O Homem de Giz é o romance de estreia da autora C. J. Tudor. Ele foi lançado em 2018 pela editora Intrínseca.

Sobre o livro

Na pequena cidade de Anderbury, em 1986, existia um grupo de amigos inseparáveis. Gav, Mickey, Hoppo, Eddie e Nicky, a única menina do grupo, desbravavam as florestas da redondeza montados em suas bicicletas e estavam sempre atrás de uma aventura diferente. Ao se reunirem em uma feira que acontece na sua cidade, eles são surpreendidos com uma tragédia que mudará a vida de todos, principalmente a do jovem Eddie. Ele criará uma eterna conexão com o novo professor da cidade, o estranho e pálido Sr. Halloran.

“Ela virou o rosto ensaguentado e destruído para mim. Em algum lugar em meio a todo aquele vermelho, um único olho castanho me encarava fixamente. O outro pendia frouxamente sobre a bochecha dilacerada.”

Eis que após 30 anos, eventos misteriosos passam a acontecer. Eddie, agora é um professor, com sério problemas com a bebida e que vive em uma casa gigante com sua inquilina, a jovem Chloe. Ele recebe a visita de um antigo conhecido com uma estranha e tentadora proposta. Tudo isso trará de volta diversos segredos que deveriam ter sido enterrados na floresta. Além disso, ele e seus amigos recebem uma carta com um pedaço de giz e um boneco palito desenhado. Mas quem saberia o código secreto que eles usavam para se comunicar na infância?

O medo e a desconfiança tomam conta desse grupo de amigos, e teremos passado e presente se unindo em apenas uma terrível relevação. Antigas feridas serão abertas e descobriremos o que aconteceu naquele fatídico dia. A verdade sobre cada um será revelada e veremos que nem tudo é o que parece ser e que, muitas vezes, é preciso ver tudo por uma nova perspectiva. Conheça a história por trás desses desenhos e desvende o que de fato ocorreu no passado dessas pessoas.


Minha opinião

Desde a primeira vez que vi esse livro, aliado a uma capa peculiar e chamativa, senti que precisava conhecer essa história. Essa mescla entre Stephen King e Stranger Things me interessa muito, bem como esses joguinhos entre passado e presente. Vamos combinar que terror mais crianças só podem resultar em uma excelente trama. Além disso, a edição está incrível. Capa dura, com vários homens palito (grande referência da obra) desenhados, por dentro uma bela diagramação, com mais desenhos e, cada início de capítulo, com páginas pretas.

Em um primeiro momento você deve estar pensando que já viu essa história antes. Um grupo de crianças, uma cidade pequena e estranhos assassinatos. Mas, não se engane, a narrativa vai além. Não teremos um palhaço sádico assustando criancinhas e se transformando nos seus piores pesadelos, mas sim o ser humano agindo como tal e mostrando o seu lado mais sádico, vil e brutal.

O nosso narrador, Eddie, talvez seja um dos personagens mais característicos que já conheci. Um homem que está me apresentando suas memórias, que podem ser deturpadas em razão do tempo e da idade que ele tinha quando tudo aconteceu, e que ao mesmo tempo me dá medo e pena. As suas atitudes sempre me deixavam questionando sobre as suas verdadeiras intenções e até quando o que ele estava falando era verdade. Uma pessoa solitária, pouco sociável e que tem estranhas manias. Tudo isso nos leva a duvidar das suas palavras.

“Há certas coisas na vida que se pode alterar – o peso, a aparência, até o próprio nome -, porém há outras que são imutáveis, independentemente da força de vontade, do esforço e do trabalho árduo. São estas coisas que nos moldam: não as que podemos moldar, mas as que não podemos.”

