Valsa Maldita é um suspense da autora Tess Gerritsen, lançado aqui no Brasil em 2016 pela Record.

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SOBRE O LIVRO

Julia Ansdell é uma violinista apaixonada por músicas exóticas, desconhecidas e com profundos sentimentos. Após se apresentar em Roma com um grupo de outros músicos, ela sai para conhecer a cidade e acaba sendo atraída para um antiquário. Lá, em meio a velhos instrumentos, livros de partituras e outros objetos estranhos, ela encontra uma incomum valsa – Incendio -, composta por um estranho, porém, carregada de emoção e sentimento. Inquieta pelo misto de paixão, tristeza e assombro que as notas lhe passam, ela decide comprar a folha e dominar a música, e assim, apresentar a bela obra para todo o mundo.

Porém, além da dificuldade em conseguir dominar algumas notas, a valsa trouxe outro problema: misteriosamente a sua filha Lily, de apenas três anos, passa a agir de forma anormal quando ouve a música, como se estivesse possuída por algum espírito sombrio. Após alguns eventos incomuns relacionados à música, Julia acredita que possa haver algo maligno nas notas. Porém, seu marido Rob pensa que a obsessão da esposa em dominar Incendio está afetando a sua sanidade mental.

“Olho minha imagem no espelho e penso: Daqui a pouco, não vai sobrar nada de mim.”

Os médicos dizem que Lily tem uma saúde perfeitamente normal, e que os testes mostraram que a música não afeta a criança, mas identificaram no cérebro dela áreas ligadas a memória de longa exposição, como se ela já tivesse ouvido a música muitas vezes. Julia sabe que isso é impossível, já que tocou apenas duas vezes. O que ela vê, na verdade, é a prova de que Incendio seja muito mais do que apenas uma melodia desconhecida.

Com medo da filha e não tendo apoio do marido, a única solução que Julia encontra é começar a rastrear as origens da valsa. Sua investigação dá certo e ela descobre que há alguns anos a música pertenceu a uma velha, porém poderosa família italiana. Destinados a manter a verdade escondida, essa poderosa família fará de tudo para que Julia não revele o segredo. Inclusive, matá-la.


MINHA OPINIÃO

Foi a primeira vez que li alguma obra da Tess Gerritsen, e terminei o livro com uma sensação muito boa. A forma simples e direta como a autora escreve tornam o livro interessante do começo ao fim, ainda que no final dê pra notar uma ansiedade em juntar as pontas soltas e fechar a história. Creio que talvez umas 50 páginas extras poderiam dar mais ‘respiro’ para a conclusão e possivelmente concluir a trama de uma forma mais satisfatória.

Mesmo com isso, livro cumpre o seu papel e deixa um gostinho de ‘quero mais’. Os elementos trabalhados pela narrativa fazem com que o leitor comece a formular teorias o tempo todo e, ainda que as pistas estejam na sua frente, você fica na dúvida sobre qual seria a resposta certa. Creio também que a ideia de separar a história em duas tramas, uma se passando no presente e narrada pela Julia, e outra se passando entre os anos 1915 e 1945, sob a perspectiva de Lorenzo, contribuem para manter o leitor atento a cada detalhe.

“Fico imaginando o que Rob diria se ouvisse esta conversa. Ele já desconfia que eu estou desequilibrada. Se eu começasse a falar em vidas passadas, não vai ter dúvida.”

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Julia Ansdell é uma musicista inteligente e de bom coração que mora nos Estados Unidos, casada com Rob e mãe de Lily, de três anos. Pertence a um grupo de músicos locais que volta e meia se apresentam por eventos pequenos ao redor do mundo. Julia é bastante atenciosa e apegada à filha, mas isso não atrapalha a sua dedicação com a música. O instrumento que a acompanha a vida toda é um violino e seu hobby é procurar por melodias desconhecidas, mas que transmitam emoções. Foi assim com a valsa Incêndio, uma música bonita, triste e ao mesmo tempo assombrosa.

A partitura causa um grande caos em sua vida e de uma hora para outra até seu marido parece ficar contra ela. Desse ponto, a leitura fica mais envolvente, pois passamos a compartilhar das emoções da personagem. Ficamos angustiados quando ela diz a verdade e ninguém a leva a serio, ficamos com raiva quando seu marido age de forma estúpida com ela, e ficamos felizes quando a personagem ergue a cabeça e toma decisões fortes. A todo momento torci para que Julia “chutasse o pau da barraca” e fosse atrás das respostas de que precisava. E quando ela faz isso, um sorriso de canto a canto surgiu no meu rosto.

“Ergo a cabeça quando a lembrança se forma em meio à névoa do Vicodin. Uma tarde quente, abafada. Lily sentada no quintal. O arco deslizando nas cordas do violino. Foi quando tudo mudou. Foi quando o pesadelo teve início, quando toquei Incendio pela primeira vez.”

Equilibrando a narrativa, somos apresentados à época do jovem Lorenzo. Ele viveu na Itália, entre os anos 1915 e 1945. De família judaica, o jovem sonhava carreira internacional e tocava todo o tipo de música que seu violino – La Dianora – aceitasse. Atencioso, humilde e com uma inteligência acima do normal, sua vida mudará quando ele conhece Laura, uma jovem italiana que buscava um par para se apresentar em um festival de duetos. Logo a paixão se acende entre os dois, mas por medo e repressão, escondem os sentimentos um do outro. A vida do jovem tinha tudo para dar certo, se não fosse o fato de que na época em que viveu correspondia ao período em que Mussolini estava implantando o fascismo por toda a nação italiana.

