Atenção!

Esse livro aborda o tema de abuso sexual e morte infantil, além de gatilhos como maternidade e culpabilização.

Penitência, publicado em 2019, é o segundo livro de Kanae Minato, autora japonesa a qual estreou com o título “Confissões” e possui três títulos publicados no Brasil pela editora Gutenberg.

Sobre o Livro

Em uma tarde tranquila de feriado, numa pequena cidade do Japão, cinco meninas brincam despreocupadamente. Um homem de uniforme aparece pedindo auxílio para realizar um trabalho na escola. Educadas a serem prestativas, todas se oferecem, mas a escolhida é Emily, uma criança nativa de Tóquio e não da pequena cidade, destacando-se das outras.

As meninas sentem-se um tanto decepcionadas, mas decidem continuar a brincadeira até Emily voltar, já que o homem prometeu comprar sorvete a todas. No entanto, a hora de ir embora chega e Emily não voltou. Preocupadas, as quatro crianças decidem buscar por ela e pelo homem.

Contudo, o que encontram é o corpo de Emily morto. Cobertas de medo, as quatro meninas, as únicas testemunhas que encontraram o assassino, não conseguem lembrar de seu rosto e o caso é arquivo. 

A mãe de Emily, movida por raiva e luto, em busca de vingança, lança uma sentença sobre as meninas: elas deverão encontrar o assassino e se não fizerem isso terão que pagar uma penitência. Quinze anos depois, agora na vida adulta, essas palavras ainda reverberam na vida de cada uma delas, trazendo consequências irreversíveis.

“Jamais perdoarei vocês, a não ser que encontrem o assassino antes da prescrição. Se não conseguirem fazer isso, então se redimam do que fizeram de um jeito que eu aceite. Se não fizerem nenhuma da duas coisas, digo aqui e agora que vou me vingar de cada uma de vocês.”


Minha Opinião

Esse não é meu primeiro contato com as histórias de Kanae Minato, sendo o primeiro com o livro “confissões”, o qual não foi uma experiência positiva. Entretanto, queria tentar novamente com outra obra da autora, mas não tive uma experiência muito melhor.

A escrita de Kanae Minato é bem “leve”, dada as circunstâncias do gênero, fazendo com que a leitura seja fácil e rápida. Além disso, a trama aguça bastante a curiosidade, o que facilita com que eu conclua o livro sem desejar abandonar.

As histórias da autora são interessantes, mas não me agrada a forma que ela as conta. Neste livro em especial, passamos pelos acontecimentos do assassinato através da história de cada uma das meninas envolvidas, o que torna o livro repetitivo em certos pontos.

A ideia de pontos de vista de um mesmo acontecimento é bastante positivo para o desenvolvimento e aprofundamento da história, mas aqui, por mais que haja sim fatos novos, não achei aqueles que envolvem o assassinato em si, e não as consequências, tão significativos. Além disso, as narrativas em primeira pessoa me pareceram bem semelhantes, onde muitas vezes até esquecia de quem era a história que estava sendo contada.

“O que eu queria era me misturar no meio da multidão de pessoas que não sabiam do meu passado e sumir.”

Comparando essa história com a outra que li da autora, percebo uma tendência a histórias e finais mais dramáticos, e aqui não foi diferente. Entretanto, muitas vezes houve características tão exageradas que deixou tudo muito caricato, até me passando a sensação do livro estar desconectado da realidade, ou seja, não a representando. Com isso, chego ao assunto que Kanae Minato se propõe a discutir e também ao plot twist do final.

Desde a sinopse ficou claro para mim que o tema central era o poder que nossas palavras tem na vida de outras pessoas, e o livro todo trabalha isso, acentuando no final com nossas atitudes e escolhas também. A forma que a autora fez isso, contudo, é um tanto problemático para mim porque entramos no viés culpa, o qual é algo bem delicado de se falar.

Concordo totalmente que devemos ter cuidado com as nossas palavras, porque elas marcam sim as pessoas e têm consequências em suas vidas. Entretanto, os desdobramentos de toda uma vida de alguém envolvem muitas coisas e não uma única coisa como a autora faz parecer aqui.

Além disso, a autora fecha essa discussão com o plot twist final onde me pareceu que o assassino, aquele que realmente cometeu o ato, foi deixado de lado, já que a culpa do assassinato recai sobre uma única personagem: todas as escolhas que ela fez durante a vida tiveram consequências que desencadearam no assassinato de Emily. 

Retomo falando que os desdobramentos de nossa vida possuem muito mais variáveis, assim como as escolhas que fazemos envolvem muitas coisas, e não dá para reduzir isso de forma tão simplista e, pior ainda, culpabilizar uma única pessoa, a qual não cometeu o ato de tirar a vida da criança, e que não tinha como calcular que todas as suas escolhas desencaderiam no assassinato de alguém que não havia nem nascido em certo ponto. 

Conseguem imaginar a culpa que essa pessoas irá carregar? Ainda mais se tratando de alguém tão próximo da vítima, já que Emily era alguém importante para essa personagem. Isso não é justo, e é perigoso querer passar esse tipo de mensagem, sendo que todo esse assunto é muito mais complexo e a conclusão da autora é reducionista.

Então sim, nossas palavras têm peso, e essa temática é interessante e importante, mas Kanae Minato foi muito além aqui, o que acabou por prejudicar o plot twist que poderia ser interessante e mais um ponto positivo na história além da facilidade de leitura, se ela não tivesse seguido por esse caminho.

” Mais precisamente, como havia testemunhado um assassinato e a pessoa que o cometera não tinha sido pega, o que eu queria mais do que tudo era desaparecer para sempre do seu radar.”

Acredito que quem gostou de outros livros da autora pode ter uma experiência mais positiva com Penitência, já que há muitas características da escrita de Kanae Minato presentes nessa obra, mas é importante refletir de forma consciente e saudável sobre as temáticas trabalhadas.

PENITÊNCIA

Autor: Kanae Minato

Tradução: Elisa Nazarian

Editora: Gutenberg

Ano de publicação: 2019

Quinze anos atrás, uma menina de 10 anos foi assassinada em uma pacata cidade do interior do Japão. Quatro garotas que estavam com a vítima pouco antes de ela ser morta falaram com o suspeito, mas, por algum motivo, nenhuma delas conseguia se lembrar do rosto dele, e o caso foi arquivado. A mãe, inconformada com a perda da filha, queria vingança, e ameaçou as garotas: “Eu nunca vou perdoar vocês. Façam o que for preciso para encontrar esse assassino. Se não conseguirem, cada uma terá que pagar uma penitência”. Mesmo com esse fardo sobre os ombros, as protagonistas, Sae, Maki, Akiko e Yuka, conseguem chegar à vida adulta. Mas uma série de tragédias as espera.

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