O Silêncio da Cidade Branca é da escritora Eva García Sáenz de Urturi. Ele é o primeiro livro da trilogia da Cidade Branca. Lançado em 2020 pela editora Intrínseca.

Sobre o livro

A cidade de Vitoria, na Espanha, já foi palco de terríveis crimes no passado. O sádico assassino, Tasio Ortiz de Zárate, foi preso e condenado. Figura conhecida da população, seus livros faziam muito sucesso e seu conhecimento da história da cidade e região eram incríveis. Por isso, a forma como ele assassinava casais de determinadas idades, de maneira cruel e ritualística e sempre em locais históricos, deixou todos em choque. O fato é que ele sempre se declarou inocente, apesar de todas as evidências.

“Um policial nunca espera encerrar um caso sendo a última vítima do assassino, mas a vida tem formas muito criativas de pregar peças.”

Após 20 anos, perto da libertação desse criminoso, os estranhos assassinatos voltam a acontecer. Novamente seguindo as marcas deixadas pelo primeiro assassino. Obedecendo as idades, os gêneros, as posições e a crueldade dos primeiros. Mas, quem estaria fazendo isso se Tasio está preso? Teria ele um cúmplice? Um imitador?

Do outro lado da trama temos Unai López de Ayala, um especialista em perfis criminais, que era obcecado pelo caso quando tudo começou. Na época, ele era um jovem e teve por principal motivação para entrar na polícia, esse caso. Hoje ele será responsável por essa investigação e terá um estranho aliado nessa caçada, pois o próprio Tasio deseja ajudá-lo. Será que ele pode confiar nesse homem? O que está escondido por trás desses assassinatos cheios de simbolismos?


Minha opinião

Cometi um erro que vários leitores já cometeram: primeiro vi o filme e depois li o livro. Por isso, tenho comentários a tecer tanto sobre o livro quanto sobre sua adaptação. Começar o livro já sabendo o final, nem sempre é interessante. Aqui me deixou um pouco desconfortável com a descoberta, pois preferia sofrer o impacto da revelação. Entretanto, o livro explicou muitas coisas que passaram batidas no filme. Algumas partes acabaram ficando sem uma explicação aceitável e, aqui, deu para entender melhor o que eles quiseram dizer. Além disso, foi muito mais fácil ter empatia por Unai, nosso protagonista, entendendo melhor todo o seu passado.

Algo que me encantou nessa narrativa, foi sair da minha zona de conforto. Conhecer um pouco mais sobre a Espanha, principalmente a cidade de Vitoria, com sua riqueza em arquitetura e lendas, foi muito interessante. Todo esse plano de fundo histórico, onde nada é por acaso e todos os crimes tem uma explicação, foi o ponto forte da narrativa. O final é bem revelador e se eu não soubesse a verdade através do filme, eu demoraria muito mais para desvendar o mistério apenas com o livro. No filme, temos um número X de personagens e sabemos que entre eles devemos encontrar a verdade, por isso, fica mais fácil ir por eliminação. No livro o choque é mais inesperado e revelador.

“Quando quem sai matando em série é um baita de um gênio, só o que resta é rezar para que não sorteiem seu número na loteria da morte.”

É interessante que o assassino, Tasio, é uma figura conhecida, rica, influente e extremamente inteligente. Por isso, ele ser preso de maneira tão “desleixada” é muito estranho. Seus encontros com Unai são sempre cheios de charadas e rendem os melhores diálogos da trama. Seu conhecimento da história local, a forma como os crimes se encaixam e toda a mística em volta da cidade são riquíssimos em detalhes e encantam aqueles que adoram um simbolismo.

Enquanto isso, Unai foi um personagem que me deixou pensativa. Interpretado por Javier Rey, fica muito difícil simpatizar com ele na adaptação. Acho que por ser uma história tão rica em detalhes, reviravoltas e enigmas, tudo ficou muito corrido em menos de duas horas de filme. Seu passado, suas motivações e suas histórias são muito mais complexas. No livro, temos toda a sua visão da família, sua importância o quanto todos são ligados, no filme temos tudo mais corrido e sem aprofundamento. Isso nos faz perder muito sobre quem ele realmente é e sobre os motivos que o levam a tomar determinadas decisões. No livro, fica muito mais fácil entender sua dor, a mágoa que ele carrega e toda a turbulência que é sua vida.

“Reprimi uma ânsia de vômito recordando as fotos forenses dos cadáveres das crianças. Naqueles anos só tinha pensando nos gêmeos e na rota histórica das cenas. Mas agora eu era o investigador, e não um espectador fascinado com os crimes duplos.”

O interessante é que Unai tem toda uma história com os crimes. Ele era um jovem quando tudo aconteceu e ficou obcecado pela situação. Ele acreditava ver muito mais que a polícia e criava suas próprias teorias. Isso me fez pensar em quantas vezes pensamos “resolver um caso” que a polícia ainda não finalizou pensando “nossa, como eles não veem que a resposta está na frente deles!”. Só que aqui, teremos a visão de Unai como investigador também, mostrando o quanto evidências podem levar para o lado errado, como é difícil julgar uma pessoa e toda a burocracia e termos técnicos de uma investigação.

Existem algumas diferenças entre as duas obras, sendo o livro muito superior. Ele é muito bem escrito e elaborado, não temos pontas soltas e tudo será respondido ao final. As motivações, as verdades e as consequências desses atos serão vistas ao final dessa trama que é de tirar o fôlego. Aqui, todos parecem suspeitos. Como identificar quem está falando a verdade?

 

 

O SILÊNCIO DA CIDADE BRANCA

Autor: Eva García Sáenz de Urturi

Tradução: Cristina Cavalcanti

Editora: Instrínseca

Ano de publicação: 2020

Duas décadas após uma série de estranhos assassinatos assolar a cidade de Vitoria, no País Basco, os bizarros crimes voltam a acontecer justamente quando Tasio Ortiz de Zárate, antiga celebridade local e o homem preso pelas mortes, está prestes a sair da cadeia. Casais começam a aparecer mortos em locais históricos da cidade, e o especialista em perfis criminais Unai López de Ayala, que vinte anos antes era apenas um jovem obcecado pelos misteriosos homicídios, é chamado para ficar à frente do caso. Todas as vítimas têm idades múltiplas de cinco, sobrenomes compostos originais da região e seus corpos são expostos sem roupas nos espaços públicos. Embora tenha que lidar com uma tragédia pessoal enquanto lidera a investigação, Unai está determinado a impedir que novos assassinatos aconteçam, mas seus métodos pouco usuais vão desagradar tanto autoridades quanto seus superiores.

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