Atenção!

Este Livro contém cenas de violência e consequentemente depressão. Siga com a resenha e opte pela leitura por sua conta e risco.

Precisamos Falar Sobre o Kevin é um livro da autora Lionel Shriver, com sua primeira publicação no Brasil em 2007, pela editora Intrínseca. Em 2012 ganhou uma nova edição com a capa do filme, pela mesma editora.

Sobre o Livro

Em uma quinta-feira, 8 de abril de 1999, a qual era para ter sido apenas mais um dia normal na vida de Eva, acaba se transformando em seu maior pesadelo. Seu filho Kevin, um jovem de 15 anos, três dias antes de completar seu decimo sexto aniversário, assassina sete colegas, uma professora e um funcionário em sua escola.

Um ano e oito meses depois Eva começa a escrever cartas para seu marido ausente a fim de contar tudo que viveu e estava vivendo em relação a atitude do filho e é a partir desse estilo de narrativa que vamos conhecendo-a melhor.

” Evitar relacionamentos por medo da perda é evitar a vida. “

O que parece ser apenas mais uma história sobre um jovem que cometeu um massacre em sua escola, se mostra um livro muito aprofundando nas consequências de seus atos, nos sentimentos de Eva sobre a situação e um grande desenvolvimento de Kevin, da sua criação desde a barriga de sua mãe até seu “grande dia”. Uma história que estará disposta a abalar até aqueles que se dizem fortes.


Minha Opinião

O livro é muito doloroso, por assim dizer, e carrega uma carga emocional muito grande. O início foi um tanto arrastado para mim, mas depois do nascimento do Kevin a história começa a ficar mais interessante e com um ritmo melhor. Ainda assim, foi apenas depois dos cinquenta porcento que ela fluiu de uma forma incrível e eu finalizei tão rápido ao ponto de nem perceber. Essa primeira parte, mesmo que arrastada, é de extrema importância para a construção da trama e claro, do massacre. Outro detalhe que colabora para se acostumar com o ritmo de leitura é o fato dele haver muitos poucos diálogos, sendo a sua maior parte descritiva, com muitas palavras difíceis e metáforas.

Conhecer a relação de amor e ódio entre Eva e Kevin foi uma experiencia incrível, e por conta de sua indecisão em querer ou não ter um filho, muitas vezes foi necessário pausar a leitura e respirar fundo. Incontáveis capítulos e trechos segurei a vontade de chorar, pensando o quanto tudo poderia ser diferente, o quanto eu queria que ela tivesse sido feliz.

“É só isso que eu sei. Que, no dia 11 de abril de 1983, nasceu-me um filho, e não senti nada. Mais uma vez, a verdade é sempre maior do que compreendemos. Quando aquele bebê se contorceu em meu seio, do qual se afastou com tamanho desagrado, eu retribui a rejeição – talvez ele fosse quinze vezes menor do que eu, mas naquele momento, isso me pareceu justo. Desde então, lutamos um com o outro, com uma ferocidade tão implacável que chego a admirá-la.”

Por se tratar de cartas ele é narrado em primeira pessoa, mostrando o ponto de vista de Eva onde, as vezes de forma não tão linear mas de fácil ligação e associação do tempo, ela nos conta vários aspectos de sua vida além de Kevin, como a acusação de negligência por conta do assassinato, suas visitas a prisão onde ele está, como ele já não era uma boa pessoa desde criança e como isso gerou problemas em seu casamento.

Além do aprofundamento de Eva, a qual me senti muito próxima no final da leitura e com vontade de abraça-la, achei Kevin muito mais desenvolvido, considerando que o foco da história é ele, mas não unicamente ele. Desse modo, por acabar conhecendo o personagem, seus pensamentos e personalidade de uma forma tão profunda e toda sua trajetória até ao massacre fica perceptível, sem precisar concordar com o mesmo, que para ele tal acontecimento fazia total sentindo, e não apenas isso, era necessário.

Lionel Shriver faz um trabalho muito bom no desenvolvimento familiar. Não apenas na relação de Kevin e Eva, mas de Eva e seu marido, os conflitos que as crueldades e a falta de demonstração de amor dela pelo filho causou no seu casamento e é claro, no próprio filho. Nos levando a pensar como a maternidade é uma escolha importante e se decidimos por ela devemos deseja-la de verdade, para não causar sofrimentos em nós mesmo e em pessoas que não tem culpa de nossas escolhas.

