Eu, Robô é uma coletânea de contos do autor e cientista Isaac Asimov. Foi publicado pela editora Aleph em 2014.

SOBRE O LIVRO

Publicado pela primeira vez em 1950, Eu, Robô reúne os principais contos sobre robôs escritos por cientista Isaac Asimov, que abordam de diferentes formas um futuro mais humanitário e benéfico, ao contrário do que era imaginado até aquele momento. Na época de Asimov, histórias com robôs não eram novidades, mas ele foi um dos primeiros – senão o primeiro – a tirar a visão pessimista e perigosa dos robôs e mostrá-los como aliados aos seres humanos, amigos metálicos para todas as coisas. É onde também o autor criou as Três Leis da Robótica, no início ficcional, porém hoje aplicável na robótica real.

Nesta edição de 2014, a editora Aleph traz não apenas os nove contos originais, como também um posfácio inédito do autor onde ele conta como surgiu o seu interesse em escrever sobre robôs e também narra fatos sobre sua carreira como escritor, desde as primeiras revistas populares de sci-fi, até ganhar notoriedade e se tornar um conhecido autor do gênero.

De forma intuitiva e por vezes cômica, Asimov nos apresenta a memorável psicóloga de robôs, Susan Calvin, agora já idosa, que narra com uma certa nostalgia os anos em que trabalhou à frente da US Robots, onde presenciou os mais diversos contratempos envolvendo os robôs e as três leis. Com enredos interligados, os contos de Eu, Robô são uma forma agradável de imaginar um futuro onde a tecnologia seja sempre usada em benefício humano.


MINHA OPINIÃO

Que atire a primeira pedra quem nunca assistiu O Homem Bicentenário e não tenha se envolvido na graciosa jornada de um robô querendo ser reconhecido como um humano. Em meio a tantas histórias que mostram robôs destruindo a humanidade ou até mesmo escravizando os humanos, narrativas como essa do filme citado fizeram Asimov se destacar por mostrar que é possível imaginar um futuro onde as máquinas serão nossas amigas, nossas aliadas, e não as responsáveis por nos extinguir.

Isaac Asimov foi apaixonado por ficção científica desde a sua infância, onde então leu pela primeira vez uma história com robôs. Mas foi só em 1939 que ele de fato escreveu o seu primeiro conto, Robbie, que abre as narrativas contidas neste livro. Diferentemente de outros autores, Isaac geralmente escrevia social science ficcion, ou ficção científica social, um subgênero voltado a especular o comportamento e evolução da sociedade humana em meio aos avanços tecnológicos. Assim sendo, cada conto de Eu, Robô aborda um possível impacto na sociedade vigente, e suas possíveis formas de solucionar os problemas com a ajuda das máquinas.

“Susan não disse nada naquele seminário; não participou do agitado ciclo de discussão que se seguiu. Ela era a garota indiferente, simples e sem graça, que se protegia de um mundo do qual não gostava com uma aparência inexpressiva e uma hipertrofia do intelecto. Mas, conforme ela observava e ouvia, sentiu a agitação de um entusiasmo frio.”

Antes de mais nada, acredito ser necessário apontar as três leis, caso não conheça:  1) um robô não pode ferir um humano ou deixar que seja ferido; 2) um robô deve seguir todas as ordem humanas, exceto se confrontar a 1ª; e 3) um robô deve proteger a sua própria natureza, desde que não confronte a primeira lei ou a segunda lei.  Essas três regrinhas são suficientes para fazer com que a humanidade viva sem medo das máquinas. Só que não. Ainda que no primeiro conto o autor só mencione existir as leis, é a partir do conto Andando em Círculos é que elas de fato são explicadas e começam a ser exploradas de todas as formas, desde possíveis falhas de lógica ou até mesmo interpretação.

Claro que, o objetivo por trás dos contos não é apenas entender o comportamento dos robôs, mas também como essa tecnologia seria recebida e usada pela sociedade. Considere que, na época em que o autor escreveu eles, o mundo havia acabado de sair da Segunda Guerra Mundial e se delongava pela Guerra Fria. Logo, havia o temor de que uma tecnologia como a robótica fosse utilizada para fins ainda mais destrutivos. Por isso, cada história foca em mostrar robôs cada vez mais evoluídos e inteligentes e até que ponto as Três Leis os manteriam seguros. Como a própria personagem Susan Calvin nos revela (isso não é spoiler), em 2003 o uso de robôs para qualquer outro fim que não fosse o científico fora proibido na Terra.

A personagem Susan Calvin é recorrente em todas as narrativas, e através dela conhecemos todos os eventos relacionados aos robôs que ocorreram na U.S. Robots, lugar onde a tecnologia dos cérebros positrônicos fora desenvolvido, e onde o Dr. Laning dita as Três Leis. A Dra. era psicóloga de robôs, uma área totalmente nova e voltada a entender o comportamento e a mente das máquinas, e, em alguns casos, encontrar semelhanças entre a mente deles e a nossa. A personagem é muito inteligente e observadora, e, levando-se em conta as décadas onde as histórias foram escritas, a protagonista dá voz às mulheres que até então não eram comumente retratadas em posição de poder ou de prestígio, posto esse que eram quase sempre ocupado por homens (tanto na ficção quanto na vida real).

