O Mau Exemplo de Cameron Post, escrito pela autora americana Emily M. Danforth, é um lançamento de 2018 da Harper Collins Brasil.

SOBRE O LIVRO

Cameron Post é uma garota do interior dos Estados Unidos que, como tantos antes e depois dela, está, aos treze anos, tentando descobrir quem é, o que envolve, naturalmente, sua sexualidade. No entanto, não é muito fácil explorar seus desejos quando você vive em um contexto que te diz que só há uma maneira certa de viver sua vida. Como se não bastasse Cameron perde os pais justamente nesse momento em que está começando a perceber que a sua sexualidade talvez não esteja em conformidade com o que esperam dela.

“Senti uma onda de calor me percorrer, e depois náusea, como se o meu corpo estivesse reagindo porque minha cabeça não estava fazendo aquilo do jeito certo. Como, agora que meus pais estavam mortos, ainda podia existir alguma parte de mim que sentia alívio por não ter sido descoberta?”

Assim, Cameron vê rapidamente toda a vida que conhecia até então desmoronar e se, por um lado, a culpa toma conta de sua relação com a morte dos pais, por outro ela passa a ser criada por uma tia extremamente religiosa e por uma avó cuja filosofia de evitar assuntos desagradáveis impede de interceder em seu favor. Quem Cameron é, no entanto, não pode ficar escondido para sempre e quanto mais perto ela chega de se descobrir e aceitar, mais perto ela chega também do enfrentamento com os valores tradicionais de sua família e da sociedade conservadora à qual ela pertence.


MINHA OPINIÃO

Essa foi uma leitura que me deixou muito na dúvida do que eu estava achando, pois é uma premissa incrivelmente promissora, mas que acabou deixando a desejar em termos de realização. Comecemos, entretanto, com seus aspectos positivos. Situada entre 1989 e 1993, a história tem bastante referência às especificidades tecnológicas da época e faz um bom uso das referências cinematográficas da época e da relação de compensação que a personagem acaba criando com os filmes e com a locadora de vídeos local. Acredito que este é um aspecto que possa facilmente trazer leitores um pouco mais velhos, aqueles que viveram sua juventude nos anos 80 e 90, para um livro que, normalmente, seria lido apenas por uma geração mais nova.

“Havia mais de um mundo além deste; existiam centenas e centenas deles, e pelo preço de noventa e nove centavos cada, eu podia alugar todos.”

Além disso, é muito interessante ver o modo como Cam se relaciona com a sociedade na qual se encontra e, especialmente, com as pessoas que ela eventualmente conhece que vieram de uma posição parecida com a sua: a de não se encaixarem nas expectativas de um certo tipo de fundamentalismo religioso, que faz com que jovens em formação lutem contra aspectos inerentes a quem eles são. Essa é uma das partes mais intensas e tocantes da leitura, o momento em que Cam é mandada para uma espécie de “Acampamento da Cura Gay”, pois nos apresenta não só o seu lado, mas o lado das pessoas que acreditam que há algo de errado em ser LGBT e ainda os modos diversos de lidar com aquela situação que cada personagem cria para si mesmos.

“A liderança irá erradicar rapidamente qualquer padrão de comportamento ou fala que promova ou celebre os chamados interesses ou maneirismos da cultura gay ou lésbica.”

No entanto, é justamente sobre esse ponto que recai uma das minhas críticas. Pois já sabemos, desde a sinopse do livro, que os pais de Cameron morrem, que ela acaba sendo criada pela tia e pela avó e que, em dado momento, sua atração por meninas é descoberta e ela é mandada para este acampamento. O problema é que tudo isso demora quase o livro todo para acontecer! E quando parece que vamos, finalmente, ter a chance de entrar mais em quem Cameron é, em tudo que ela vem sendo ensinada a esconder, ignorar e lutar contra, as coisas se resolvem rapidamente e o livro acaba.

Por conta disso, sinto que terminei a leitura gostando de Cam, querendo saber muito mais sobre seu futuro, ao mesmo tempo em que tive a sensação que a autora perdeu um tempo enorme, no início do livro, com cenas e situações totalmente dispensáveis e que acabam cansando um leitor que, por conta de uma sinopse que conta demais, já sabe exatamente onde a história vai chegar. Este é um livro que poderia ser incrivelmente poderoso, mas que, por falhas no campo da realização, acaba deixando a desejar.

Os capítulos demasiadamente longos também não ajudam muito nessa sensação de cansaço que temos ao longo, especialmente, da primeira parte do livro, mas essa é a única falha da diagramação. Embora não tenha uma tipografia muito grande, ela é confortável é suficiente e a capa, contra capa e lombada conversam muito bem com a história.

Mesmo com seus defeitos, acredito que algo do poder do que poderia ter sido se mantém e este acaba sendo uma leitura que vale, sim, a pena. Especialmente para quem nunca teve oportunidade de ler um romance jovem adulto protagonizado por um jovem lésbica em processo de se descobrir, tema bastante subexplorado na literatura, esta pode ser uma experiência bastante interessante.

O MAU EXEMPLO DE CAMERON POST

Autor: Emily M. Danforth

Editora: HarperCollins Brasil

Ano de publicação: 2018

Quando os pais de Cameron Post morrem em um acidente de carro, a primeira coisa que ela sente, para sua própria surpresa, é alívio. Alívio que eles nunca vão precisar saber que, algumas horas antes, ela estava beijando uma menina. Mas o alívio não dura, e Cam é forçada a morar com sua tia ultraconservadora e sua bem-intencionada mas antiquada avó. Ela sabe que, daqui em diante, tudo será diferente. Sobreviver nessa pequena cidade rural de Montana exige que Cam finja ser igual a todo mundo e evite assuntos indelicados (como diria sua avó), e ela é boa nisso. Até que Coley Taylor chega à cidade. Coley é perfeita, e tem um namorado perfeito para completar. Ela e Cam forjam uma amizade intensa, que parece deixar espaço para algo mais. Mas assim que isso começa a parecer possível, a religiosa tia Ruth decide que é hora de “consertar” sua sobrinha, a mandando para God’s Promise, um acampamento de conversão que deve “curar” sua homossexualidade. Lá, Cam fica frente a frente com o custo de negar quem ela é – mesmo que ela não tenha certeza que sabe realmente quem é. O mau exemplo de Cameron Post é uma estreia literária inesquecível e impressionante sobre descobrir quem você é e ter a coragem de viver de acordo com suas próprias regras.

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