Meu espírito de comunicadora dá loopings de felicidade a cada filme sobre jornalismo investigativo ou sobre estratégias de comunicação. Se a investigação se passar em décadas passadas, quando a falta de tecnologia dificultava muito do trabalho, então, pronto, estou pelo menos um pouco rendida para a narrativa. Mas Spotlight: Segredos Revelados (2015) se sobressai mesmo em meio a essa categoria.

Com direção de Tom McCarthy, e roteiro de McCarthy junto a Josh Singer, o longa foi indicado a uma extensa lista de premiações, recebendo inclusive a coroação do Oscar de Melhor Filme em 2016. A trilha sonora original é de Howard Shore, a fotografia é assinada por Masanobu Takayanagi e a produção executiva é de uma lista de profissionais que inclui Bard Dorros, Jonathan King, Steve Golin e outros.

O filme acompanha a equipe da Spotlight, uma revista de jornalismo investigativo parte do jornal Boston Globe, em 2001, quando um novo editor-chefe se recusa a ceder a pressões e coloca o time de jornalistas atrás de pistas sobre um possível escândalo envolvendo a Igreja Católica. A partir daí, drama e thriller se encontram conforme o editor da revista Walter Robinson (Michael Keaton) e os demais, Michael Rezendes (Mark Ruffalo), Sacha Pfeiffer (Rachel McAdams) e Matty Carroll (Brian d’Arcy James), mergulham em depoimentos ignorados por anos, pistas que nunca haviam levado a nada, e uma rede muito maior do que qualquer um deles poderia esperar.

Vale lembrar que o filme não tem a pretensão de ser documental, apesar de ser inspirado nos acontecimentos por trás da revelação do escândalo de pedofilia envolvendo dezenas de padres da Igreja Católica. Mas, como uma ficcionalização dos eventos, Spotlight entrega excelência em cada detalhe. O roteiro faz o trabalho perfeito de não tornar esses jornalistas superheróis com sede de verdade a todo custo, e sim vai construindo uma narrativa repleta de obstáculos, avanços e retrocessos e o constante espanto ao enxergar até que ponto todos estavam dispostos a olhar para o outro lado em medo do poder de uma das instituições mais antiga do mundo.

Todo mundo sabia que tinha algo acontecendo e ninguém fez nada.

É interessante notar que os personagens não são deixados à própria sorte em termos de caracterização. Sendo eles representações de pessoas reais, e, ao mesmo tempo, uma parte tão pequena do cenário que se constrói, o filme poderia ter pecado por não desenvolvê-los. E, no entanto, me deparei com quatro pessoas apaixonadas pelo jornalismo, determinadas, mas que, ao ter suas raízes católicas e sua fé na Igreja postas em cheque, sofrem, exitam e se questionam. A atuação é ótima em equilibrar conflitos e trazer uma personalidade para cada um, mesmo com pouco tempo de tela voltado para isso. Mark Ruffalo especialmente me chamou a atenção, mas talvez isso se deva a seu personagem ser o mais dinâmico do grupo; Michael Keaton também empresta muitas camadas para uma personagem mais sutil.

A construção da investigação é muito interessante, e assistir à dinâmica de um jornal no início da era da informação tem um charme à parte. Além disso, a sensibilidade para tratar de um tópico tão pesado transparece no longa constantemente; não há uma tentativa de sensacionalizar os crimes cometidos, os depoimentos são dolorosos de ouvir, mas não há nada gráfico. Apesar de não poder afirmar com certeza a verossimilhança do longa em relação aos acontecimentos, é possível perceber que a produção trouxe a sobriedade e responsabilidade necessárias condizentes com as práticas jornalísticas.

Entre todos esses acertos, pequenos detalhes, diálogos perfeitamente construídos e muito mais, Spotlight: Segredos Revelados é uma experiência impecável. Obviamente a temática é pesada, então fica o alerta; mas caso você esteja pronto para lidar com isso, não tem como se arrepender de assistir a esse filme.

SPOTLIGHT: SEGREDOS REVELADOS

Diretor: Tom McCarthy

Elenco: Michael Keaton, Mark Ruffalo, Rachel McAdams, Brian d’Arcy James, Stanley Tucci, Liev Schreiber, John Slattery

Ano de lançamento: 2015

Baseado em uma história real, o drama mostra um grupo de jornalistas em Boston que reúne milhares de documentos capazes de provar diversos casos de abuso de crianças, causados por padres católicos. Durante anos, líderes religiosos ocultaram o caso transferindo os padres de região, ao invés de puni-los pelo caso.

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