Lançado em 2017, “O Rei de Palha” é escrito pela autora estadunidense K. Ancrum e foi publicado no Brasil pela editora Plataforma 21.

Sobre o Livro

Convivendo em grupos separados dentro do ambiente escolar, mas tendo um laço de amizade e companheirismo construído desde a infância, Jack e August são o apoio emocional um do outro e compensam juntos a negligência de seus pais em suas vidas. Jack, a estrela do esporte da escola e andando com o grupo “popular”, sempre foi a presença a qual August admirava e seguia sem nem precisar pensar nos seus atos. August, reservado e fazendo o tráfico interno de drogas da escola para juntar dinheiro após a descoberta da depressão da mãe, é quem Jack sempre tentou manter sob suas asas e para quem ele pede ajuda quando está em situações desesperadoras.

“Jack não olhou para ele. Deixou as palavras penderem no ar por um tempo, depois começou a andar. E, como sempre, August o seguiu”

A vida dos dois seguia um fluxo continuo até que alguma coisa estranha começa a acontecer com Jack: vendo pessoas, lugares e ouvindo histórias que ninguém mais vê; Jack e August embarcam num mundo invisível aos olhos de um deles, mas que vai exigir dos dois laços ainda mais fortes do que eles achavam que tinham. Afinal, toda aquela codepêndencia da relação dos dois desde a infância era mesmo só amizade ou tinha algo mais nessa devoção impensada? O que Jack vê realmente existe? August tomou a decisão certa ao seguir Jack dentro desse mundo invisível aos seus próprios olhos e que cobra dele atitudes que colocam em risco a segurança de ambos?


Minha Opinião

Rápido e instigante, O Rei de Palha foi uma surpresa extremamente agradável pelo rápido envolvimento do leitor com os personagens. Narrado principalmente pela perspectiva de August, é fácil se apegar aos dois protagonistas bem como torcer por eles e sentir a angústia que eles sentem por não entender o que está acontecendo com Jack. A construção do mistério das visões turvas que Jack visualiza misturam-se de forma muito interessante com uma ideia de realismo mágico e com a discussão acerca de saúde mental e a interatividade que essa situação estabelece com os livros também é um artificio bem curioso e divertido. A medida que Jack piora, as páginas escurecem e ajudam a transmitir ao leitor a gravidade da situação.

Construído de forma bem dinâmica, em poucas páginas conseguimos entender a natureza da dependência da relação entre Jack e August, que protagonizam um romance LGBTQ+ muito bem sedimentado ao mesclar flashbacks da infância com os momentos dos dois no presente, tratando sobre dúvida, aceitação, medo e principalmente amor. Claro, a questão da dependência emocional dos dois – ocasionada pela negligência familiar – é um ponto que certamente poderia ser problemático se não fosse a eximia condução da autora. K. Ancrumt tem consciência de que um relacionamento co-dependente não deve ser romantizado e sabe contornar e trabalhar isso sem invalidar o amor dos dois um pelo outro.

A todo momento, a pauta da saúde mental é também enfatizada e atrelada ao papel dos pais que fazem falta na narrativa. Ausentes propositalmente, a família de Jack e August é um dos elementos que contribuem para as conturbações na trama dos dois e fomentam uma discussão acerca da alienação parental e quais as consequências disso na cabeça das crianças e dos jovens.

“Você não pode morrer de um jeito tão idiota – ele sussurrou com raiva – Preciso de você. Você é meu”

É instigante o modo como a autora sabe manter o mistério acerca de Jack até o final, ora pendendo pra fantasia, ora mostrando a realidade por trás da situação e quando chegamos ao fim do livro é extremamente compreensível cada um dos passos tomados anteriormente. Apesar de curto e muito ligeiro ao apresentar seu enredo, o livro tem um foco bem acertado no público jovem sem nunca o subestimar e colocando todas as pautas sérias em relevância de forma muito bem organizada.

Jack e August são realmente personagens dos quais não conseguimos esquecer ao fechar as páginas da história, a dinâmica da relação de amor e apoio dos dois não é o exemplo maior a ser seguido por todo mundo, mas a forma como essa duplicidade é construída faz-se compreensível e faz com que o leitor torça por eles a todo instante. Os demais personagens secundários, apesar de aparecerem em grau menor, são também uma parte divertida da narrativa e atuam como os apoios externos dos dois. De leitura rápida, mas marcante por conta dos protagonistas, O Rei de Palha é a escolha certa se você quer conhecer mais romances LGBTQ+ e gosta de narrativas da literatura juvenil que abordem temas sobre saúde mental de forma objetiva, mas consciente.

O REI DE PALHA

Autor: K. Ancrum

Tradução: Guilherme Miranda

Editora: Plataforma 21

Ano de publicação: 2017

August é considerado um desajustado piromaníaco, enquanto Jack é a estrela do time de rúgbi do colégio. A amizade dos dois nasceu ainda na infância, e a forla dela é algo que eles mantêm em segredo. Ninguém sabe, mas Jack e August contam com o apoio um do outro para sobreviver – o apoio que suas famílias não oferecem. Quando Jack passa a ter alucinações cada vez mais vívidas, August decide ajudá-lo da única forma que sabe: saltando com Jack em seu reino fantástico que beira o mundo real. Então, Jack guia August por uma jornada sombria, acreditando que assim suas alucinações terão fim. Enquanto lutam pela própria sanidade, eles seguem em queda livre por um mundo surreal. Mas, ao final, cada um deverá escolher a própria verdade. Com capítulos intercalados por documentos, recortes, bilhetes, fotografias e outras memórias, O Rei de Palha é uma ficção contemporânea carregada de tensão, loucura e amor

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