O Homem Sem Qualidades foi escrito por Robert Musil e publicado no Brasil pela editora Nova Fronteira.

SOBRE O LIVRO

O romance pode ser entendido como uma reflexão e interpretação do comportamento humano e, ao mesmo tempo, uma sátira aos padrões sociais, teve sua primeira parte publicada na década de 1930. A narrativa encontra-se dividida em quatro partes: uma espécie de introdução, a mesma coisa acontece, rumo ao reino dos mil anos [Os criminosos] e a obra póstuma (os vinte capítulos finais), já que este é um livro inacabado.

Dividido entre ensaios e narrativa,s o romance nos conta a história de Ulrich, um homem de 32 anos de idade que não se encaixa em padrões pré definidos e por essa razão não obteve sucesso em nenhuma de suas três tentativas de seguir uma carreira (militar, engenheiro e matemático) para se tornar o que ele acredita ser um homem extraordinário.

“No fundo, poucos sabem, no meio da sua vida, como se tornaram aquilo que são.”

A história se passa em Viena, fim do império Austro-húngaro,  no período em que antecede a primeira guerra mundial e traz como principais aspectos a reflexão filosófica e o comportamento humano. O segundo ponto seria a chamada “Ação Paralela” onde os prussianos preparam a maior festa anual e os austríacos se veem na obrigação de superá-los e, para isto é criado um comitê da alta burguesia para a organização onde o protagonista será, a pedido do pai, secretário. À partir deste vamos acompanhar o desenvolvimento do personagem em desempenhar funções enquanto tira férias da vida para se descobrir enquanto um assassino, Moosbrugger, é julgado e condenado.


MINHA OPINIÃO

Inicialmente, vale ressaltar o contexto em que o termo “qualidade” foi inserido, sendo este o fato de um ser humano não se encaixar em valores pré determinados ou não conhecer seus atributos, e não como qualidades morais. É claro que este é um ponto chave durante a narrativa, já que segundo o próprio autor: “a história que deveria ser contada, não será”. Assim a proposta do autor é contar como um homem ordinário se coloca diante de uma realidade opressora sem deixar-se submeter a ela.

“As pessoas empregam palavras para esconder seus pensamentos e utilizam pensamentos para fundamentar seus erros.”

A atualidade da obra é um ponto importante a ser mencionado, já que o contexto histórico em que vivemos não está totalmente alterado diante daquele que é narrado. O contraponto às ideias humanas de qualidades internas sem dependência ao mundo externo, a sátira criada para afugentar os padrões (sendo realizada através das críticas constantes à burguesia) e a abordagem do auto conhecimento fazem deste um livro que aproxima o leitor dos personagens e cria momentos de comparação e reflexão.

Falando um pouco sobre a obra em si, vale dizer que ficou em processo de escrita por quarenta anos e até hoje encontra-se inacabada pela morte do autor. Ao final da edição existe uma nota onde podemos ter contato com essa e outras informações, como por exemplo a de que a ideia inicial era que houvesse uma divisão da narrativa em três volumes sendo os primeiros 123 capítulos fariam parte do primeiro tomo, 128 do segundo e os 20 finais são os manuscritos organizados pelo editor de Musil para dar um final a trama.

Talvez por este motivo ou propositalmente pensado, apesar de existirem quase trinta personagens, historietas paralelas e um pano de fundo, o leitor pode ficar um pouco perdido pela falta de linearidade da escrita. Sendo Ulrich o protagonista e foco central, os demais servem apenas como uma fuga da realidade. Um exemplo claro seria a Ação paralela, onde devido à ausência de algo que traga um certo preenchimento interno os personagens buscam satisfazer-se em algo externo, o que no caso seria este grande evento social.

O caso de Moosbrugger também se torna algo grandioso em sua essência já que este, igualmente não se encaixa aos padrões e rótulos existentes e portanto não se encontra uma resposta jurídica para o o caso uma vez que ninguém é capaz de classificá-lo como um criminoso insensível ou, por outro lado, apenas alguém com graves problemas mentais. Mesmo assim, seu julgamento é realizado enquanto a sociedade parece ignorar o acontecimento como sendo um fato isolado e alheio que não atingirá a sociedade direta ou indiretamente.

Finalmente, ao atribuir ao personagem principal algumas de suas próprias características e criticar toda uma sociedade, Musil tem seu livro proibido na Alemanha em 1937 com a chegada do Partido Nacional Socialista enquanto o retrato de seres humanos sujos se faz presente em sua obra e no mundo real. Um livro para quem não tem medo do inacabado e é apreciador das entrelinhas das construções narrativas.

Saiba mais:

 

O HOMEM SEM QUALIDADES

Autor: Robert Musil

Tradução: Lya Luft e Carlos Abbenseth

Editora: Nova Fronteira

Ano de publicação: 2018

Nesta que é considerada uma das obras literárias mais importantes do século XX, o autor Robert Musil tece uma intrincada trama centralizada em Ulrich. O personagem vive diversas experiências, viaja ao exterior e, às vésperas da Primeira Guerra Mundial, retorna a Viena, convivendo com os mais diversos tipos humanos. Este romance-ensaio mostra a decadência dos valores vigentes até o início do século passado, marcando a perda de posição da Europa na decisão dos rumos políticos e econômicos mundiais.

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