Eu já havia assistido o filme, qual é o meu favorito da vida, e havia um certo receio que uma experiência estragasse a outra, porém eu estava enganada. Iniciamos o livro sabendo que o Kevin assassinou tais pessoas e o marido de Eva não está mais presente. Como no filme, os detalhes desses acontecimentos, como o massacre, só são apresentados no final. Entretanto é claro que eu já sabia o que aconteceria e como aconteceria e isso não atrapalhou em nada a minha experiência e mesmo assim consegui me surpreender com o plot final.

Apesar das metáforas e palavras difíceis, que comentei no inicio da resenha, tirarem um pouco o ritmo da leitura, também é um ponto positivo. Isso faz da escrita da autora muito trabalhada, e muitas vezes um tanto poética, deixando o peso do livro cravado. Essa escolha de narrativa ajudou para que o livro tivesse um impacto maior sobre mim.

O filme não nos apresenta tantos detalhes da quinta-feira como o livro, que relata todos os acontecimentos daquele dia e como Kevin o realizou. Já o plot que comentei acima, com a sinopse e desenrolar do livro, achei que fosse algo acrescentado ao filme para causar mais impacto ao espectador (já que tais artes funcionam de formas diferentes). Mas, ao lê-lo no livro, o choque foi tão grande e tão, tão doloroso que foi inevitável derramar algumas lagrimas ao digerir tal cena/acontecimento.

No filme também há outro acontecimento que suponhamos ser culpa de Kevin, mas não sabemos exatamente o que aconteceu. Isso está presente no livro, e também não ficamos sabendo a forma exata dos detalhes. Quando o filme apenas mostra o resultado, o livro entra em muitos mais detalhes, mostrando o que dizem ter acontecidos (e como), mas também deixando subtendido a verdade sobre tal.

Mas, como eu já disse, literatura e cinema são artes diferentes que agradam seus admiradores de formas diferentes. Então, eu recomendo ambos, desde que vocês os veja como artes independentes (e não apenas com essa adaptação, mesmo com qualquer outra), já que eu vi o filme como um filme e me apaixonei por isso. Amando-o tão intensamente, não poderia ter escolhido outra edição a não ser a com capa de sua adaptação. Para mim, ambas as obras são maravilhosas dentro de sua forma, porém devo destacar que o livro contém um aprofundamento maior. O livro pode ser mais apreciado por quem gosta de tramas familiares, crimes, dramas e thrillers.

PRECISAMOS FALAR SOBRE O KEVIN

Autor: Lionel Shriver

Tradução: Beth Vieira e Vera Ribeiro

Editora: Intrínseca

Ano de publicação: 2012

Lionel Shriver realiza uma espécie de genealogia do assassínio ao criar na ficção uma chacina similar a tantas provocadas por jovens em escolas americanas. Aos 15 anos, o personagem Kevin mata 11 pessoas, entre colegas no colégio e familiares. Enquanto ele cumpre pena, a mãe Eva amarga a monstruosidade do filho. Entre culpa e solidão, ela apenas sobrevive. A vida normal se esvai no escândalo, no pagamento dos advogados, nos olhares sociais tortos. Transposto o primeiro estágio da perplexidade, um ano e oito meses depois, ela dá início a uma correspondência com o marido, único interlocutor capaz de entender a tragédia, apesar de ausente. Cada carta é uma ode e uma desconstrução do amor. Não sobra uma só emoção inaudita no relato da mulher de ascendência armênia, até então uma bem-sucedida autora de guias de viagem. Cada interstício do histórico familiar é flagrado: o casal se apaixona; ele quer filhos, ela não. Kevin é um menino entediado e cruel empenhado em aterrorizar babás e vizinhos. Eva tenta cumprir mecanicamente os ritos maternos, até que nasce uma filha realmente querida. A essa altura, as relações familiares já estão viciadas. Contudo, é à mãe que resta a tarefa de visitar o “sociopata inatingível” que ela gerou, numa casa de correção para menores. Orgulhoso da fama de bandido notório, ele não a recebe bem de início, mas ela insiste nos encontros quinzenais. Por meio de Eva, Lionel Shriver quebra o silêncio que costuma se impor após esse tipo de drama e expõe o indizível sobre as frágeis nuances das relações entre pais e filhos num romance irretocável.

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