O Oceano no Fim Do Caminho, do autor Neil Gaiman,  é um livro infantojuvenil de realismo mágico publicado no Brasil em 2013 pela editora Intrínseca.

Sobre o Livro

No início da história acompanhamos um homem de 47 anos que, por conta de um funeral, retorna à cidade de sua infância em Sussex, na Inglaterra. Enquanto ele vai em direção a uma casa no final da rua, acontecimentos de quando ele tinha sete anos tomam conta de seus pensamentos. Ao se sentar à beira do lago no final da pista, as memórias começam a voltar – memórias fantásticas cheias de seres mágicos e mundos ocultos e de Lettie Hempstock, uma garota que morava na  casa no final da rua e que dizia que o lago na verdade era um oceano. Três mulheres moravam nesse lugar – a velha Sra. Hempstock, Ginnie Hempstock e Lettie, de 11 anos, de quem o menino fica  amigo. 

Enquanto ele caminha pela fazenda e segue a trilha até o lago, é como se estivesse viajando no tempo. As memórias estão por toda parte, acenando para ele, e quando ele joga uma avelã na água, as ondulações passam por sua mente enquanto ele se lembra de tudo.

“Eu já estivera ali, não estivera, muito tempo atrás? Tinha certeza que sim. As memórias de infância às vezes são encobertas e obscurecidas pelo que vem depois, como brinquedos antigos esquecidos no fundo do armário abarrotado de um adulto, mas nunca se perdem por completo.”

O narrador personagem começa a contar sobre aquele temido desastre da infância, a festa de sete anos à qual ninguém compareceu. Sua família passava por um período de dificuldade financeira e por conta disso o seu quarto passou a ser alugado para hóspedes. Sua vida começa a mudar quando eles recebem um inquilino, um minerador de opala, que acidentalmente atropela seu  gatinho e, posteriormente, tira a própria vida dentro do carro da família. Este evento desencadeia uma terrível mudança na natureza das coisas.

Coisas estranhas começam a acontecer e uma nova hóspede e governanta da família do menino parece estar relacionada a esses eventos.  O total desconhecimento de sua família sobre qualquer ameaça faz parte do terror.


Minha Opinião

Foi um pouco desafiador para mim, pensar no que escrever sobre O Oceano no Fim Do Caminho. A história começa como uma reminiscência da infância há muito perdida, mas depois evolui para algo semelhante ao realismo mágico em que temos a visão de uma criança contribuindo para a própria fantasia.

O prólogo serve como um lembrete de que algumas memórias, por mais escondidas que sejam, não são verdadeiramente esquecidas, mas podem apenas precisar de um lembrete gentil. Nesta história, seguimos o narrador pela estrada da memória, até quando o Menino conheceu as mulheres da família Hempstocks e os eventos que levaram a esse primeiro encontro, tudo contado da perspectiva de uma notável e inteligente criança de sete anos.

“Mas ali, de pé naquela saleta, tudo estava voltando. As lembranças estavam à espreita nos arredores das coisas, acenando para mim. Se você me dissesse que eu tinha novamente sete anos, por um breve instante eu quase poderia acreditar.” 

As Hempstock, são mulheres fascinantes que dão ao menino um porto seguro sem nunca explicar nada totalmente a ele. E estes são tempos difíceis para o menino que tem que aceitar o fato de que os monstros existem. Com as Hempstock, ele tem quem acredite nele, enquanto seus pais jamais acreditariam.

Curiosamente, nenhum personagem da família do protagonista, incluindo ele mesmo, é nomeado. Ao meu ver, isso contribui para uma certa imersão na história. O menino pode ser qualquer um, inclusive o próprio leitor. Muitos de nós, provavelmente, já tivemos fases difíceis quando crianças, chegando a acreditar que havia um monstro debaixo da cama e precisando do conforto da luz do corredor acesa para dormir. A história do menino é identificável em muitos níveis e Neil Gaiman conseguiu misturar o fantástico com o mundano. Cada página nos leva um passo adiante não apenas na jornada do menino, mas também na nossa

Quem já voltou para a casa da infância depois de tantos anos sabe como tudo parece pequeno depois de todo esse tempo? Essa é a sensação que o protagonista tem ao se comparar com o lago/oceano de Lettie Hempstock.

“ Ninguém realmente se parece por fora com o que é de fato por dentro. Nem você. Nem eu. As pessoas são muito mais complicadas que isso. É assim com todo mundo.” 

Uma dualidade de emoções vem à tona: lembrar os bons tempos de infância cria uma sensação de calor e conforto, enquanto lembrar os maus momentos cria uma sensação de horror e pavor. O Oceano no fim do caminho é uma história simples na superfície, mas com uma profundidade de imersão que depende inteiramente de quanto você se conecta com a história e com a escrita do autor. O resultado, para mim, foi uma história cativante, capaz de fundir o místico e o familiar , a criança e o adulto, o imaginativo e o real. 

O lago de  Lettie pode ter sido só um lago. Ou talvez não. Talvez seja realmente o oceano. E talvez a avó de Lettie realmente consiga fazer a lua cheia todas as noites, talvez ela esteja viva o suficiente para ter testemunhado o Big Bang. Para mim, foi um prazer peculiar ler como adulta, dominando o que restava da minha imaginação como criança. 

“Adultos não parecem com adultos por dentro também. Por fora, são grandes e descuidados e sempre sabem o que estão fazendo. Por dentro, parecem com quem sempre foram. A verdade é que não existem adultos. Nenhum nesse mundo inteiro.”

Se você gosta de livros com protagonismo infantil, em que o real e o imaginário se confundem, você deveria conhecer O Oceano no Fim Do Caminho. Considere ler também O Livro do Cemitério e Coraline, livros infantojuvenis do mesmo autor.

O OCEANO NO FIM DO CAMINHO

Autor: Neil Gaiman

Tradução: Renata Pettengill

Editora: Intrínseca

Ano de publicação: 2013

Foi há quarenta anos, agora ele lembra muito bem. Quando os tempos ficaram difíceis e os pais decidiram que o quarto do alto da escada, que antes era dele, passaria a receber hóspedes. Ele só tinha sete anos. Um dos inquilinos foi o minerador de opala. O homem que certa noite roubou o carro da família e, ali dentro, parado num caminho deserto, cometeu suicídio. O homem cujo ato desesperado despertou forças que jamais deveriam ter sido perturbadas. Forças que não são deste mundo. Um horror primordial, sem controle, que foi libertado e passou a tomar os sonhos e a realidade das pessoas, inclusive os do menino. Ele sabia que os adultos não conseguiriam ― e não deveriam ― compreender os eventos que se desdobravam tão perto de casa. Sua família, ingenuamente envolvida e usada na batalha, estava em perigo, e somente o menino era capaz de perceber isso. A responsabilidade inescapável de defender seus entes queridos fez com que ele recorresse à única salvação possível: as três mulheres que moravam no fim do caminho. O lugar onde ele viu seu primeiro oceano.

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