Os Testamentos, de Margaret Atwood, continuação de O Conto da Aia, foi recentemente lançado no Brasil no dia 9 de novembro de 2019, pela editora Rocco.

Sobre o livro

Quinze anos se passaram após os acontecimentos finais de O Conto da Aia, porém mesmo depois de tanto tempo, as reviravoltas na vida de Offred ainda afetam a vida de muitos ao seu redor. Através de três narrativas distintas, a autora apresenta uma imagem mais ampla do país distópico de Gilead, dando ao leitor explicações e mostrando melhor a forma de vida que circula por lá.

Uma das narrativas é a da Tia Lydia, personagem frequentemente citada por Offred no primeiro livro como severa e brutal. A segunda é Agnes, filha de um comandante de alto escalão da política interna de Gilead. E a terceira é Daisy, uma garota comum morando no Canadá, perto da fronteira com Gilead.

“Por enquanto ainda tenho escolha nesse quesito. Não se vou morrer, mas quando e como. Não seria isso, de certa forma, liberdade?”

É através desses três pontos de vista que conhecemos melhor o funcionamento e até mesmo a criação desse sistema opressor, com capítulos intercalados para cada uma das personagens. Além de conhecermos melhor a vida das Tias, das crianças, dentro da escola, dentro das casas, a função de cada peça, acompanhamos também o declínio de Gilead.


Minha Opinião

Quando li O Conto da Aia, a sensação permanente que tive durante toda a leitura foi a de desesperança, desespero, tristeza. Esse não é o caso em Os Testamentos. Aqui, o sentimento que se passa é de esperança, de luta. A escrita foi bem mais fluida do que no primeiro livro, com muito mais explicações dos temas e do mundo.

“Pode ser muita pressão em cima de alguém, quando te mandam ser forte.”

Eu não esperava que fosse existir um segundo livro, até porque já fazia tanto tempo desde o lançamento do primeiro que simplesmente aceitei que teria que me contentar com a série. Quando Os Testamentos foi anunciado, eu fiquei um pouco brava. Senti que não tinha necessidade, senti que era só por causa da fama da série e que a autora só queria mais dinheiro. Errada ela não estava, mas normalmente, quando um livro é escrito somente pelo valor monetário, costuma ser bem ruim. Felizmente, esse não foi o caso.

O maior ponto do livro não é necessariamente explicar o que aconteceu com a Offred, e sim como o que aconteceu com ela culminou numa sucessão de fatos que acarretou a destruição de Gilead. Isso não é um spoiler por muitos motivos, mas o maior deles sendo que no final de o próprio O Conto da Aia mesmo temos provas de que Gilead não existia mais.

Mesmo com todo meu rancor inicial, eu já estava extremamente pronta para essa leitura. Fiquei muito ansiosa para comprar o livro, e comecei a ler logo que ele chegou. Minha leitura durou um mês inteiro, mas não por ser lenta, e sim porque quis ir devagar por conta dos temas tratados e das violências relatadas nas páginas. Quis ao máximo evitar as crises que tive quando li o primeiro livro, e de fato consegui. Mas em alguns momentos foi difícil, pois queria muito continuar lendo.

“Ninguém quer morrer […] Mas algumas pessoas não querem viver da forma que se é permitida.”

Algo que achei muito interessante foi como a autora passou a personalidade de cada personagem muito bem. Se não tivesse indicação de quem era quem no início dos capítulos, ainda assim eu teria conseguido identificar pela forma de escrita e de fala de cada uma delas.

As três são incrivelmente diferentes e seguem jornadas diferentes. Enquanto Agnes é mais dócil e delicada, tendo sido criada em Gilead, Daisy é como qualquer outra adolescente. Agnes é silenciada, como toda mulher em seu país, porém é curiosa e resiliente. Daisy pode ser incrivelmente irritante em vários momentos, é teimosa e respondona, porém muito corajosa. Tia Lydia nos é apresentada de uma forma bem diferente da qual já conhecemos, inclusive, mostrando como veio a ser quem é na nova ditadura.

“Você não acredita que o céu está caindo até que um pedaço caia em cima de você.”

Uma das coisas mais interessantes ao meu ver, foi assistir Agnes crescer e perder lentamente a fé no sistema em que foi criada e educada para acreditar cegamente. Enquanto na escola aprendia a ser submissa, ouvia as regras e leis que lhes eram passadas, em casa via uma realidade cruel e triste, aos poucos descobrindo os segredos por trás de toda a farsa.

O livro aborda feminismo, romance, pedofilia, abuso sexual, religião, política, irmandade, e tantos outros assuntos. Isso tudo sempre levando em conta o sistema de classes instituído e algumas dessas classes ganhando mais visibilidade.

“Uma vez que algo que você considera verdade se torna mentira, você começa a suspeitar de tudo. […] A verdade pode causar muitos problemas para quem não devia conhecê-la.”

Eu li o livro na edição em inglês, porque não aguentei esperar até lançarem no Brasil… Apesar de que não demorou quase nada nesse caso. É uma edição em capa dura, folhas amareladas, a jacket com a capa em efeito soft. É um livro grande, mas não foi difícil de transportar nem de ler. Essa edição é bem mais cara do que a brasileira, e o único motivo de eu ter conseguido comprar foi ter estado em promoção ao mesmo tempo que eu tinha dinheiro.

Recomendo a leitura, especialmente para fãs de George Orwell. É um livro com temáticas pesadas, em muitos momentos é triste e frustrante, mas acredito que a importância da leitura e a discussão que esses temas trazem é grande demais para ser deixada de lado. Tanto o primeiro quanto o segundo livro.

OBS.: Como minha leitura foi feita em inglês, a tradução das citações feitas nessa resenha foram minhas..

OS TESTAMENTOS

Autor: Margaret Atwood

Tradução: Simone Campos

Editora: Rocco

Ano de publicação: 2019

O conto da aia, a obra-prima distópica de Margaret Atwood, tornou-se um clássico de nossos tempos. E agora a autora oferece a seus leitores a sua aguardada e surpreendente continuação.QUINZE ANOS APÓS os eventos de O conto da aia, o regime teocrático da República de Gilead aparentemente se mantém firme no poder, mesmo após as sucessivas tentativas de insurgência. Mas há sinais de que suas engrenagens começam a se deteriorar.Nesse momento crucial da história política do país, as vidas de três mulheres radicalmente diferentes convergem, e as consequências deste encontro poderão ser explosivas. Duas delas cresceram em lados opostos da fronteira: uma em Gilead, criada em meio a privilégios como filha de um importante Comandante, e outra no Canadá, onde frequenta a escola, trabalha na loja dos pais, participa de protestos anti-Gilead e assiste na TV às notícias sobre seus horrores. Os testamentos dessas duas jovens, que fazem parte da primeira geração a chegar à idade adulta nessa nova ordem mundial, são entrelaçados por uma terceira voz: o revelador manuscrito de uma das executoras do regime, uma mulher que exerce sua autoridade implacável por meio do acúmulo e da manipulação de segredos de Estado que podem ameaçar todas as estruturas do poder. Segredos dispersos e há muito enterrados, capazes de unir essas três mulheres, fazendo com que elas encarem quem realmente são e decidam até onde podem ir em busca do que acreditam.

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