Com edição de 2019 pela Martin Claret, O Homem Que Ri é do autor clássico do romantismo francês Victor Hugo. O livro conta com a tradução de Regina Célia de Oliveira.

Sobre o Livro

Gwynplaine é um homem que vive na pobreza como a maioria dos ingleses durante o final do século XVII e início do XVIII. Na Inglaterra dessa época, a elite, a aristocracia e os monarcas são os tomadores das decisões do país e a maioria, os pobres, silenciados pela miséria. Gwynplaine, assim como os pobres, não tem voz na Inglaterra. Mas tem algo mais peculiar: a deformação em seu rosto.

Mutilado ainda criança, Gwynplaine tem seu rosto modificado para que ele esteja sempre sorrindo, depois de ser alvo dos comprachicos, compradores de crianças que modificam seus rostos e corpos a fim de transformar suas deformações em entretenimento para os mais ricos nos circos. É assim Gwynplaine consegue sobreviver, vendendo sua monstruosidade por comida na mesa.

”- Esse riso que está em meu rosto foi posto aí por um rei. Esse riso exprime a desolação universal. Esse riso significa ódio, silêncio forçado, raiva, desespero. Esse riso é um produto da tortura. Esse riso é um riso da violência. […] O homem é um mutilado. O que fizeram a mim fizeram ao gênero humano. Deformaram-lhe o direito a justiça, a verdade, a razão, a inteligência.”

Se tornando mais reconhecido pela Inglaterra com suas inúmeras apresentações com o título O Homem que Ri, Gwynplaine também tem uma paixão. Dea. Uma mulher cega e jovial, impedida por sua deficiência de ver o rosto de seu amado mutilado pelos comprachicos. Gwynplaine sente que sua vida nada seria sem ela e Dea sente o mesmo. Mas o amor, a paixão e o sucesso nos circos e nas feiras, são comprometidos quando uma visita inesperada leva Gwynplaine para uma nova história.

Criticando a aristocracia na Inglaterra, Victor Hugo nos mostra, de forma apaixonada e dramática, o amor e a desigualdade; a dor e a miséria. Romance e tragédia compõem essa obra de mais de 150 anos e que inspirou um grande vilão para nossas telonas, o Coringa.


Minha Opinião

Sendo já um grande fan de Victor Hugo com sua obra-prima Os Miseráveis, não pude deixar de ler O Homem Que Ri com seu personagem único e peculiar Gwynplaine, um homem deformado e destruído com o único fim de entreter os mais ricos. E a editora Martin Claret, além de trazer uma edição belíssima de se ter na estante, conta com um excelente trabalho de tradução.

[…] É do inferno dos pobres que é feito o paraíso dos ricos.”

O Homem Que Ri sem dúvida não é a obra mais importante de Victor Hugo, porém foi a que permitiu que personagens como Coringa e It, criado pelo escritor Stephen King, pudessem existir. Publicado em 1869, a ideia de terror envolvendo palhaços se iniciou em parte por este fenômeno literário de Hugo. Os circos da época eram encantadores por haverem pessoas fantasiadas de forma estranha e peculiar. Hoje em dia podemos chamar de palhaços. Na época não havia um nome específico.

Após a primeira adaptação cinematográfica do livro em 1928, o ator que fez Gwynplaine, Conrad Veidt, se tornou fonte de inspiração para criar o personagem Coringa nos quadrinhos do Batman. Futuramente, com o sucesso de Batman por ter um vilão risonho, vestido de palhaço e maníaco, It se tornou famoso e logo depois o terror envolvendo palhaços assassinos se tornou comum nos dias de hoje.

É dessa importância cultural que O Homem Que Ri precisa ser entendido. Victor Hugo apesar de ser conhecido por Os Miseráveis no qual denuncia a miséria e a fome na França pós-revolução, O Homem Que Ri também é um manifesto contra a aristocracia da época. E suas críticas são tão profundas e realistas que servem para compreendermos até hoje nossa sociedade desigual.

Para um escritor francês que nasceu na aristocracia, realmente tenho muito em que admirar em suas palavras. O amor de Gwynplaine com Dea, a dor da miséria e da fome e as palavras dirigidas para a aristocracia, me fez repensar inúmeras vezes no quão muitos estão condenados a viver numa cegueira da realidade dos mais pobres.

[…] Ah, os senhores nos dão pão, nos dão abrigo, nos dão roupas, nos dão um emprego, e levam a audácia, o delírio, a crueldade, a inépcia e o disparate a ponto de acreditar que somos seus devedores! Esse pão é um pão de servidão, esse abrigo é um quarto de criado, essas roupas são uniformes , esse emprego é um escárnio, remunerado, pode até ser, mas embrutecedor!”

Se procura um livro que derrame lágrimas, sem dúvida você gostará deste. E ainda recomendo profundamente para aqueles que desejam conhecer as trágicas palavras de Hugo, mas ficam com receio do robusto livro Os Miseráveis. O Homem Que Ri, apesar de haver suas 500 páginas, é uma ótima aposta para conhecer um importante escritor francês que denunciou a injustiça e a miséria na França e no mundo.

A leitura é maçante, tenho que confessar. Talvez, mais que Os Miseráveis, se for comparar. Há monólogos de personagens com um parágrafo que dura páginas. Mas as palavras contidas em cada fala e em cada descrição é tão rico quanto a aristocracia criticada neste livro.

[…] Os senhores se enganam. Estão indo pelo caminho errado. Aumentam a pobreza do pobre para aumentar a riqueza do rico. […] Como é possível? Tirar do trabalhador para dar ao ocioso, tirar do miserável para dar ao saciado, tirar do indigente para dar ao príncipe!”

O livro se inicia muito bem. Porém, capítulos depois vamos acompanhar um mar descritivo e detalhista que dura até a metade do livro. Poderá ser cansativo para muitos como foi para mim. Não é uma leitura rápida e fluída. Deve ser encarada como uma robusta leitura crítica construtivista. E é por esse meio que Victor Hugo deseja tocar nossos corações.

Nunca esquecerei desta história, assim como nunca esquecerei de Os Miseráveis. É uma obra-manifesto. Um manifesto que denuncia o que muitos não veem ou fingem não ver. A miséria é mais abundante e é ela que sustenta a riqueza de poucos. Se não fazemos nada, a miséria sempre existirá e a riqueza dos poucos ricos se tornará ainda mais abundantes. Cabe a nós com a vontade de fazer justiça manifestar nossas indignações com esta grande distorção da realidade. E é por meio de obras como esta que podemos compreender as desigualdades a fim de combatê-la.

​O HOMEM QUE RI

Autor: Victor Hugo

Tradução: Regina Célia de Oliveira

Editora: Martin Claret

Ano de publicação: 2019

Em O homem que ri, o leitor depara-se com a infância do pequeno Gwynplaine, na Inglaterra dos fins do século XVII. Os comprachicos, traficantes de crianças, mutilam o menino órfão, transformando-o em um monstro quando lhe cortam os dois lados da boca, com o propósito de transformá-lo em atração nas feiras e circos, abandonando-o à própria sorte. Nos nossos dias, é impossível não recorrer ao mestre e constatar o que subjaz na reflexão de Gwynplaine: “é do inferno dos pobres que é feito o paraíso dos ricos.” Como, em 150 anos após a sua publicação, a contemporaneidade da narrativa é tão tangivelmente real? Ricos e pobres, a aristocracia inglesa e os desafortunados socialmente são levados ao leitor em mais uma obra-prima de Victor Hugo.

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