importa: pais, faculdade, amigos, nada. Mas ela precisa seguir em frente. Com isso, decide passar uns dias na fazenda de sua avó, acreditando assim poder esquecer Amon.
“A verdade era que, enquanto Lily fosse dona do seu coração, ele lutaria. Tinha uma obrigação para com ela; se Lily queria que ele fosse em frente, ele daria um jeito.”
Mas esquecê-lo não será algo fácil, ainda mais quando ela tem em mãos um artefato místico, o escaravelho do coração, que os conecta mesmo em mundos diferentes. Lily sente a presença de Amon, e ele, no submundo, sente a presença dela. A escolha de Amon foi imprudente e põe em risco todo o universo. Sem Amon, Asten e Ahmose não são fortes o suficiente para conter Seth em sua jaula, e se ele escapar, tudo ao seu redor será destruído.
“Tirei da bolsa o escaravelho do coração que Amon me deixara e o esfreguei com a ponta dos dedos. A pedra verde brilhou com a luz refletida do meu abajur. Estava quente e havia uma pulsação leve, como a batida fraca de um coração, emanando do interior da pedra.”
Temendo isso, Anúbis aparecerá para Lily e a recrutará para uma perigosa, mas necessária missão: salvar Amon do submundo. Lily questiona porque os deuses não fazem isso, e Anúbis explica que Amon-Rá e todo o resto do panteão não acreditam que Seth irá voltar, mesmo tendo evidências de que isso irá ocorrer.
Com a esperança de rever e salvar seu amor, Lily decide então ajudar o deus da mumificação e para isso terá de se transformar em algo sobre-humano. Ela aceita, já que faria qualquer coisa pelo seu amor. O que Lily não sabe é que essa transformação terá sérias consequências e mudará tudo o que ela sabe, inclusive, a sua própria personalidade.
MINHA OPINIÃO
Apesar do final do primeiro livro não ter me convencido, decidi ler o segundo, mantendo a expectativa mais baixa e esperando para ser surpreendido pela autora. E ela conseguiu. Mas de uma forma decepcionante.
No começo do livro, teremos uma participação maior dos deuses, como Anúbis, Ísis, Maat e Amon-Rá. Anúbis dá à protagonista a missão de resgatar Amon do submundo, onde ele está sofrendo e, se morrer, possibilitará que Seth saia de sua jaula e destrua o universo. Nesse ponto, a história conduz o leitor a entender a personalidade de cada deus, como foram criados, porque Seth quer destruir o universo e tudo mais. A personagem também passará por um ritual que vai transformar ela em algo sobre-humano, e com isso, ela poderá ter mais chances de sucesso em sua missão. Eu diria que essa introdução do livro, que vai até aproximadamente a metade, é a mais gratificante e bem construída.
“A voz que havia falado comigo não era de Ísis. Agora eu tinha certeza. E mais alarmante ainda era o fato de que o ser cuja presença eu pressentia estava comigo. Não perto de mim, nem em outro plano de existência, como quando eu encontrava Amon nos sonhos, mas verdadeiramente comigo, dentro da minha mente. Eu podia senti-lo como podia sentir as sandálias nos pés ou o cabelo roçando minhas costas.”
Mas conforme a história vai seguindo, Lily se torna uma personagem chata demais. A todo momento ela fica se perguntando se deve ou não fazer algo, se ama ou não ama Amon, se gosta ou não gosta de outros homens. São tantos “se” da personagem que irrita. Para piorar, a moça querida se transforma em alguém arrogante, que manda e desmanda, xinga deuses, xinga pessoas, faz o que quer, mesmo que de forma errada.
“- Não transporto gente viva, mocinha. – Seu halito forte envolveu meu rosto, mas, apesar de me sentir ligeiramente nauseada, eu não iria recuar.
– Desta vez, vai – respondi com o máximo de confiança que me era possível.”
Diria que o livro anterior é uma fantasia que contém romance. Mas este segundo, é um romance que contém fantasia. Isso porque a maior parte do livro se perde nas paixonites dos personagens, já que todos envolta de Lily se sentem atraídos por ela. E ela, se acha a toda-poderosa com isso. E tenho de ser sincero: não gostei dessa mudança drástica não. É uma parte chata do livro, que tira o foco da premissa principal, que é buscar Amon no submundo.
De forma geral eu gostei do livro, da premissa e dos obstáculos pelo qual a personagem teria de passar. Mas o foco demasiado no romance e no fraco final que foi dado para história, tornam a narrativa pouco satisfatória. Ao meu ver, a autora poderia ter contado a mesma história de uma forma diferente, mais envolvente e com reviravoltas mais convincentes. Admito que não espero muita coisa do último livro, mas pretendo ler também para ver se finalmente vai ter alguma cena de ação interessante contra Seth ou se a história se perderá na mesmice.
“Corri, saltando por cima dos chacais e passando por baixo de armas que golpeavam no ar. Um fogo ardia dentro de mim. E então o tempo desacelerou. O cutelo continuava em seu arco descendente, mas se movia em câmera lenta. Num momento eu estava correndo, no outro havia parado por completo. Uma cacofonia de vozes encheu minha mente. Gritavam. Rugiam. Imploravam. Então, como engrenagens se encaixando, senti um estalo.”
No que se refere a diagramação e edição, não tenho do que reclamar. A editora Arqueiro fez um ótimo trabalho com esta série, mantendo os detalhes metalizados, hieróglifos na capa, ícones que se relacionam com a história, etc. O papel também é agradável, e a escrita de Colleen é bem fluida.
O Coração da Esfinge tem seus pontos fracos, mas vale lembrar que é a minha experiência que não foi positiva. Então, ainda assim recomendo o livro para quem gosta de romance e fantasia, e claro, a todos aqueles que já começaram a ler essa trilogia, para dar continuidade a história. A mitologia envolvida no livro é rica e merece ser conhecida, por mais que nesse segundo livro tenha ficado um pouco ofuscada.


O CORAÇÃO DA ESFINGE
Autor: Collen Houck
Editora: Arqueiro
Ano de publicação: 2016
Lily Young achou que viajar pelo mundo com um príncipe egípcio tinha sido sua maior aventura. Mas a grande jornada de sua vida ainda está para começar.
Depois que Amon e Lily se separaram de maneira trágica, ele se transportou para o mundo dos mortos – aquilo que os mortais chamam de inferno. Atormentado pela perda de seu grande e único amor, ele prefere viver em agonia a recorrer à energia vital dela mais uma vez.
Arrasada, Lily vai se refugiar na fazenda da avó. Mesmo em outra dimensão, ela ainda consegue sentir a dor de Amon, e nunca deixa de sonhar com o sofrimento infinito de seu amado. Isso porque, antes de partir, Amon deu uma coisa muito especial a ela: um amuleto que os conecta, mesmo em mundos opostos.
Com a ajuda do deus da mumificação, Lily vai descobrir que deve usar esse objeto para libertar o príncipe egípcio e salvar seus reinos da escuridão e do caos. Resta saber se ela estará pronta para fazer o que for preciso.
Nesta sequência de O despertar do príncipe, o lado mais sombrio e secreto da mitologia egípcia é explorado com um romance apaixonante, cenas de tirar o fôlego e reviravoltas assombrosas.