Os filmes da parceria Disney-Pixar são parte inerente da infância de quem, como eu, cresceu nos anos 2000. Por isso, apesar das produções recentes não terem sido tão marcantes quanto os clássicos dos estúdios, não havia como deixar passar a oportunidade de assistir a Elementos ainda nos cinemas. E, no final, não poderia ter sido mais feliz na decisão.

O longa de Peter Sohn conta com produção de Denise Ream e produção executiva de Pete Docter, em um roteiro assinado por Sohn, John Hoberg, Kat Likkel, e Brenda Hsueh. A supervisão de efeitos visuais é de Sanjay Bakshi (O Bom Dinossauro, Dois Irmãos: Uma Jornada Fantástica).

A história traz um mundo composto por seres feitos dos quatro elementos, mais especificamente concentrados na Cidade Elemento, onde todos deveriam viver em harmonia. A família da adorável, porém um tanto esquentada, protagonista, Faísca, são seres de fogo que imigraram para essa cidade, dispostos a encontrar uma vida nova com sua loja. Anos depois se passa a trama principal, quando, por acaso do destino e entre muitas confusões, Faísca conhece Gota, um menino d’água sensível e sociável que vira de ponta cabeça sua vida e seus sonhos até então perfeitamente planejados.

O óbvio é começar pelo visual, estonteante no macro e impressionante nos detalhes. Sejamos sinceros, o cenário da cidade é bastante reminiscente de Zootopia (2016), mas como a história aqui é bem mais intimista do que a aventura vivida pelos animais, o comparativo se torna menos direto. A construção do mundo é cheia de pequenas sacadas que trazem o mágico às coisas mais básicas de forma que parece “natural”, e esse é daqueles filmes que você simplesmente sabe que, se reassistir prestando atenção ao pano de fundo, terá diversas pequenas surpresas. Tudo isso se aplica também ao design de personagens, caricato de forma fofa, ainda assim sobrevivendo ao olhar mais detido.

Partindo para a trama, a primeira coisa a se fazer é reconhecer que é maravilhosamente clichê. Eu não esperava uma história de amor romântico, algo que nunca foi o enfoque dos filmes da Pixar, mas eu também não sabia que precisa de um romance com a delicadeza de storytelling do estúdio até assistir Elementos. É uma narrativa sem malícia, com humor na dose certa, previsível na totalidade mas surpreendente nas cenas individuais. Foi encantador desbravar o que eu já sabia que ia acontecer e ainda me sentir envolvida com os rumos do filme. E, olha, para os fãs de um amor proibido à lá opostos se atraem, esse foi genuinamente bem desenvolvido, com direito a muitos sorrisos bobos.

O que o romance tira de universalidade dessa história, a temática subliminar ancora na realidade. A metáfora para imigração, segregação, questões geracionais e, lógico, de respeito às diferenças fica bastante escancarada para o espectador mais maduro, mantendo uma superfície simples e divertida com a qual o público mais jovem pode se relacionar. E é esse equilíbrio que traz um charme todo particular.

Os personagens são bastante genuínos e retratam bem os arquétipos que representam. Faísca (Leah Lewis) traz excelentemente a pressão da filha que faria de tudo para agradar os pais, até mesmo abrir mão de sua vontade própria. Gota (Mamoudou Athie) é o garoto adorável, atrapalhado mas infinitamente gentil, que servirá de contraponto. Os pais de Faísca (Ronaldo Del Carmen e Sheila Vosough) são aqueles que só buscam o melhor para a filha, sem perceber que podem estar colocando pressão sobre ela. Tudo como manda o figurino, tudo bem executado. Sobre a atuação posso apenas deixar meus elogios à dublagem brasileira, cheia de adaptações maravilhosas.

Abraçe a chama enquanto ela brilha, porque ela não irá durar para sempre.

Assistir Faísca crescer em si mesma, abrindo espaço para se permitir ser quem ela queria ser de verdade, é doce e emocionante (e particularmente próximo para uma mulher na faixa dos 20 anos). Algo que acho que vale bastante o destaque é o respiro que esse filme traz ao centralizar a relação de uma jovem com o pai, ao invés de bater na mesma tecla da relação problemática entre figura materna e filha ou figura paterna e filho. Depois de Encanto (2021), Red (2022) e Mundo Estranho (2022), já estava mais do que na hora de mostrar uma relação de cumplicidade entre a protagonista e seus pais, e Elementos consegue fazer isso sem abrir mão de, como nos filmes citados, colocar como desenvolvimento da trama a transformação desse relacionamento em algo mais saudável por meio da sinceridade.

Elementos passa longe de ter o apelo universal de outros filmes da Pixar, mas, para quem estiver disposto a mergulhar de cabeça em algo simples e um tanto quanto meloso, tem-se aqui um prato cheio. Me emocionei mais de uma vez, além de terminar o filme em lágrimas de alegria. No fundo, é, como os demais longas de animação que nos marcaram: uma história sobre crescer e sobre a importância do amor, ainda que sem um vilão e com menos aventura do que estamos acostumados. Foi um sucesso maior para mim do que acredito que será para o público geral, mas mal posso esperar para reassistir.

ELEMENTOS

Diretor: Peter Sohn

Elenco: Leah Lewis, Mamoudou Athie, Ronaldo Del Carmen, Sheila Vosough, Wendi McLendon-Covey

Ano de lançamento: 2023

Em uma cidade onde os habitantes de fogo, água, terra e ar convivem, uma jovem mulher flamejante e um rapaz que vive seguindo o fluxo descobrem algo surpreendente, porém elementar: o quanto eles têm em comum.

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