A Rainha de Tearling é o primeiro livro de uma trilogia da autora Erika Johansen. O lançamento no Brasil é de 2017 pela Suma de Letras.

Sobre o Livro

Kelsea Raleigh completou 19 anos e está na hora de voltar ao seu reino para sentar no trono Tear. Enviada para longe pela mãe, a jovem cresceu afastada das intrigas da corte enquanto seu tio mantinha-se como regente. Porém, o mesmo não tem intenção de deixar que ela reivindique o que é seu por direito e tem caçado a menina nos últimos anos.

Quando a Guarda da Rainha, entidade que se manteve leal mesmo após a morte da mãe, bate à porta de sua cabana, Kelsea está preparada e despede-se de seus tutores deixando todo o pedacinho do mundo que conhece para trás. Ela carrega a joia do herdeiro e a marca de nascença que a identifica. Em seus crescimento, ela foi ensinada sobre leis, formas de governar, religião, mas também foi mantida no escuro, pois sabe absolutamente nada sobre como está o seu reino agora ou que tipo de rainha foi sua mãe.

“Sou a rainha. Ninguém manda em mim.
Isso é o que a maioria das rainhas pensa até o momento em que o machado desce.”

Tentando especular com os cavaleiros que vieram a escoltar, Kelsea tem poucas respostas, mas o suficiente para começar a montar o quebra-cabeças dessa história. Há alguns séculos algo comprometeu o mundo em que vivíamos e os americanos e britânicos colocaram tudo o que seu povo tinha de mais importante em navios e saíram em busca de um novo lugar para se instaurar. Esse ato foi chamado de “A Travessia” e marcou o começo de um novo mundo. Porém, em uma tempestade muitos navios naufragaram, levando para o fundo do mar a tecnologia e o conhecimento. Assim, quando chegaram finalmente em terra firme, nesse novo lugar, uma monarquia foi instaurada e foi necessário começar do zero com o povo que sobreviveu.

Há vários anos a família Raleigh está no poder, mas muitos são os perigos que já se instauraram nessa nova realidade. E, a principal delas é aquela que comanda Mortmesne, um reino vizinho. A chamada “Rainha Vermelha” é sanguinária e também não vê nada de bom em ter a jovem regente no poder. Mantida no escuro por muito tempo e ameaçada de morte, Kelsea terá que trilhar seu próprio caminho e provar a todos que o trono Tear é onde ela deve estar.


Minha Opinião

A Rainha de Tearling foi uma grande surpresa. Eu não estava esperando por uma fantasia medieval que também fosse meio distopia. E isso não fica claro logo num primeiro momento, mas aos poucos vamos reunindo as peças que montam esse mundo e é impossível não ficar intrigado em como tudo isso aconteceu, ou em conhecer os detalhes. Mas eles não virão todos e nem tudo de uma vez só. O leitor precisa também juntar as migalhas aqui.

Kelsea sabe um pouco sobre o passado, pois estudou com Carlin e Barty, seus dois tutores. Entretanto, alguma promessa feita por eles à sua mãe os impedia de contar sobre o reinado dela e sobre a situação atual de Tearling, o que para a garota é extremamente irritante. Como ela vai governar um reino se não sabe o que se passa com ele? É assim então que vamos recebendo nossas respostas. Do passado através da voz de Kelsea, das muitas histórias, e do futuro pelas especulações que ela faz, e das respostas que recebe quando alguém finalmente baixa a guarda.

“Rainha Tear, você estará morta em uma semana ou será a monarca mais temível que este reino já conheceu. Não vejo meio-termo.”

Porém, antes de tentar descobrir tudo o que pode, ela também precisa sobreviver. Como ela sabe muito pouco sobre a mãe, não entende porque ela o enviou pra longe ou como morreu. Há também um enorme mistério envolvendo seu pai, pois ninguém sabe quem ele é. Há inúmeras apostas ao redor do reino feitas pelas pessoas, aguardando o dia em que isso se torne público. E, se ninguém sabe, Kelsea é que não tem a resposta. O que ela sabe é que está sendo caçada pelo tio e por outros inimigos. O que a Guarda de sua mãe conta é que os Caden foram recrutados na missão pelo tio. Eles são o grupo de assassinos mais perigoso do reino e isso baixa consideravelmente as chances de Kelsea chegar viva à Fortaleza.

O legal sobre essa protagonista é que ela é diferente. Kelsea cresceu longe de tudo, mas foi educada e sabia desde muito cedo que tinha uma obrigação, algo para viver por. E mesmo privada das informações não se fez de difícil ou negligenciou seu papel. Quando a Guarda bate a sua porta ela, com muita tristeza por abandonar os dois que conhece por família, parte para abraçar seu destino.

Ela também não se encaixa nos padrões estéticos das princesas e rainhas. Segundo ela e os outros, não herdou a beleza e a graça da mãe e da família Raleigh. Tem um porte físico mais cheio e não se considera bonita. O interessante aqui é que ela se aceita assim e essa construção de personagem me agrada muito. O problema aqui foi que a autora quis trazer a temática de 50 em 50 páginas, levando a menina a se sentir insegura com seu corpo em vários momentos. Coisas bobas como: “se eu fosse mais magra manejaria a espada melhor” ou ” se eu fosse mais bonita ele me olharia de outra forma”. Isso pra mim enfraquece o que ela tentou passar em um primeiro momento, além de se tornar chato e repetitivo.

