Quem diria que um monstro se manteria por mais de 70 anos nas telonas. Estou falando, claro, do Godzilla, que se tornou um ícone do cinema mundial, o mais famoso dos kaijus, e protagonizou mais de 30 filmes, além de diversos jogos e quadrinhos. Pessoalmente nunca tinha assistido os filmes, e Godlzilla Minus One (2023) me intrigou mais pelo contexto histórico do que que por ser parte da franquia.

Dirigido e roteirizado por Takashi Yamazaki, o longa tem produção de Minami Ichikawa, Kazuaki Kishida, Keiichiro Moriya e Kenji Yamada. A fotografia é dirigida por Kôzô Shibasaki e a trilha sonora é de Naoki Sato. O resultado final é um drama na mesma medida singelo e profundo.

A trama acompanha Kōichi Shikishima (Ryunosuke Kamiki), um ex-piloto kamikase, durante o final da Segunda Guerra Mundial e a lenta recuperação social e econômica do Japão após o conflito. O jovem é assombrado pela culpa por ter sobrevivido, mas encontra uma chance em uma família inusitada; isso até o terrível Godzilla, uma suposta lenda, surgir e ameaçar destruir mais uma vez um país já arrasado.

A narrativa é surpreendente, sutil e inesperada. Certamente muito diferente de tudo que se poderia esperar de um filme de monstro, Godzilla Minus One expõe as consequências das monstruosidades que os próprios homens causam sobre si mesmos. Mas a crítica política talvez seja o mais impactante, ao lançar um olhar questionador sobre a experiência da população japonesa com a Segunda Guerra e da sua relação com as regras tradicionais de sacríficio absoluto em nome do país.

Entre a construção do cenário coletivo de tristeza e dificuldades e a mente devastada de Shikishima, o filme tira lágrimas da audiência mais de uma vez. A história de família, amor e amizade é lindamente elaborada em torno de personagens cativantes como Noriko Ōishi (Minami Hamabe), Sumiko Ōta (Sakura Ando) e Kenji Noda (Hidetaka Yoshioka), vários dos quais temos a oportunidade de acompanhar por um longo período. A fotografia detalhista e trilha sonora forte arrematam tudo.

O longa lança um novo olhar sobre a metáfora do Godzilla para as bombas atômicas ao lançar a luz sobre uma narrativa íntima sobre saúde mental, dever e esperança, e inserir o monstro como ainda mais um obstáculo e um momento de união, porém apenas na periferia da história. Isso particularmente me agradou muito, não só porque achei o arco central de Shikishima muito mais poderoso e emocionante, mas também porque achei a execução do Godzilla bastante fraca em diversos aspectos: não aprendemos sua origem e história, e, acima de tudo, achei a animação pouco convincente (especialmente o rosto da fera). Digo isso sem querer questionar os efeitos especiais do filme, que inclusive garantiram uma indicação ao Oscar; as cenas de ação e efeitos de destruição são espetaculares, só o Godzilla em si de perto que me distraiu bastante por parecer até um pouco infantilizado.

Esta próxima batalha não será travada até a morte, mas uma batalha para se viver para o futuro.

Não posso falar em relação à franquia, mas afirmo sem medo que Godzilla Minus One é um filme imperdível. Marcante de todas as formas certas, o longa surpreende constantemente sem recorrer a tantas reviravoltas, envolvendo e emocionando o público a cada momento. Apenas não recomendo entrar esperando um filme de ação, o que pode acabar sendo frustrante.

GODZILLA MINUS ONE

Diretor: Takashi Yamazaki

Elenco: Ryunosuke Kamiki, Minami Hamabe, Sakura Ando, Hidetaka Yoshioka, Yuki Yamada

Ano de lançamento: 2023

Devastado pela guerra, o Japão enfrenta uma nova crise na forma de um monstro gigante, o Godzilla.

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