Tess recorreu a esta parte histórica para dar um peso sentimental e tenso à história, não só pelo fato das atrocidades que ocorreram naquele período em meio a Segunda Guerra Mundial (1939 a 1945), mas também porque é através destes eventos que vamos compreender qual a ligação que Lorenzo terá com o presente de Julia.

Entre os anos 1919 e 1945, Mussolini instalou um regime totalitário por toda a Itália, que subordinava o interesse do indivíduo ao Estado. Em 1929, o regime sofre um endurecimento e a liberdade civil e política é comprometida. A partir de 1936 os judeus começam a ser perseguidos, torturados, deportados e até mesmo mortos. Lorenzo é um destes judeus que, não tendo tempo de fugir da cidade, foi capturado e levado para os campos de trabalho, onde ficou preso por muito tempo. Enquanto inúmeras pessoas eram mortas todos os dias, Lorenzo era obrigado a fazer de conta que não via nada, mesmo sabendo que sua hora também chegaria. Seu sonho fora destruído, e seu amor por Laura, inalcançável. Mas antes de morrer, deixa uma marca para trás, uma lembrança que anos mais tarde desenterraria a sua história de dor e desolação.

“Sua impetuosa e prática Laura lia histórias de amor? Havia tantas coisas que ele não sabia sobre ela, coisas que jamais saberia, porque, na noite do dia seguinte, fugiria de Veneza.”

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Penso que o mais atrativo da história foi de fato o cunho histórico da trama de Lorenzo. Sem ela, talvez a narrativa caminharia de forma mais cansativa e monótona, com aquele padrão onde o personagem principal (no caso Julia) de repente encontra todas as respostas ao seu alcance, como num passe de mágica. Pelo contrário, aqui a personagem encontra sim as respostas, mas é a trama de Lorenzo que nos conta as razões envolvidas naquelas respostas e nas consequências geradas.

À primeira vista, duvidei que o livro conseguisse manter o equilíbrio e que fizesse sentido, já que a trama de Julia se mostra mais psicológica, enquanto a de Lorenzo, dramática. Mas ao terminar, vejo que foi uma escolha sábia da autora. As duas histórias casam no final de forma muito simples, porém lógica. Posso dizer que o final foi digno da história (poderia ser mais explorado, mas o que foi apresentado é justo).

“A lamúria do violino parece evocar corações partidos e um amor perdido, florestas escuras e montanhas assombradas. A tristeza se transforma em agitação.”

Devo dizer que uma das coisas que mais me encantaram no livro, fora a história, é a beleza da capa e da diagramação. A letra é em tamanho grande, o que contribui para a leitura ser rápida. As folhas são levemente amareladas e tem uma textura macia. Já a capa não tenho do que reclamar. A escolha das ilustrações, elementos e cores desta edição nacional deram um toque muito especial, requintado e até mesmo um pouco sombrio à história, se comparada com a capa original. A escolha do violino fragmentado, com uma ilustração de Veneza fazem todo o sentido com a história e transmite essa sensação de passado e presente se mesclando em uma mesma trama. E admito, de todos os instrumentos musicais o que eu mais gosto, tenho apreço e sinto emoção é o violino. Assim, sem delongas, a obra tem uma das capas mais bonitas da minha estante.

Valsa Maldita pode não ser um suspense recheado de reviravoltas ou tenso o tempo todo, mas é uma história emocionante sobre o papel da música na vida de duas pessoas que, mesmo vivendo em tempos diferentes, se dedicam de corpo e alma ao que fazem de melhor: tocar e encantar pessoas com suas melodias.

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VALSA MALDITA

Autor: Tess Gerritsen

Editora: Record

Ano de publicação: 2016

No ambiente frio e sombrio de um antiquário em Roma, a violinista americana Julia Ansdell depara com uma partitura intrigante — a valsa Incendio — e é imediatamente atraída pela peculiar composição. Carregada de paixão, tormento e de uma beleza arrepiante — e aparentemente inédita aos olhos do mundo —, a valsa com seu tom menor fúnebre e seus arpejos febris parece ter vida própria. Determinada a dominar a obra complexa, Julia decide ser o instrumento que fará com que sua melodia seja ouvida. Já de volta à Boston, no instante em que o arco de Julia começa a ser deslocado pelas cordas do violino, desenhando no ar aquelas notas intensas, algo sinistro é despertado — e a vida de Julia fica sob ameaça iminente. A música parece exercer um efeito inexplicável e macabro sobre sua filha pequena, que se mostra drasticamente transformada. Convencida de que a melodia hipnótica de Incendio está desencadeando uma maldição, Julia decide investigar a história por trás da partitura e encontrar a pessoa que a compôs. Suas buscas a levam à milenar cidade de Veneza, onde Julia descobre um segredo sinistro de várias décadas envolvendo uma família perigosamente poderosa que fará de tudo para impedir que ela revele a verdade ao mundo — custe o que custar.

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