O Menino Múltiplo é o primeiro livro da escritora Andrée Chedid a ser trazido ao Brasil, e contra com tradução de Carla Renard. O livro é um lançamento de 2017 pela editora Martin Claret.

SOBRE O LIVRO

Esta é a história do pequeno Omar-Jo, um garotinho que perdeu os pais para a guerra, juntamente com um de seus braços. A partir desta tragédia o menino de doze anos é enviado à Paris por seu avô para viver junto de seus primos longe de tudo isso e das lembranças de um mundo cruel.

Em Paris ele conhece Maxime, um empresário solitário e fadado ao desastre que abandonou a carreira atrás de uma mesa de escritório para viver um sonho. Um pequeno negócio, um carrossel situado em uma das praças mais famosas da cidade. No início tudo caminha bem, mas com o avançar dos anos as crianças tornam-se cada vez mais reclusas e cegas por seus aparelhos eletrônicos e novidades tecnológicas deixando de lado brinquedos como o carrossel de Maxime.

Um dia, após encerrar o expediente o empresário retorna a seu apartamento para o fim de mais um dia de fracasso. No entanto, quando retorna ao carrossel na manhã seguinte ele encontra um garoto dormindo em uma das carruagens do brinquedo e sua primeira reação é enxota-lo dali, mas aparentemente, aquele não era um garotinho comum.

“Menino de nossas guerras. Menino múltiplo. Menino de olhar lúcido que carrega o fardo, de um corpo ainda muito novo.”

Encantado pelo brinquedo o garotinho faz uma proposta ao empresário, ele diz ser capaz de trazer de volta a vida o velho carrossel e a felicidade daquele senhor tão solitário e carrancudo. E o melhor: inteiramente, de graça! E é assim que a história de uma linda amizade se inicia. Junto do garotinho, pouco a pouco o empresário reencontra os prazeres da vida, através de pequenas, mas grandes alegrias de um menino múltiplo.


MINHA OPINIÃO

Encantador! A palavra que define a obra de Andrée Chedid. Capaz de trazer ao leitor um misto de amor, carinho, esperança, humanidade e tantos outros sentimentos quanto se pode permitir. A partir de um romance a autora poetiza cada linha desta história, utilizando apenas a infância e a inocência como forças de apoio.

Cada aspecto do livro parece ter sido pensado para trazer a magia ao cotidiano, desde a cidade luz até seus personagens. Omar é um garotinho que apesar de ter perdido os pais muito novo e de um forma terrível, carrega em seu coração a pureza e um amor que não tem fronteiras entre pessoas, locais, religiões, cores raças e aparências físicas. Presa em um corpo infantil habita uma alma extremamente gentil e carinhosa de um senhor que tem vivido cada uma das aventuras que a vida possa proporcionar. Com uma sabedoria assustadora, o pequeno garotinho é capaz de enxergar em cada tragédia um ponto positivo, e em cada pessoa algo a que se possa “aproveitar”.

Enquanto os personagens secundários, cada um possui uma personalidade que encanta. O avô Joseph é um velho maltratado pela vida, mas que carrega em seu neto a esperança de uma nova vida, de um mundo melhor. Maxime é um senhor de meia idade que foi capaz de correr atrás de um sonho, e mesmo preso à tristeza de tê-lo visto em ruínas, consegue se erguer com pouco, e ainda assim, muito. Os primos do garotinho relatam a experiência da vida em conjunto e da dificuldade de aceitar o novo, mas mesmo assim sendo pessoas extremamente gentis.

A história dos pais de Omar é contada de forma curta e objetiva através de lembranças, hora do garoto hora do avô, mas apesar de sua presença tão objetiva eles são carregados através da memória de uma forma encantadora.

“É vasto um ser humano, indecifrável. Inesperado.”

O título do livro remete exatamente a personalidade de Omar, que é filho de pai muçulmano, mãe católica libanesa, neto de um comediante e que adota para si um amigo carrancudo e descrente. O garoto é múltiplo em sua personalidade e em suas origens. Uma personalidade comparada a sua e com a qual o pequeno garotinho se inspira é ninguém menos que Charles Chaplin, um alegre intérprete de alegrias e tristezas mas que carregou um carisma único.

Acima de tudo esta é uma história de amizade. Mas também podemos considerar pontos interessantes, como por exemplo o quão difícil é uma perda, as consequências que podemos enfrentar ao decidir correr atrás de um sonho e o que podemos sentir ao vê-lo se desfazer.

Dizer muito sobre esta obra é estragar a experiência que cada leitor vai encontrar através da escrita poética da autora, que nos faz viajar a um país diferente ao encontro de culturas diferentes. E, mais do que isso, é separar o leitor da experiência de se encantar de forma única, com o coração do pequeno Omar-Jo.

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O MENINO MÚLTIPLO

Autor: Andrée Chedid

Editora: Martin Claret

Ano de publicação: 2017

Filho de pai muçulmano egípcio e mãe católica libanesa, Omar-Jo carrega suas origens no nome. Durante a guerra do Líbano, em 1987, um carro-bomba leva seus pais e seu braço. E o menino de doze anos é enviado pelo avô, trovador, a Paris. É onde ocorre o encontro do Oriente com o Ocidente, do menino-duplo com as luzes, as cores, os sons e os movimentos do Carrossel de Maxime; o rabugento proprietário que, pouco a pouco, reencontra com o menino, então múltiplo, a alegria de viver. Alteridade, amor e tolerância fazem parte do enredo poético. A ser lido em voz alta.

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