Oliver Twist, escrito pelo consagrado Charles Dickens e publicado nessa belíssima edição pela editora Melhoramentos, em 2012, é o primeiro romance em língua inglesa a ter uma criança como protagonista.

Sobre o Livro

Inglaterra, século XIX, Oliver Twist, um pobre garotinho que ficou órfão no minuto em que nasceu, e por pouco não acabou tendo o mesmo destino que a sua mãe. Sem a mãe e sem ter qualquer paradeiro de quem pudesse ser o seu pai, Oliver fica sob tutela da paróquia e de outros adultos para os quais fora vendido.

Cansado de ser maltratado e explorado por qualquer pessoa que se tornasse seu responsável, o garoto resolve fugir para dar um basta em todo aquele sofrimento que lhe causavam, indo viver nas ruas de Londres, onde acaba conhecendo o chefe de uma quadrilha de meninos. Em meio a enrascadas que parecem não ter fim, Oliver nem imagina que em meio a tamanha confusão e sofrimento irá descobrir os segredos de sua origem.


Minha Opinião

Quando eu bati os olhos na sinopse desse livro ele foi para a lista dos desejados imediatamente. Tive a oportunidade de comprar essa edição de clássicos da Melhoramentos, e confesso que ler essa história, nessa edição em particular, que é cheia de ilustrações, superou todas as minhas expectativas a respeito de tudo que envolve o ato de fazer uma leitura. O livro possui uma ótima diagramação, é intercalado entre folhas brancas e pretas, conforme o tipo da ilustração; também é dividido em muitos capítulos, quais ajudam a organizar a história e fazer com que a gente não se perca em meio a tantos personagens. Esta obra está realmente um capricho e tudo colabora para uma leitura muito fluída, fazendo com que o livro seja devorado.

Confesso que foi uma história bastante sofrida e difícil de ser lida para mim, porque aqui vemos a história de uma criança sendo completamente maltratada; e seus breves momentos felizes são mesmo muito emocionantes. Isso tudo se dá devido a como o personagem de Oliver fora construído, uma criancinha que desde que nascera viveu sofrendo maus tratos, só convivendo com pessoas ruins, e que independente disso se tornou uma pessoa completamente diferente de toda essa ruindade, tornando-se alguém completamente amável, grato por absolutamente todas as coisas boas, mesmo que mínimas, que aconteciam em sua vida.

Uma das coisas mais difíceis de ver nessa história, além de todo o sofrimento que terceiros causavam a Oliver, é vê-lo se auto punir por todas as coisas ruins que os seus responsáveis lhe obrigavam a fazer. Doeu muito em meu coração ver um jovenzinho tão bom e tão maduro, passando por coisas que talvez um adulto não suportaria.

“Os homens que olham para a natureza e para seus semelhantes, e gritam que tudo é sombrio e lúgubre, têm suas razões, visto que essas cores tristes que eles vêem provêm de seus olhos e de seus corações amargurados. Para ver as cores tão verdadeiras e delicadas como elas são, é necessário possuir uma visão mais clara.”

A trama tem início de forma simples e assim se sustenta até o seu fim, o que não é um problema, levando em consideração que o enredo por si só já é bastante denso – e triste -. Apesar da história ser sobre Oliver, não temos um foco central o tempo todo em seu personagem, embora tudo que aconteça gire em tordo do mesmo. Temos aqui muitos personagens, e mesmo eles não tendo uma construção ou introdução a sua aparição em meio a história, o jeito que são introduzidos não faz com que tenhamos a sensação de eles terem sido simplesmente jogados dentro da história. Tudo e todos, aqui, têm um porquê. E a história é narrada pelos próprios capítulos, que em seus títulos “avisam” o que será apresentado em seu decorrer, e é ele quem vai nos introduzindo aos acontecimentos; quando não é a narrativa dos capítulos, temos os diálogos dos personagens.

A empatia que criamos por Oliver e por todos os que lhe fazem bem é tão certeira, como a raiva que sentimos de todas as almas puramente maldosas que o maltratam. Imagine a situação por duas perspectivas: a de uma criança completamente sozinha no mundo tentando sobreviver da forma menos sofrível possível, ou a de um adulto que sente empatia por ele tentando com todas as forças a ajudá-lo, mas correndo risco de vida por todos àqueles que fazem mal a Oliver.

“Há grandes homens que fazem todos os outros se sentirem pequenos. Mas a verdadeira grandeza consiste em fazer com que todos se sintam grandes.”

Em um primeiro momento nós achamos que todo mal à criança é completamente gratuito, mas conforme o andar da carruagem coisas importantes vão sendo reveladas e acabamos descobrindo que Oliver não é um serzinho aleatório que deu azar de cair nas mãos das pessoas erradas. O que parecia um cruel destino revelou-se um plano muito bem planejado. Mas calma, isso está longe de ser um spoiler! Mas já aviso que você tem que ter muito estômago para digerir tanta coisa ruim que as pessoas são capazes de fazer quando querem alguma coisa. E que uma criança pode ter medo de bicho papão, quando nem oportunidade teve de ser criança para sequer poder ser assustado com mitos infantis.

Oliver Twist é um marco na literatura, principalmente por ter sido uma crítica à hipocrisia britânica, visto que tem como pano de fundo a Inglaterra em plena Era Vitoriana, mostrando todos os reflexos de uma vida precária e desumana, principalmente para as crianças. Numa época e local de berço da Revolução Industrial, onde a produção artesanal foi substituída pela maquino fatura, vemos um verdadeiro exército de mão de obra disponível causando pobrezas e desgraças. Com o trabalho escasso, salários baixíssimos e direitos trabalhistas inexistentes, vemos todo o caos da época sendo demonstrado em paralelo a triste história do pequeno Oliver.

Charles Dickens é um dos mais famosos escritores da era vitoriana, sendo a maioria de suas obras inspiradas nessa época. Mas, como descreve a própria Bagagem de Informações (extras informativos no fim do livro), o autor “embora criticasse as mazelas da sociedade inglesa da época, agradou o público burguês ao retratar as consequências da Revolução Industrial, inclusive as precárias condições a que estava submetida a classe trabalhadora.” É doentio pensar que pessoas se sentiram satisfeitas ao ler a obra tendo como sensação a de dever cumprido com tanta tragédia propositalmente bem sucedida, mas, diante de todo mal, a leitura merece ser feita. Oliver precisa ser acolhido em nossos corações!

OLIVER TWIST

Autor: Charles Dickens

Editora: Melhoramentos

Ano de publicação: 2012

Inglaterra, século XIX. Oliver Twist chegou ao mundo numa noite bem fria e nada promissora. A mãe morreu em seguida, e ninguém tinha a menor ideia de quem fosse o pai. Órfão e pobre, o menino passou por todo tipo de privação, até ser vendido a um coveiro. Maltratado, acabou fugindo e foi viver nas ruas de Londres, onde conheceu Fagin, chefe de uma quadrilha de meninos especialistas em furto de joias. É o início de uma história cheia de desafios e reviravoltas. Obrigado a roubar, Oliver começa a se meter em uma grande enrascada, mas nem imagina que, em meio a tamanha confusão, o destino trará à tona os segredos de sua origem.

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