O Idiota, de André Diniz, é uma adaptação para os quadrinhos de um dos maiores clássicos russos de Fiódor Dostoiévski. A editora responsável pela publicação no Brasil é a Companhia das Letras através no selo Quadrinhos na Cia, em 2018.

SOBRE O LIVRO

Após viver alguns anos internado em um sanatório suíço para tratamento de epiléticos e guardado por um tutor que acaba de falecer, o jovem Liev Michkin retorna à Rússia em busca da única pessoa que pode lhe ajudar, uma parente distante de sua mãe. Uma vez em seu país de origem, depois de anos afastado do convívio social, o jovem se vê envolvido em um triângulo amoroso um tanto perigoso para alguém que viveu tanto tempo recluso.

Em meio a vilania de Rogójin, um homem de aspecto sombrio e caráter duvidoso, que leva a vida a dilapidar a pequena fortuna deixada pelo pai em bares e mesas de jogos, e a beleza encantadora de Nastácia Filíppovna, uma jovem aparentemente triste e perturbada, iremos acompanhar a jornada do protagonista e as desventuras que sua alma pura encontrarão pelo caminho.


MINHA OPINIÃO

Uma tragédia! Não digo somente pelo desenrolar da trama mas pelo ponto de vista em que a obra foi criada, retratando uma sociedade que menospreza a bondade e enaltece relações conturbadas e a ganância do homem.

Apesar de ter sido escrito entre 1867 e 1868, O Idiota ainda é uma crítica atual a uma sociedade de valores invertidos onde o ódio se sobressai ao respeito e o egocentrismo à solidariedade. A ideia da adaptação em quadrinhos é perfeita para trazer ao leitor uma proximidade ainda maior com a história. Em preto e branco e quase sem nenhuma fala, André Diniz consegue retratar o clima frio e sombrio da Rússia, mesclado às angústias dos personagens e dos abismos interiores dos homens e do russo que nos presenteou com a narrativa. Sem falar nos traços ao mesmo tempo simples, mas cheios de personalidade.

O prefácio de Bruno Barreto compara o protagonista a ícones como Jesus Cristo e Dom Quixote. Um personagem que por si só é a imagem da reflexão. Michkin é introspectivo e ao mesmo tempo grita suas ideias e ideais sem precisar dizer uma única palavra. Tendo vivido com o mínimo tipo de relacionamento social, ele carrega uma inocência e bondade inabaláveis, praticamente a mesma de uma criança ou, de como foi descrito, um “idiota” entra muitas aspas. Inicialmente, confesso que não consegui estabelecer e entender a relação colocada, mas a grande questão da narrativa é justamente descobrirmos isso enquanto somos levados pela história.

“A execução de um criminoso é um crime mais grave do que o crime cometido por ele.”

Além da questão da inversão de valores algumas outras críticas podem ser encontradas ao longo da narrativa, como por exemplo a relação de Nastácia com seu tutor, um homem respeitado na sociedade mas que intrinsecamente encontra-se deturpado com preocupações um tanto questionáveis. O retrato do antagonista como um ser que passa os dias gastando o dinheiro herdado em mesas de jogos e fazendo negócios obscuros que vive tentando encontrar um meio de melhorar de vida às custas dos outros, e demais questões que só serão percebidas por leitores mais atentos.

Uma obra extremamente sensível, que consegue carregar o leitor entre a angústia, a compaixão, a indignação e a reflexão. Apesar de não ter tido contato com a obra original, acredito que esta seja um excelente primeiro contato para aqueles que, assim como eu, tem um pouco de receio de fazer a leitura do clássico. E, posso dizer que a leitura ocorre de forma tranquila apesar dos poucos balões de fala, sendo de fácil compreensão.

Espero que a editora tenha mais oportunidades de trazer para o mercado adaptações de grandes clássicos como este e que sejamos cada vez mais encantados por essa perspectiva diferenciada de encarar histórias clássicas e marcantes.

O IDIOTA

Autor: André Diniz

Editora: Companhia das letras

Ano de publicação: 2018

Em preto e branco, e num registro quase sem palavras, André Diniz propõe uma recriação surpreendente de O idiota, obra máxima de Fiódor Dostoiévski. Publicado em 1869 e escrito em meio a crises epilépticas e perturbações nervosas e sob a pressão de severas dívidas de jogo, o romance é um dos mais célebres da literatura mundial. Sua oralidade intensa encontra na explosão e na fluidez, na ternura e na enorme capacidade expressiva do traço de Diniz, uma correspondência única.
A história é conhecida: após anos internado num sanatório suíço para tratar sua epilepsia, o jovem Míchkin retorna à Rússia e se vê envolvido num triângulo amoroso cujos ares folhetinescos darão o tom desta adaptação. Entre a vilania de Rogójin, um devasso perdulário que dilapida a fortuna herdada de seu pai, e a beleza arrebatadora de Nastácia Filíppovna, acompanharemos Míchkin e sua pureza quixotesca até o desenlace desta bela e trágica graphic novel.

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