Wolf in White Van é do autor John Darnielle e foi publicado pela editora Record em 2016.
Sobre o Livro
Sean Phillips sofreu um acidente aos 17 anos e ficou com o rosto deformado, causando-lhe um isolamento inevitável com o mundo durante a sua recuperação. Foi nesse período, ainda no hospital que ele teve a ideia de desenvolver um jogo. Foi assim que o RPG Forte Itália nasceu.
A lógica do jogo, mesmo depois de muitos anos depois é que as pessoas jogem e mandem duas ações pelo correio para a Focus Games, empresa de Sean, e ele retornará com novas instruções ou opiniões sobre o que cada jogador fez, transformando a experiência do jogo em algo compartilhado em jogador e desenvolvedor.
Porém, um casal que jogava junto acabou indo longe demais e trouxe uma das tarefas para a vida real, fazendo com que Carrie acabasse morta e Lance ficasse paralisado depois de quase congelar até a morte enquanto reproduziam uma cena do jogo. Isso causa uma revolta na família da jovem e também entre os amigos e alguns jogadores, fazendo com Sean fosse processado.
“Às vezes, tento dar significado aos meus sonhos: conectá-los ao acidente – o que parece se encaixar perfeitamente nesse caso – ou conectá-los a coisas que estão acontecendo na minha vida. Mas há tão pouco deles, tão pouco para escolher nos meus sonhos.”
Em meio aos momentos em que vemos esse homem recluso indo e voltando no tempo nos dando fragmentos sobre sua vida e o que aconteceu com ele, também conseguimos enxergar a forma como encara o mundo e como ele se libertou dos pais, criou seu jogo, fundou uma empresa e hoje vive sua vida um pouco isolado, tirando grande parte de sua energia das cartas que recebe dos jogadores remanescentes e do progresso que eles fazem em Forte Itália.
Minha Opinião
Esse é um livro introspectivo e bem diferente do que eu estava esperando. Sean é um personagem inconstante e que não apresenta seus pensamentos de forma linear, fazendo com que o leitor vá e volte na histórias várias vezes buscando fragmentos do que aconteceu com ele.
Eu não sou uma grande fã de livros que se passam somente na cabeça de um personagem que vive isolado e confesso que naveguei em águas misteriosas lendo esse livro. Apesar de trazer várias reflexões, achei a trama um pouco vazia enquanto a propósito. O que é o foco? O que ele fez, quem ele é, a vida que escolheu ter, as consequências do jogo, sua redenção? É difícil saber verdadeiramente. Ele sai raramente de casa para comprar coisas específicas e muito pouco interage com pessoas. Quase tudo o que temos são suas memórias pipocando e um monólogo interno dele contando fatos sobre o jogo e tentando inserir o leitor no cenário do RPG.
“Forte Itália existia há tanto tempo que havia ganhado autonomia. Eu não me sentia no direito de revisá-lo. Aquele direito pertencia ao jovem que havia escrito o jogo, e ele agora estava morto.”
Eu não sou uma grande jogadora de RPG ou qualquer jogo, portanto não saberia dizer se a proposta do Forte Itália é muito legal ou pouco atrativa, mas achei interessante a forma de interação ser pelo correio e os usuários agirem completamente diferente frente a isso. Alguns só contam o progresso com poucas palavras enquanto outros trazem realmente uma carta com alguns dados mais pessoais ou emotivos.
Pelo que percebi lendo o livro, Forte Itália foi o combustível que reergueu Sean do lugar onde foi parar depois do que aconteceu com ele, bem como é o que lhe mantém vivo. Por vários momentos ele conta como foi escrever o jogo e como é receber as cartas e fica claro o apelo que elas tem pra ele. E, mesmo que ele não se aproxime verdadeiramente de nenhum jogador além da “distância profissional”, é possível ver que alguns acabam mexendo mais com ele do que outros e que há apenas poucos jogadores que estão desde o início ou alcançaram os níveis mais profundos do jogo.
Aos poucos também vamos descobrindo o que verdadeiramente aconteceu com ele e como ele ficou deformado. O que passava na cabeça daquele menino de 17 anos e como essa tragédia o tornou quem ele é no presente do livro. Porém, em contra partida, não vamos muito além disso. O livro se resume a descobrir como ele se sente sobre as coisas ou porque ele tomou certas atitudes, bem como a forma como ele interage com as pessoas quando isso se torna possível.
Sean é um cara recluso, e ao adentrar a mente dele é possível encarar uma série de confrontamentos que merecem reflexão, mas como disse antes não era isso que eu esperava do livro e acabei me decepcionando um pouco. Wolf in white van tem pouco mais de 200 páginas e é rápido de ler, porém a escrita de John Darnielle não é das mais fluídas, combinando bastante com o que parece ser a personalidade do personagem principal e suas inconstâncias.
O livro tem várias menções à cultura do jogos e filmes e acredito que é possível que leitores que gostam do tipo de narrativa de Eu Sou a Lenda, por exemplo, vão gostar bastante de Wolf in white van. Como pra mim não houve uma conexão com a história e também não tive nenhum momento de “Wooow” lendo o livro, serviu como uma experiência bacana, mas não entrou pro hall de favoritos. Creio que para os leitores que também se identifiquem com jogos será uma experiência legal, já que há várias descrições e é possível imaginar o jogo na sua mente enquanto se caminha por elas.
Bem-vindo a Forte Itália, um jogo de estratégia e sobrevivência. A primeira rodada já vai começar.
Depois de sofrer uma lesão que desfigurou seu rosto, Sean Phillips passa a criar jogos em que desconhecidos podem viver aventuras maravilhosas e trágicas. Sua primeira criação é Forte Itália, um RPG no qual ele envia uma cena por correio, e o jogador responde com uma ação. Bem simples.
Mas o próprio Forte Itália, o objetivo final do jogo, com suas paredes labirínticas e sua promessa de estabilidade e segurança em meio a um Estados Unidos pós-apocalíptico, é inalcançável. Há apenas duas possibilidades: ou você continua em movimento, ou morre.