Atenção!

O livro conterá cenas de machismo e violência.

Se Esse Rosto Fosse Meu de Francis Cha estreou originalmente em 2020, no Brasil, é um lançamento de 2023 pela Darkside Books.

Sobre o livro

O livro conta, em capítulos alternados, a vida de quatro mulheres sul-coreanas: Kyuri, que trabalha como acompanhante em um “room salon” conhecido pela beleza de suas funcionárias; Ara, uma cabelereira obcecada por um idol; Miho, uma artista de passado humilde; e Wonna, uma mulher casada em crise por conta das tentativas frustradas de engravidar.

Mesmo com vidas e personalidades tão diferentes, suas vivências giram em torno de um tema em comum: as expectativas e exigências de uma sociedade patriarcal, principalmente como ditam sua relação com sua beleza.


Minha opinião

Apesar de ter situações focadas nas particularidades das experiências de mulheres sul-coreanas, Se Esse Rosto Fosse Meu pode conversar muito bem qual qualquer pessoa.

Como muitos livros centrados em vivências diferentes da nossa, é necessário dar um passo para trás e se lembrar das diversas outras culturas existentes que não necessariamente se encaixam no que consideramos mainstream ou em nossos ideais. Ao invés de focar na frustração que certas situações causam, a leitura de narrativas como essa podem ser mais interessantes quando fazemos o esforço de enxergar além do filtro de nossas próprias experiências e opiniões, por mais difícil que seja.

Digo isso porque, em vários momentos, esse livro me fez pensar: “nossa, mas já não avançamos mais nesse tipo de discussão?”. Pois a verdade é que não. Esse livro me fez lembrar como coisas tão simples como sua beleza podem e são usadas contra você, como essa coisa tão pequena é um passo para problemas absurdos e preconceitos.

O momento que dá nome ao livro resume de forma muito clara a relação estranha com a beleza e os privilégios que vem com ela.

“Eu viveria sua vida muito melhor se esse rosto fosse meu.” (tradução livre)

A conversa sobre cirurgias plásticas foi o que mais me marcou. Estava acostumada a enxergar apenas os resultados, seus sucessos e fracassos – que por algum motivo ainda nos achamos no direito de julgar – e muitas vezes ignorava o processo, a dor terrível e as razões nada superficiais que levam as pessoas a desejar mudar sua aparência.

É interessante como a autora nos dá a oportunidade, na personagem sem ponto de vista, Sujin, de ver do lado de fora a vida de alguém que está desesperado para fazer cirurgias, que vê nisso uma oportunidade de melhorar de vida, oferecendo nossa chance de julgar e opinar como se estivéssemos ali

É um livro mais introspectivo do que repleto de ação, apesar de não ser isento de momentos dramáticos. A decisão da autora de colocar vários pontos de vista ajuda a ampliar sua mensagem para contextos diferentes, infelizmente, o livro falha em manter o mesmo ritmo e interesse dos leitores sobre suas protagonistas.

A história de Miho, principalmente, se perdeu em dramas grandes demais que as vezes a desconectavam do tema principal da história. Ara também poderia ter sido mais explorada, com seu passado complexo e a relação obsessiva com o artista. A verdadeira estrela da história é Kyuri, com sua vida de certos luxos materiais, mas um trabalho desafiador cujas especificidades não são muito abordadas pela mídia mais popular.

Se Esse Rosto Fosse Meu é uma história que faz refletir sobre as pressões do casamento e maternidade, amizade, família e, acima de tudo, o papel e a importância que damos a beleza.

SE ESSE ROSTO FOSSE MEU

Autor: Frances Cha

Tradução: Aline Naomir

Editora: DarkSide

Ano de publicação: 2023

Kyuri trabalha como acompanhante em um bar de Seul, onde entretém homens de negócios enquanto eles bebem. Sua colega de quarto, Miho, é uma artista talentosa que cresceu em um orfanato, mas ganhou uma bolsa de estudos para estudar arte em Nova York. No corredor do prédio em que moram vive Ara, uma cabeleireira obcecada pelo integrante de um grupo de k-pop e que se preocupa com uma amiga que está guardando dinheiro para a cirurgia plástica que, acredita ela, vai mudar sua vida. E Wonna, que vive no andar de baixo, é uma recém-casada tentando engravidar em uma economia brutal.

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