A Lança do Deserto é o segundo livro da série Ciclo das Trevas do autor Peter V. Brett, lançado em 2016 pela editora Darkside books.

*Essa resenha contém spoilers do livro anterior

Sobre o livro

Jardir é um conquistador. Seu destino foi traçado, revisado a cada passo, e ele só pensa em avançar. Ele quer se a lenda daquele capaz de romper a escuridão, de expulsar os demônios. E para isso não medirá esforços para seguir em frente. Treinado desde jovem, veremos o seu progresso entre idas e vindas no tempo, enquanto esperamos que sua jornada se cruze com velhos conhecidos.

Em outra parte desse território, o Homem Pintado deixa olhares curiosos por onde passa; Lesha se impõe frente a tudo que aprendeu e ao poder que adquiriu e Rojer tenta encontrar o seu lugar na simplicidade de seu dom. E, toda noite, os demônios mais uma vez se levantam.


Minha Opinião

Certamente esse livro não começou como eu esperava. Houve uma desorientação inicial enquanto eu compreendia que primeiro seríamos apresentados a um personagem completamente diferente antes de retornarmos aos nossos velhos heróis. Então, já fique avisado. Há pelo menos metade do livro antes de Arlen, Lesha e Rojer – mais uma vez deixado de lado – voltarem ao centro, dividindo o palco com esse novo personagem. Novo, porém não tão novo assim, já que ele já tem um elo de ligação do um de nossos personagem, que eu tive que puxar levemente a memória até encaixar as peças.

Esse, porém, é um livro de jornada, mais lento e sem grandes acontecimentos. O que não quer dizer que nada acontece ou que o livro é ruim. Pra mim, essa é uma forma diferente de contar a história e ir apresentando grão a grão algo grandioso ao leitor. Eu acho super interessante o quanto algo assim e que parece tão simples vai se moldando a cada passo, e quando chegamos a um certo ponto, certos de que nada aconteceu, e há um grande circo armado pelos pequenos grãos anteriores. Pra fazer isso é preciso uma certa sutileza e ao mesmo tempo destreza pra não deixar a trama morrer.

“Os alagai eram abominações, escondidos da luz de Everam.”

Algo que também é muito bacana é a construção de Jardir. Teoricamente, ele deveria ser um vilão. Entretanto, há algo a mais em sua personalidade e na certeza da sua fé que faz com que aceitemos-o ao longo das páginas e, em certos momentos, até torcemos para que ele alcance seus objetivos. São duas formas diferentes de ver um mesmo problema e uma mesma solução, a questão é que ninguém quer abrir mão do “seu” jeito certo, colocando esse personagem e nossos antigos protagonistas em lados opostos.

Outra coisa notável é a quantidade de nomenclatura que é introduzida na primeira parte. É uma nova cultura, regida por regras e nomes diferentes, o que não ajuda a aplacar a confusão inicial de se ver seguindo um novo personagem em uma continuação. Contudo, aos poucos vamos nos acostumando com a lógica da sociedade Krasiana e não chega a ser um problema.

Há um número bem maior de narradores aqui, extrapolando os já mencionados, o que cria uma dúvida de porque certas pessoas estarem tendo voz se aparentemente eles não fazem conexão com a trama principal. Aguarde. Tudo vai se conectar. Não se se era porque já fazia um ano que eu tinha lido o primeiro livro, mas muitos nomes secundários tinham ficado para trás e eu não me dei conta de sobre quem estava sendo falado até que fosse explicitamente explicado. Pode ser algo meu, assim como pode ser uma artimanha do autor exatamente para causar o efeito de confusão e depois o de colisão, quando entendemos quem é quem. Também é interessante ficar atentos a uma das vozes, que certamente não pertence ao “time dos bons” e esta rondando e esperando o momento certo de dar o bote.

Eu tinha uma preocupação com um possível romance que se armou pra esse livro e ele felizmente não aconteceu. Em contra partida, não sei se aprovo o que se armou aqui também, pois pareceu ainda mais abrupto. Por outro lado, um casal que quase se formou por razões políticas teve a minha torcida, pois seria algo bem interessante de ver o desenrolar. Algumas das coisas que reclamei de O Protegido foram “explicadas” aqui, mas não recebi isso de forma completamente aceitável, portanto ainda tenho minhas ressalvas.

“Ele será marcado na carne nua e os demônios não suportarão a visão, e fugirão aterrorizados diante d’ele.”

Outro ponto que é importante é algo bastante comentado sobre essa série, que é a existência constante de estupros. Há aqui uma sociedade extremamente machista e patriarcal, o que é um reflexo da nossa própria sociedade, seja em tempos antigos ou atuais. E, muitos autores usam esse argumento para justificar a escolha, mesmo que tenhamos um mundo onde demônios nascem da terra e algo tão mais simples não poderia ser revisto. Desconsiderando isso e olhando a história como ela é, o que temos aqui é uma dobradinha de culturas que, em uma delas, nem mesmo os homens escapam da situação, sendo atacados para que o agressor possa denegrir a imagem alheia. Não é algo a se aplaudir, claramente, porém, dentro do contexto que o autor estabeleceu para a história, também não soa como algo absurdo de acontecer.

Ainda sendo um estilo de livro que se alinha com o que eu curto, fiquei com a sensação de que faltou algo que tornasse tudo grandioso, como essa história é em sua amplitude. Não gosto da forma como o livro acaba e da configuração ali estabelecida, novamente com um “casal”, mas tenho boas expectativas para A Guerra da Luz e o rumo que a narrativa vai tomar. De qualquer forma, acho que a jornada é super interessante e a leitura é recomendada a todos os fã do gênero.

A LANÇA DO DESERTO

Autor: Peter V. Brett

Editora: Darkside

Ano de publicação: 2016

O sol está se pondo sobre a humanidade. A noite agora pertence aos demônios vorazes, que se alimentam de uma população cada vez menor, obrigada a se esconder atrás de símbolos esquecidos de poder. As lendas falam de um Salvador: um general que certa vez reuniu toda a humanidade e derrotou os demônios. Mas seria o retorno do Salvador apenas mais um mito? Ahmann Jadir é o líder das tribos reunidas do deserto. Sua lança e sua coroa ancestrais são os argumentos de que precisa para proclamar a si mesmo Shar’Dama Ka, o Salvador. Os habitantes do norte discordam. Para eles, o Salvador não é outro senão Arlen Bales, Protegido. Houve um tempo em que Shar’Dama Ka e o Protegido eram amigos. Agora são adversários violentos e cruéis. Mesmo que antigas lealdades sejam colocadas à prova e novas alianças sejam criadas, a humanidade ainda não tem consciência do aparecimento de uma nova espécie de demônio, mais inteligente e mortal que todos os que existiam até então. Ainda existe luz na escuridão.

Relacionados

Destaques

Insta
gram

[jr_instagram id='3']

Parceiros