Quinze Dias é do autor nacional Vitor Martins, publicado em 2017 pela Globo Alt.

Sobre o Livro

Felipe não vê a hora das férias de verão chegarem, para poder fugir do ambiente escolar e do alcance daqueles que veem nele um alvo. O que mais deseja é tirar seu tempo sozinho, já que amigos também não são o seu forte, assistir séries e ver vídeos no youtube sobre coisas diversas.

Porém, sua mãe esqueceu de lhe avisar de algo muito importante: ela aceitou hospedar Caio, o vizinho do 57, pelos quinze dias em que sua família vai estar viajando e, acabando assim com os planos de solidão e relaxamento do garoto.

“Eu não sou ‘gordinho’ ou ‘cheinho’ ou ‘fofinho’. Eu sou pesado, ocupo espaço e as pessoas me olham torto na rua.”

O problema aqui é que Felipe tem uma queda de anos em Caio e vai precisar, mais do que nunca, lidar com suas inseguranças. Ele é gay, sim. Mas também é gordo, e isso é algo que o deixa desconfortável há muito tempo. Agora, porém, ele não vai poder simplesmente se esconder e terá que lidar com ambas as coisas da melhor forma que conseguir.


Minha Opinião

Desde que eu ouvi pela primeira vez falar sobre Quinze Dias, imaginei que seria uma leitura leve, mas que ao mesmo tempo viria carregada de significado. Por acompanhar o Vitor em seu canal no youtube há bastante tempo, sei que ele, além de levantar a bandeira da representatividade, também possui uma aura alta astral e, como imaginei, encontrei isso refletido no livro.

Esse pode ser sim mais um livro LGBT sobre um garoto que se apaixona por outro garoto e precisa se “encontrar”. Entretanto, pra mim, o caminho certo e o diferencial do livro está em trabalhar o tema da gordofobia.  E, não tanto dos outros, mas aquela que vive internamente. Eu li apenas um outro livro que trabalhava isso, que foi Juntando os Pedaços da Jennifer Niven, e tenho curiosidade com o recém lançado Dumplin’, que também já foi resenhado por aqui.

Eu não vou tentar me colocar no lugar de quem sofre com isso pra uma grande lição, porque acho que não funciona assim. Mas eu já fui 11 kgs mais gorda do que sou hoje e, mesmo não sendo tanto assim, lembro que ouvi coisas desagradáveis, dentro da minha própria casa. Então, acredito que trabalhar a temática para um público jovem e, porque não, LGBT, seja algo importante.

“Gordo é uma palavra sem volta. Quando você afirma uma coisa, por mais que ela esteja clara pra todo mundo, ela se torna real.”

Felipe é um amor, e é claro que você vai querer pôr ele em um potinho. O que me surpreendeu foi Caio. O natural (leia-se clichê) é que ele fosse um personagem ruim, que precisasse “aprender uma lição”, mas não. Ele também é uma ótima pessoa e isso faz com que o objetivo da história fique mais focado na pessoa que precisa se aceitar e não em um causador de bullying que poderia tomar as rédeas da história.

A trama é muito divertida e o leitor vai dar bons sorrisos. Também há momentos onde assimilar o que se passa na cabeça de Felipe causa uma certa tristeza, pois gostaríamos de poder ajudar. A história também é cheia de referências à livros, desenhos, musicais e outros elementos da cultura pop e que cercam a vida de um jovem nos dias atuais.

O laço familiar também é trabalhado e há um contraste muito grande entre a família de Felipe, composta somente pela mãe, e a de Caio, que não confia no garoto para lhe deixar por duas semanas sozinho em casa. E, claro, o peso das amizade na hora de encontrar o seu lugar no mundo. Por mais que pareçam muito diferentes em uma primeira descrição, aos poucos vamos vendo o quanto os dois jovens tem coisas a compartilhar.

