The Wicked + The Divine chegou ao Brasil em 2016 pelo selo Geektopia da editora Novo Século. A obra é vencedora do British Comicidades Award de 2014, como a melhor história em Quadrinhos.
Sobre a história
Imagine que você é um Deus. Porém só pode reencarnar a cada 90 anos e por apenas 2 anos em um jovem adulto. Por mais imortal, sua existência é medida por esses anos e pelo que é capaz de fazer com eles.
“Ser imortal não significa viver para sempre…”
Tidos como criaturas carismáticas e poderosas, esses Deuses são capazes de levar seus admiradores à loucura e ao êxtase. Realizar milagres, salvar vidas. São amados e odiados. Vivem esses 2 anos com intensidade.
Com a história se repetindo em suas longas vidas, agora no século XXI, o que esse panteão de seres divinos são capazes de fazer? E o que a jovem Laura, que se vê envolta em uma trama perigosa, tem a ver com tudo isso?
Minha Opinião
The Wicked + The Divine foi um sucesso de críticas e leituras no exterior desde o seu lançamento. A proposta é muito interessante, e ficamos intrigados em entender a lógica das reencarnações, bem como tudo o que poderá a acontecer enquanto eles estiverem entre nós.
São Deuses que não nos são estranhos e já cruzamos com eles em algum momento de nossa trajetória de leitores, seriadores, ou até na religião e história. Misturando cresças e nomes populares, como Lucifer, o pai das mentiras e figura bem conhecida, com a crença nórdica e outras, temos um mix de divindades nada ordinárias.
Porém, a história não é conduzida por um deles, mas sim por Laura. A jovem está em um show de Amaterasu quanto atinge um nível de glória tão intenso, e assim como os outros presentes, desmaia. Quando acorda, é Lúci quem está a seu lado e a conduz pra conhecer tanto Amaterasu, quanto Sakhmet. Não há uma explicação sobre o porquê da escolha de Luci pela Deusa, mas o fim do quadrinho deixa algo aberto para essa possível resposta.
No meio disso, as coisas acabam por não sair como planejado e a garota se envolve mais ainda na trama, estando ligada de forma fiel a Lúci. E é a partir daqui que começaremos a conhecer os outros Deuses, suas personalidades e as dúvidas que pairam entre eles.
Além da não explicação para o destaque de Laura, há pouco esclarecimento sobre quem são esses deuses e o que eles fazem. Porém, como a história continua em mais volumes, acredito que teremos o foco em cada um deles ao decorrer da história, para irmos aos poucos descobrindo o que cada um é capaz. De qualquer forma, foi algo que senti falta aqui, pois queria informações mais profundas sobre as habilidades e afinidades de cada um.
O foco nesse primeiro volume é em Lúci e inclusive a conhecemos no momento de seu acordar, no corpo de uma jovem garota desajustada. A HQ não é longa, portanto não é possível perder muito tempo nos tópicos. E acho que para essa resolução, os poucos quadros foram suficientes.
“Se vai espalhar ódio às escondidas… certifique-se de que está escondida.”
A personalidade dos Deuses é bem distinta, e é possível ver que alguns são bem mais “humanos” do que outros, onde a crueldade prevalece. A dimensão de seus poderes é vasta, e como seu surgimento não é algo descrito na cultura natural desse mundo, há sempre uma enorme desconfiança sobre eles serem realmente Deuses, ou uma farsa bem encenada. Há uma debate e uma crítica social em cima da religião e da fama, no mundo atual.
Laura tem bastante personalidade, mas não sei se estou convencida ainda com ela. Eu acho que se me visse envolvida nessa trama também não recuaria, mas ao mesmo tempo vi ela se apegar rápido demais a tudo isso. A personagem é negra, e achei isso muito legal. Eu não tinha propriamente reparado até já estar no meio da história. Sempre levo as características físicas dos personagens em histórias pouco em referencia, mas confesso que foi uma ótima surpresa ver a representatividade estampada aqui. E, melhor de tudo, não com um estereótipo de inferioridade ou pobreza. Laura tem uma família boa, é uma boa garota, se diverte e tem uma vida comum.
O traço e as ilustrações da HQ são belíssimas e acho que já é possível notar isso logo pela capa. A edição da Geektopia está super caprichada em capa dura e certamente é uma história que vale a pena investir, principalmente para os fãs de quadrinhos. Lá fora já temos outros volumes e espero que eles consigam chegar ao Brasil em breve, pois o final desse primeiro arco deixa muitas perguntas no ar.
Essa é uma daquelas histórias que mesmo sem você entender tudo ou ter todos os detalhes, há algo que o fisga. O momento pra mim foi no final, com os últimos quadros da trama. Até então eu ia encarando tudo de forma mediana, e foi ali, com apenas um ‘click’, que a história se destacou pra mim.
Com menos de 200 páginas, The Wicked + The Divine promete uma narrativa cheia de reviravoltas e sem poupar personagens. Bem do jeito que eu gosto. Misturando religião, mitologia e a crença das pessoas, ainda temos muito o que descobrir sobre essas divindades, seus objetivos e do que elas são capazes.


THE WICKED + THE DIVINE
Autor: Gillen, McKelvie, Wilson, Cowles
Editora: Geektopia
Ano de publicação: 2016
Século XXI. Deuses caminham entre nós e se assemelham a ícones pop do nosso tempo. Assim se constrói The Wicked + The Divine, uma fascinante alegoria para os jovens de hoje sobre a glória efêmera erigida como valor supremo na sociedade moderna.