Fora ele, os outros personagens não tem tanta relevância. Eles serviram apenas para compor a trama e os eventos que se sucederam, sua maior importância fica reservada para a infância. Atualmente, notamos, que a amizade que ficou não é tão forte como antes e que ela existe apenas por costume ou por conveniência, além de todos compartilharem o mesmo fardo. Cada um foi afetado de uma maneira diferente pelo passado, assim como, cada um guarda um segredo que será revelado durante a narrativa. Alguns são extremamente chocantes.

Essa ruptura entre passado e presente me deixou muito ansiosa. Tão ansiosa que li o livro em apenas um dia. Todas as informações não faziam sentido na minha cabeça, os questionamentos que eu levantava eram dos mais variados e eu não conseguia decidir quem era o real assassino. No prólogo, pensei que já havia matado a charada, mas quanta petulância! Eu mal sabia o que me esperava. Esses capítulos curtos serviram para aumentar a minha sensação de agonia e me prepararam para a revelação final. Achei muito bem feita a separação entre as memórias de uma criança e a visão de um adulto. Sentimos a mudança quando cada um entra em cena.

Algo que achei extremamente bem explorado, foram os bonecos desenhados com giz. As interpretações podem ser das mais variadas. Fora isso, a forma como a autora explorou as brincadeiras, apelidos e comportamento das crianças dessa época também é genial. E essa trama também me fez refletir sobre o quanto mudamos. Na nossa infância sempre pensamos no que a gente “vai ser quando crescer”, mas nunca imaginamos como de fato ficaremos. Temos um excelente retrato sobre essa perda da inocência e chegada da vida adulta aqui.

“Os desenhos de giz foram uma dessas ideias estranhas que todo mundo tem ao mesmo tempo.”

Acontece que quanto mais adentramos nessa narrativa, mais enrolados ficamos nessa trama. São tantos mistérios e segredos, que caminham lado a lado, que mal percebemos quando eles se juntam. A verdade estava ali, na nossa frente, nós que fomos cegos demais para enxergar. Às vezes, analisar tudo por um novo ângulo, é a melhor forma de encontrar a chave para um segredo. Pensei em diversos assassinos, quanto mais informações recebia, maiores minhas dúvidas. O final, confesso, me deixou bastante surpresa. Não só com a revelação da identidade do responsável, mas com tudo aquilo que veio junto com ela, existem muito mais segredos que apenas a morte de uma garota.

Para a estreia da autora, creio que ela se saiu muito bem. Infelizmente, senti que faltou explicar certos detalhes no desenvolvimento. Por mais que ela entregue um final arrematado e fechadinho, no decorrer da história ela se perdeu com alguns detalhes que ficaram sem sentido para mim, mas não quero tirar o mérito dela. Ela soube me surpreender, tem grande fluidez na sua escrita e afirmo com toda a certeza que adoraria ler mais obras dela. Se você adora um suspense onde nada parece ter sentido e que você só consegue largar após terminar, não deixe de ler esse livro!

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O HOMEM DE GIZ

Autores: C. J. Tudor

Editora: Intrínseca

Ano de publicação: 2018

Assassinato e sinais misteriosos em uma trama para fãs de Stranger Things e Stephen King. Em 1986, Eddie e os amigos passam a maior parte dos dias andando de bicicleta pela pacata vizinhança em busca de aventuras. Os desenhos a giz são seu código secreto: homenzinhos rabiscados no asfalto; mensagens que só eles entendem. Mas um desenho misterioso leva o grupo de crianças até um corpo desmembrado e espalhado em um bosque. Depois disso, nada mais é como antes. Em 2016, Eddie se esforça para superar o passado, até que um dia ele e os amigos de infância recebem um mesmo aviso: o desenho de um homem de giz enforcado. Quando um dos amigos aparece morto, Eddie tem certeza de que precisa descobrir o que de fato aconteceu trinta anos atrás. Alternando habilidosamente entre presente e passado, O Homem de Giz traz o melhor do suspense: personagens maravilhosamente construídos, mistérios de prender o fôlego e reviravoltas que vão impressionar até os leitores mais escaldados.

 

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