A escrita do Vitor é muito fluída e esse é um daqueles livros pra devorar em poucas horas. O famoso livro “para ler em um dia”, sendo bem generosa com as horas. A capa também foi feita pelo autor, que também é ilustrador, o que coloca ainda mais dele na trama e, certamente, tem tudo a ver com a história.

“Acho engraçado como a poeira está no ar o tempo todo, mas a gente só a enxerga de verdade quando existe um feixe de luz.”

Quero mencionar algo que aconteceu, porque acho importante. Esse é o segundo livro de “booktuber” que eu leio e, sim, acaba por vir com um receio na bagagem. Mesmo que já tenham saído vários nos últimos dois anos, eu me mantive o mais longe possível, não por não me interessar pelas histórias, mas pela desconfiança que as pessoas tem na nossa opinião quando o livro em questão pertence a um “colega” de nicho. Se você não sentiu um certo absurdo na situação, entenda que pra quem está no meio, é um alarme constante na nossa cabeça. O simples fato de eu ter mencionado que li o livro já me gerou comentários dizendo que eu estava falando de Quinze Dias porque o Vitor era meu “amigo”, praticamente apagando qualquer individualidade que eu tenha em dar minha opinião, o trabalho que eu venho construído de sinceridade nas minhas reviews, e o próprio talento do autor. A questão é que isso acaba sendo um desrespeito enorme com quem produz o conteúdo e também não incentiva o apoio a leitura de autores nacionais, sejam eles do nicho que forem.

Tendo dito isso, ressalto que Quinze Dias não é a história mais inovadora do mundo, mas ela também nunca se propôs a ser. E, enquanto em alguns gêneros a inovação parece precisar ser constante, em outros os pequenos diferenciais são o que saltam aos olhos. Imaginem o que seriam dos contos de fadas se não existisse mais final feliz? A opção está na mão do leitor em decidir que expectativa vai pôr sobre o livro, e as minhas, expostas no primeiro parágrafo dessa resenha, foram atendidas.

Eu adorei os personagens, achei que trabalhou com leveza um tema que até pouco tempo era considerado “frescura” (e, infelizmente, ainda é, por muita gente), conseguiu falar sobre amor, bullying, representatividade, amizade, família, Senhor dos Anéis, Batman, trabalho voluntário, sexualidade, musicais, pequena sereia e flamingos, contando uma história gostosa de ler e com todos os nós atadinhos em seus devidos lugares.

Acredito que Quinze Dias tenha sido um bom start pra carreira de escritor do Vitor Martins e espero sim ler outros títulos dele, que parece já estar escrevendo outra trama, para ser lançada em 2018. Então, se você curte young adults e quer ler algo dentro desses temas, fica ai a dica de um nacional.

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QUINZE DIAS

Autor: Vitor Martins

Editora: Globo Alt

Ano de publicação: 2017

Felipe está esperando por esse momento desde que as aulas começaram: o início das férias de julho. Finalmente ele vai poder passar alguns dias longe da escola e dos colegas que o maltratam. Os planos envolvem se afundar nos episódios atrasados de suas séries favoritas, colocar a leitura em dia e aprender com tutoriais no YouTube coisas novas que ele nunca vai colocar em prática.
Mas as coisas fogem um pouco do controle quando a mãe de Felipe informa que concordou em hospedar Caio, o vizinho do 57, por longos quinze dias, enquanto os pais dele estão viajando. Felipe entra em desespero porque a) Caio foi sua primeira paixãozinha na infância (e existe uma grande possibilidade dessa paixão não ter passado até hoje) e b) Felipe coleciona uma lista infinita de inseguranças e não tem a menor ideia de como interagir com o vizinho.
Os dias que prometiam paz, tranquilidade e maratonas épicas de Netflix acabam trazendo um turbilhão de sentimentos, que obrigarão Felipe a mergulhar em todas as questões mal resolvidas que ele tem consigo mesmo.

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