E, não se engane pela última exclamação. Não há romance nesse primeiro livro. Kelsea até pensa sobre isso com um personagem específico, mas esse não é seu foco e nada chega a acontecer. A jovem é bem focada no seu destino, em resolver os problemas do seu reino, reconstruir o que sua mãe deixou pra trás e o resto é apenas relevante se estiver interferindo com o tópico central.

“Minha responsabilidade, pensou, e a ideia não lhe causou temor algum naquele momento, apenas uma extraordinária sensação de gratidão. Meu reino.”

Política e estratégia são os protagonistas dessa história. Há uma grande confusão e o reino está jogado desde que algo aconteceu e marcou para sempre a história de Tearling. Desde então o povo tem sofrido e o reino deixou de ser algo a se orgulhar. Logo de cara, Kelsea vai ter que enfrentar esse desafio. Outro aspecto importante é o papel da religião. Aparentemente o catolicismo, assim como algumas outras dissidências sobreviveram, mas não exatamente com a mesma “moral e princípios”, o que interferirá também na história.

Várias referências ao nosso mundo serão feitas. Temos menção aos americanos e europeus, a capital do Tearling se chama Nova Londres e, o mais legal, está ligado a literatura. A princesa/rainha tem um amor enorme por livros, pois Carlin tinha uma enorme biblioteca. Mas, foram poucos os livros que sobreviveram a Travessia. Alguns deles, no entanto, são nossos velhos conhecidos, como O Hobbit, O Senhor dos Anéis e a obra de J. K. Rolling. Só que como havia muita coisa a se dar atenção quando eles finalmente chegaram a esse lugar, a literatura e os livros ficaram esquecidos, sem formas de se renovar ou nascer, assim se tornando itens raros e que a maioria das pessoas vê pouca utilidade.

“As histórias de fantasia eram as que mais mexiam com Kelsea, histórias de coisas que nunca haviam acontecido, histórias que a levavam para longe do dia a dia imutável do chalé.”

Meus personagens favoritos são Lazarus, o clava e Fetch, o ladrão. Ambos tem personalidade ótimas e super dão o tom na história. O primeiro é taciturno, mortal, com personalidade ranzinza e marcante, mas extremamente leal. É ele quem se tornará o maior defensor de Kelsea, e o líder da sua Guarda. Já o segundo ainda é um mistério. É difícil saber o que ele realmente quer ou quem ele realmente é, já que num primeiro olhar ele era apenas mais um atrás da cabeça da jovem rainha, mesmo tendo muitas camadas abaixo disso.

Há também magia nesse mundo. As pessoas tem premonições e conseguem ver vislumbres de seus futuros, algumas inclusive prevendo a própria morte. A Rainha Vermelha, poderosa soberana, é tida como feiticeira, pois segundo dizem, governa há mais de um século e ainda assim parece tão jovem quanto da primeira vez que foi vista. E Kelsea carrega um item que parece ter algo maior atrelado. Talvez a joia do herdeiro não seja apenas algo valioso e marcante que passa de geração em geração, mas algo muito maior e inexplicável.

Esse é um mundo encantador e fiquei impressionada com a construção em cima dele em todos os detalhes. Acredito que mais a frente teremos ainda mais respostas sobre que continente é esse ou o que aconteceu no passado, além dos esclarecimentos também sobre os mistérios do presente. A apresentação de todo esse mundo não vem de forma simples, o que acaba por arrastar um pouco da história às vezes, deixando a leitura lenta. Porém, acredito que super valha a pena encarar isso e seguir em frente.

Kelsea é uma ótima personagem e certamente entrou para o meu hall de favoritas. Ela é determinada e fiel aos seus princípios. Não há tempo ruim ou mimimi. Se é preciso cavalgar, cavalga. Se é preciso lutar, luta. Se é preciso tomar uma decisão, toma. E isso é algo que por si só já soma pontos pra ela. Além de não ser uma tonta como muitas princesas que temos em fantasias por ai, tem iniciativa e sabe o papel que tem a cumprir.

Se você gosta de tramas complexas, personagens bem construídos, foco em política e construção de mundo, A Rainha de Tearling certamente será um prato cheio. A história é uma trilogia e está sendo cotada para ser adaptada ao cinema com Emma Watson no projeto. Não sei bem como isso se encaixaria, já que a atriz não tem muito a ver com a descrição da personagem, mas se a adaptação sair, certamente vou querer conferir!

A RAINHA DE TEARLING

Autor: Erika Johansen

Editora: Suma de Letras

Ano de publicação: 2017

Quando a rainha Elyssa morre, a princesa Kelsea é levada para um esconderijo, onde é criada em uma cabana isolada, longe das confusões políticas e da história infeliz de Tearling, o reino que está destinada a governar. Dezenove anos depois, os membros remanescentes da Guarda da Rainha aparecem para levar a princesa de volta ao trono – mas o que Kelsea descobre ao chegar é que a fortaleza real está cercada de inimigos e nobres corruptos que adorariam vê-la morta. Mesmo sendo a rainha de direito e estando de posse da safira Tear – uma joia de imenso poder –, Kelsea nunca se sentiu mais insegura e despreparada para governar. Em seu desespero para conseguir justiça para um povo oprimido há décadas, ela desperta a fúria da Rainha Vermelha, uma poderosa feiticeira que comanda o reino vizinho, Mortmesne. Mas Kelsea é determinada e se torna cada dia mais experiente em navegar as políticas perigosas da corte. Sua jornada para salvar o reino e se tornar a rainha que deseja ser está apenas começando. Muitos mistérios, intrigas e batalhas virão antes que seu governo se torne uma lenda… ou uma tragédia.

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