Atenção!

Este filme contém cenas de violência

Acredito muito que por uma exploração temática ou por conta de registros documentais, a busca por fazer um registro audiovisual das horrores da vida real tem aumentado com o decorrer do tempo. Horrores esses contados por meio de livros, jogos, filmes, séries… todos com o objetivo de promover uma experiência aprofundada desses horrores.

A galinha dos ovos de ouro da industriais midiática atual tem sido explorar histórias sobre serial killers e as complexidades que acompanham tanto os casos quanto os assassinatos. Um exemplo disso é Ted Bundy, assassino dos anos 1970 que teve seu nome novamente trazido à tona através do sucesso da série documental Conversas com um Assassino. Agora, o cinema dramatiza ainda mais sua história em Ted Bundy: A Irresistível Face do Mal.

Tudo se inicia em 1969 com o foco em mostrar o relacionamento de Bundy (Zac Efron) com Liz Kendall (Lily Collins) – que por um período teve um relacionamento não só na ficção com o serial killer. Mas o dia a dia do casal muda completamente quando Bundy se torna o centro de uma investigação criminal, o expondo como um possível assassino. Mesmo que o espectador não possua um aprofundado conhecimento do caso, é um pouco difícil não ficar confuso com a falta de foco na abordagem de quem realmente foi Ted Bundy, e dar o enfoque certo a um assunto complexo e delicado.

O diretor Joe Berlinger possui algumas experiências em produções documentais, mas isso não é o que fica evidente em Ted Bundy: A Irresistível Face do Mal. O filme é um grande recorte de 20 anos da vida do psicopata, picotado na duração de duas horas como se fosse um videoclipe e altamente inconsistente; com um (raro) momento de tensão, por exemplo, mas que foi embalado por uma das animadas músicas setentistas apresentadas no decorrer do filme sem coesão com a cena ou o contexto.

Com o passar do filme fica claro que o objetivo com ele é ser um conto sobre os crimes cometidos sem se aprofundar em nada, mas que busca resumir pessoas, traumas, relacionamentos complicados e violência real de forma rasa e sensacionalista: onde é possível entender o contexto geral, mas sem acréscimo nenhum no entendimento da – motivação, o problema de se ter a cobertura da mídia, dificuldades da investigação, padrões de ataque, etc.

Todas as questões realmente importantes para serem contadas sobre a vida do personagem são ofuscadas por um roteiro que busca falar de tudo sem se concentrar prioritariamente em nada. Ao se propor em lidar com algo delicado assim tem que se tomar alguns cuidados, e nem sempre é fácil: as séries documentais, por exemplo, desenvolvem a história apresentando os fato e contextualizam eles em uma narrativa. O mesmo não ocorre com o filme.

O filme frequentemente opta pela ambiguidade ao mostrar Bundy como uma pessoa misteriosa e por vezes dedicada, que se torna capaz de ir até as últimas consequências para se comprovar como inocente, algo que sequer deveria estar em questão.

Dessa forma, seus crimes são apenas jogados como ocorridos aqui e ali, sem que a sua figura também seja desenvolvida ao ponto de conseguir sustentar a narrativa, ainda que brilhantemente Zac Efron segure muito bem a barra com carisma, atuação e brilhantismo em partes correspondentes iguais a vida real.

Porém, Ted Bundy não é de todo ruim. Além da forte presença em cena já citada de Efron, o diretor consegue entregar ao espectador pontuais cenas de peso, como o interrogatório final do assassino. O problema é de tudo isso ser um retrato extremamente raso de um assunto que possui muitas camadas. Mas tem seu valor para realmente olhar criticamente para situações que se repetem até hoje.

Ted Bundy: A Irresistível Face do Mal não é um dos melhores filmes para se ter como referência sobre o assunto serial killers; mas é um grande passo para que seja levantada discussões sobre a cobertura da mídia sobre crimes e investigações nesse porte, a falta de uma justiça que se faça justa de verdade e o quanto ainda temos que falar sobre uma sociedade machista, elitista e preconceituosa.

Assista ao filme não para adquirir conhecimento sobre a história do protagonista, mas para aprender um pouco mais sobre o funcionamento até então doente de uma sociedade que endeusa um assassino e se esqueça de suas vítimas.

TED BUNDY A IRRESISTÍVEL FACE DO MAL

Diretor: Joe Berlinger

Elenco: Zac Efron, Lily Collins, Kaya Scodelario, Haley Joel Osment, Jim Parsons e mais

Ano de lançamento: 2019

Cinebiografia de Ted Bundy (Zac Efron), serial killer que matou, pelo menos, 30 mulheres em sete estados norte-americanos durante a década de 1970. Bundy se tornou famoso em todo o país, em parte por causa da fama de sedutor, que levou a conquistar várias fãs, e em parte por ter efetuado sua própria defesa nos tribunais. A trajetória do psicopata é contada pelo ponto das mulheres que amou: Liz Kendall (Lily Collins), com quem se casou, e Carole Ann Boone (Kaya Scodelario), amante que o apoiou durante o longo julgamento nos tribunais.

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