“Houve um tempo em que o homem enfrentou o universo sozinho e sem amigos. Agora ele tem criaturas para ajudá-lo; criaturas mais fortes que ele próprio, mais fiéis, mais úteis e totalmente devotadas a ele. A humanidade não está mais sozinha.”

O livro é ótimo e os contos são muito bons, mas houve alguns que me despertaram maior interesse. É o caso do conto Mentiroso!, onde um robozinho é capaz de ler pensamentos e passa a “mentir” para os cientistas, já que ao ser confrontado pela Primeira Lei, ele entende que há outras formas de se machucar um humano, e não apenas pelo modo físico. Assim, é bacana acompanhar a incredulidade dos cientistas envolvidos ao se deparar com essas outras possibilidade que até então não eram capaz de admitir serem possíveis. Outro em questão também é Um Robozinho Sumido. Nesse conto, após uma modificação proposital na Primeira Lei, o robô foge da U.S. Robots e some. Isso alarda todos, pois, se o mundo descobrisse que a empresa havia forjado suas próprias regras, o prestígio popular cairia e uma crise sem antecedentes se instalaria, podendo leva-la à falência.

Esse conto é, inclusive, a base de inspiração ao filme I, Robot, protagonizado pelo Will Smith. Em relação à isso, há muita controvérsia, e ou você gosta do filme ou você odeia-o. Os que odeiam dizem que o filme não foi fiel ao conto, que não segue a ideia do Asimov, etc etc. Mas como se sabe, é baseado,  e não adaptado. Logo, a premissa é as Três Leis e um robô que teve uma delas modificadas, mas o resto, é totalmente original do roteirista do filme, que ao meu ver, é muito boa e que soube usar bem os conceitos de Asimov. O roteiro do filme, inclusive, inicialmente se baseava nas histórias de Agatha Christie. Só mais tarde o projeto foi modificado e trazido para os moldes asimovianos. Dito isso, tanto o filme quanto o conto são duas histórias boas e independentes, e gostar das duas ou apenas de uma não interfere em nada.

“O Mestre criou os humanos primeiro como uma espécie inferior, feitos do modo mais fácil. Aos poucos, ele os trocou por robôs, a seguinte e mais elaborada etapa, e enfim me criou para ocupar o lugar dos últimos humanos. De agora em diante, eu sirvo o Mestre.”

Essa edição é de 2015 e está muito caprichosa. Há algum tempo atrás eu não gostava muito da capa, mas atualmente acho ela bela e minimalista, bem conveniente aos dias atuais. No final do livro há uma parte especial onde o autor conta mais sobre surgiu o seu amor por robôs, qual foi a primeira história que escreveu, ordem de publicação, e quando enfim ele se tornou um nome conhecido no mundo do sci-fi. É bem interessante essa parte pois nos conta em detalhes a carreira dele e como suas ideias futuristas mudaram o mundo da ficção científica. Afinal, hoje em dia Asimov é reconhecido como um dos principais nomes do gênero, ao lado de Arthur C. Clarke, Philip K. Dick e Robert Heinlein.

Eu, Robô foi o meu segundo contato com o autor. Anteriormente eu já tinha lido Pedra no Céu, primeiro livro da trilogia Império, que serve de porta de entrada para sua Magnum Opus, Fundação. Por coincidência, este também foi o primeiro romance escrito pelo autor. E é notável, nestas duas obras pelo menos, o cuidado que o autor tinha em tratar de temas mais tensos de forma simples e não tão invasiva, mas ao ponto de tornar a leitura reflexiva. Pode ser que, o futuro imaginado pelo autor ainda não tenha acontecido, mas sem dúvida, grande parte de suas ideias continuam moldado o mundo em que vivemos hoje, e, quem sabe um dia, teremos robôs andando livremente por aí, entre nós.

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EU, ROBÔ

Autor: Isaac Asimov

Editora: Aleph

Ano de publicação: 2014

Sensíveis, divertidos e instigantes, os contos de Eu, robô são um marco na história da ficção científica, seja pela introdução das célebres Leis da Robótica, pelos personagens inesquecíveis ou por seu olhar completamente novo a respeito das máquinas. Vivam eles na Terra ou no espaço sideral; sejam domésticos ou especializados, submissos ou rebeldes, meramente mecânicos ou humanizados, os robôs de Asimov conquistaram a cabeça e a alma de gerações de escritores, cineastas e cientistas, sendo até hoje fonte de inspiração de tudo o que lemos e assistimos sobre essas criaturas mecânicas.

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